ONU vai retomar negociações sobre poluição dos plásticos em meio a desafios para países em desenvolvimento

Começa em Genebra, nesta terça-feira (5), uma nova sessão de negociações das Nações Unidas sobre a poluição dos plásticos, que se tornou uma questão sanitária relevante para a preservação do planeta. Representantes de quase 180 países irão debater medidas para reduzir a produção desse material poluente e aumentar a reciclagem, com a ambiciosa missão de negociar o primeiro tratado mundial para eliminar a poluição dos plásticos.

4 ago 2025 - 13h17
(atualizado às 14h08)

Começa em Genebra, nesta terça-feira (5), uma nova sessão de negociações das Nações Unidas sobre a poluição dos plásticos, que se tornou uma questão sanitária relevante para a preservação do planeta. Representantes de quase 180 países irão debater medidas para reduzir a produção desse material poluente e aumentar a reciclagem, com a ambiciosa missão de negociar o primeiro tratado mundial para eliminar a poluição dos plásticos. 

A taxa de reciclagem é de menos de 10% dos resíduos plásticos, e metade da produção mundial é de plásticos descartáveis, ou seja, de uso único.
A taxa de reciclagem é de menos de 10% dos resíduos plásticos, e metade da produção mundial é de plásticos descartáveis, ou seja, de uso único.
Foto: AFP - ERIC PIERMONT / RFI

Em 1950, eram produzidas 2 milhões de toneladas de plástico no mundo. Em 2022, esse número saltou para 475 milhões e pode triplicar, ultrapassando 1 bilhão de toneladas até 2060, caso as tendências atuais se mantenham, segundo as projeções da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A indústria do plástico é responsável por 4% das emissões de CO₂ no mundo. 

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Além disso, a quantidade de resíduos plásticos no solo, em rios, nos picos das montanhas e oceanos dobrará até 2040, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que coordena as negociações da ONU. 

A constatação levou a organização a lançar, há três anos, um ciclo de negociações para tentar conter a poluição dos plásticos. Em dezembro de 2024, uma rodada organizada em Busan, na Coreia do Sul, presidida pelo diplomata equatoriano Luis Vayas Valdivieso, foi considerada um fracasso, depois que um grupo de países produtores de petróleo, incluindo a Arábia Saudita, o Irã e a Rússia, bloqueou qualquer avanço por interesses comerciais.

"Apenas um quarto das moléculas plásticas foi objeto de avaliação científica, pois seu número está em constante evolução. No entanto, desse quarto, dois terços são problemáticos em termos de toxicidade direta, ou seja, sem levar em conta os efeitos combinados", explica ao veículo francês Les Echos Henri Costa-Bourgeois, diretor de assuntos públicos da Fundação Tara, dedicada ao oceano, sediada em Paris. 

Após o fracasso em Busan, o equatoriano Valdivieso publicou um projeto de resolução com mais de 300 pontos de divergência que deverão ser negociados até 14 de agosto, antes da conclusão do tratado. O ponto mais difícil é decidir se haverá, ou não, uma limitação à produção de plásticos novos.

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Por enquanto, as negociações estão apenas na fase de redação de um tratado internacional, que deverá ser ratificado para se tornar operacional e com base legal para ser cumprido. "No momento, quase todo o texto está ainda sujeito a alterações", destaca Henri Costa-Bourgeois, o que significa que a versão definitiva ainda está muito distante. 

Contexto complexo para países em desenvolvimento

Apesar da extrema complexidade da negociação, que afeta interesses antagônicos - produtos químicos ou desenvolvimento econômico contra o meio ambiente e a saúde -, "é bastante provável sair de Genebra com um tratado", declarou recentemente a dinamarquesa Inger Andersen, diretora-executiva do PNUMA. 

"O contexto é difícil", acrescentou uma fonte diplomática que pediu anonimato, "já que não se pode descartar completamente o que está acontecendo em outros âmbitos do multilateralismo, como o novo papel dos Estados Unidos ou os Brics, que estão trabalhando para se reorganizar". 

Os desafios "atraem muita atenção dos países em desenvolvimento, seja porque são produtores de plástico com alto risco de impacto em suas economias, se o tratado for adotado ou porque sofrem com a poluição e exigem responsabilidades", ressaltou a mesma fonte. 

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Plástico, saúde e meio ambiente 

O crescimento do uso do material se explica pelas suas utilidades variadas. O plástico está presente em todos os aspectos do nosso cotidiano e em diversos setores: saúde, construção civil, indústria automobilística, aeronáutica, mobiliário, alimentação, entre outros. Em contrapartida, a taxa de reciclagem é de menos de 10% dos resíduos plásticos, e metade da produção é de plásticos descartáveis. 

Com a decomposição em micro e nanoplásticos que contaminam os ecossistemas, os polímeros penetram no sangue e nos órgãos humanos, segundo estudos recentes. As consequências, ainda desconhecidas para a saúde das gerações atuais e futuras, são denunciadas por um grupo de quase 450 cientistas de 65 países que acompanham os debates. 

Outro ponto delicado é a elaboração de uma lista de produtos químicos considerados "problemáticos" para a saúde ou o meio ambiente: os PFAS - conhecidos como 'poluentes eternos' -, os disruptores endócrinos, os ftalatos e os bisfenóis, entre outros. 

"O caminho mais provável é um esboço que será chamado de tratado, mas que precisará de financiamento, coragem e alma para ser realmente eficaz", declarou à AFP Bjorn Beeler, diretor da Rede Internacional de Eliminação de Poluentes (IPEN), com sede na Suécia.

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RFI com AFP

A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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