Partidos cobram Renzi sobre relação com príncipe saudita

Pressão aumentou após relatório dos EUA sobre morte de Khashoggi

27 fev 2021 - 16h08

Após a divulgação do relatório de inteligência dos Estados Unidos, que acusa Mohammed bin Salman de autorizar o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoghi, membros de partidos italianos estão pressionando o ex-primeiro-ministro e líder do Itália Viva (IV), Matteo Renzi, a esclarecer suas relações com o príncipe herdeiro.

    A denúncia americana reacendeu, de fato, a polêmica sobre a participação de Renzi em um evento com o príncipe saudita em Riad, no mês passado. Na ocasião, o italiano usou um tom amistoso e declarou que a Arábia Saudita pode ser "o lugar para um novo Renascimento", em referência ao movimento artístico surgido em Florença, cidade da qual ele foi prefeito.

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    A postura do ex-premiê, no entanto, provocou uma repercussão negativa, à qual ele afirmou que responderia assim que terminasse a crise política que levou à renúncia do então primeiro-ministro Giuseppe Conte, mas ainda não se pronunciou.

    Desde ontem (26), membros do Partido Democrático (PD), do populista Movimento 5 Estrelas (M5S) e de siglas da esquerda italiana estão pedindo explicações.

    "Bin Salman é o ministro da defesa daquele país e Renzi é senador da comissão de defesa do nosso país. Ele havia prometido responder sobre sua relação com aquele regime. Bem, acho que é hora de responder. Ele havia prometido fazê-lo depois que a crise do governo terminasse. Pois é, a crise do governo já passou há muito tempo", declarou o secretário nacional da esquerda italiana, Nicola Fratoianni, em um vídeo publicado no Facebook.

    Para Peppe Provenzano, vice-presidente dos deputados do PD, o esclarecimento de Renzi "não é apenas uma questão de oportunidade, mas de interesse nacional". "É útil para um senador da República, que desempenhou um papel importante no nascimento deste governo, esclarecer realmente as suas relações".

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    O Movimento 5 Estrelas também pressionou o ex-primeiro-ministro, com Gianluca Ferrara , líder do grupo na comissão de Relações Exteriores do Senado.

    "Renzi deveria se envergonhar e se desculpar publicamente. Seu amigo, príncipe saudita Mohammed bin Salman, a quem definiu de campeão do novo Renascimento, foi oficialmente reconhecido pelos Estados Unidos como responsável pelo bárbaro assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, morto e literalmente dilacerado em pedaços por ter criticado sua monarquia. Coisas dignas da mais negra Idade Média, além da Renascença", declarou o membro do M5S em nota.

    Por sua vez, a ex-ministra das Relações Exteriores, Emma Bonino, disse que "lutar contra a impunidade pelo assassinato de Jamal também significa não legitimar o modelo de repressão generalizada contra vozes independentes ou dissidentes que se intensificou desde que Mohammed Bin Salman chegou ao poder".

    "Estas novas revelações devem nos levar a uma reflexão fundamental sobre as nossas relações, nacionais e da União Europeia, com o reino saudita, e temos feito bem, no entretanto, suspender as licenças de venda de armas àquele país. A impunidade de Mohammed Bin Salman não pode mais ser tolerada", ressaltou.

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    Renzi participa do conselho da "Iniciativa de Investimentos Futuros (FII), da monarquia saudita, criado com o objetivo de levar ao reino os mais importantes protagonistas das finanças e da economia mundial. No entanto, em 2018, a maioria dos convidados abandonou o evento logo após o brutal assassinato de Khashoggi.

  
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