Itália apura desaparecimento de médica após suposto bullying

Sara Pedri teria sido alvo de agressões verbais no hospital

16 jul 2021 - 19h55

As autoridades da Itália estão apurando há pelo menos quatro meses o misterioso desaparecimento de uma médica italiana supostamente alvo de uma série de comportamentos agressivos no local de trabalho.

Sara Pedri teria sido alvo de agressões verbais no hospital
Sara Pedri teria sido alvo de agressões verbais no hospital
Foto: ANSA / Ansa - Brasil

Sara Pedri é ginecologista do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do hospital Santa Chiara, em Trento, e está desaparecida desde 4 de março, quando seu carro vazio foi encontrado em Val di Non, no norte do país, entre duas estradas estaduais próximas a uma ponte sobre o rio Noce.

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A polícia localizou dentro do automóvel a bolsa e o celular da doutora, o que acabou direcionando o caso para uma suspeita de abuso e bullying no centro médico onde Pedri trabalhava.

O chefe do departamento, Saverio Tateo, está no centro da investigação interna do hospital, já que as autoridades suspeitam que os líderes do setor não eram respeitosos com os funcionários - médicos e enfermeiros -, e o clima em geral era de tensão e as humilhações e punições frequentes.

O caso fez o ministro da Saúde da Itália, Roberto Speranza, iniciar uma fiscalização no hospital Santa Chiara e a promotora Licia Scagliarini abrir um processo para averiguação.

Natural de Forlì, Pedri se formou na universidade em Catanzaro e foi encaminhada para o hospital de Trento em 2020. Os problemas no ambiente de trabalho, porém, começaram cedo.

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Segundo Emanuela, irmã da médica, ela vivia em constante estado de ansiedade e havia emagrecido excessivamente. Além disso, Pedri teria dito que "foi ofendida e abusada verbalmente com palavras pesadas". "Começou a ficar apavorada, dizendo que não conseguia nem segurar o bisturi na mão", relata.

Cerca de um mês e meio antes de seu desaparecimento, a ginecologista apresentou um atestado de 15 dias devido à "perda de peso e estresse no trabalho", mas depois de apenas uma semana, no entanto, ela voltou à enfermaria por medo de retaliação, de acordo com sua irmã.

Em 3 de março, Pedri pediu demissão e teria afirmado aos seus colegas que se livrou de "um fardo enorme". No dia posterior, porém, ela desapareceu.

As reclamações públicas da irmã e da mãe da ginecologista levaram o hospital a iniciar uma investigação interna, que provocou a demissão do médico chefe. Ao todo, 110 profissionais de saúde prestaram depoimento.

No relatório foi escrito que emergiram "fatos objetivos e uma situação crítica da enfermaria que tornam necessárias medidas decisivas para proteger a serenidade dos doentes, de todos os operadores envolvidos e salvaguardar o bom funcionamento do Departamento".

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Antes do caso envolvendo Pedri, outros seis funcionários do departamento de Ginecologia e Obstetrícia já haviam recorrido a dois advogados para denunciar "a situação de grave desconforto em que foram obrigados a trabalhar".

De acordo com os relatos, o diretor-geral da Autoridade Sanitária do Trentino, Pierpaolo Benetollo, também tinha conhecimento da situação. Após o caso vir à tona, ele renunciou ao cargo depois de ser acusado de nunca ter notificado a Secretaria de Saúde ou o Conselho Regional.

"A conduta baseada em atitudes muitas vezes opressoras criou em mim, como em muitos outros, um profundo sofrimento. Também houve insultos e ameaças. Ouvi uma enfermeira dizer: 'Vou acabar com você'", contou uma das testemunhas ouvidas durante o inquérito interno.

A promotoria regional também coletou os dados do telefone encontrado no carro, além de ouvir os depoimentos de colegas de Pedri para confirmar uma das notícias veiculadas pelos jornais italianos. Conforme algumas publicações, Pedri levou tapas nas mãos enquanto segurava um bisturi e depois foi retirada da sala de cirurgia.

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A Ordem dos Médicos também foi acionada e explicou que, até o final de julho, irá avaliar as denúncias para a instauração de um processo disciplinar contra alguns profissionais do centro médico.

Enquanto isso, a polícia italiana continua as buscas por Pedri, mas os investigadores têm pouca esperança de encontrá-la ainda com vida. O trabalho das equipes se concentra nas águas do Lago Santa Giustina, por onde corre o rio Noce.

  
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