Os iraquianos vão às urnas nesta terça-feira (11) para escolher um novo Parlamento, em meio a expectativas modestas de mudança e forte vigilância internacional. Com mais de 21 milhões de eleitores convocados, o pleito ocorre sob influência direta de Teerã e Washington, e pode redefinir o equilíbrio político interno após anos de instabilidade, corrupção e serviços públicos precários. A ausência do líder xiita Moqtada al-Sadr marca o cenário eleitoral.
O Iraque realiza nesta terça-feira (11) suas eleições parlamentares, convocando mais de 21,4 milhões de eleitores para escolher os 329 deputados que ocuparão o Legislativo pelos próximos quatro anos. Apesar da estabilidade relativa dos últimos anos, o clima é de ceticismo entre a população, que convive com infraestrutura precária, serviços públicos falhos e corrupção endêmica.
Desde as primeiras horas da manhã, líderes políticos locais votaram em Bagdá, mas a participação popular foi baixa. Correspondentes de agências estrangeiras relataram ruas vazias e centros de votação com pouco movimento, mesmo em grandes cidades.
"Todo mundo gasta muito dinheiro para ganhar votos, o que mostra que meu voto tem valor", disse o funcionário público Mohammed Mehdi, em Bagdá.
O sistema eleitoral reserva 25% das cadeiras para mulheres e nove para minorias religiosas. Dos mais de 7.700 candidatos registrados, apenas 75 são independentes, o que reforça a percepção de que a disputa favorece os grandes partidos.
A divisão de poder segue o modelo pós-2003: o presidente é sempre curdo, o primeiro-ministro, xiita, e o presidente do Parlamento, sunita.
O atual premiê, Mohammed Shia al-Sudani, busca a reeleição com apoio de uma coalizão de partidos xiitas ligados ao Irã. Ele chegou ao cargo em 2022 após um impasse político que durou mais de um ano. Al-Sudani tem promovido uma agenda de reconstrução e combate à corrupção, tentando equilibrar relações com Teerã e Washington.
A ausência de Moqtada al-Sadr, líder xiita que venceu as eleições de 2021, mas renunciou ao Parlamento após não conseguir formar governo, é um dos fatores que tornam o pleito imprevisível. Sadr classificou a eleição como "dominada por interesses sectários e partidários" e pediu boicote aos seus seguidores.
Na região autônoma do Curdistão, a disputa entre o Partido Democrático do Curdistão (PDK) e a União Patriótica do Curdistão (UPK) continua acirrada. Já entre os sunitas, o ex-presidente do Parlamento Mohamed al-Halboussi aparece como favorito.
Histórico de fragmentação
Desde a queda de Saddam Hussein em 2003, o Iraque passou por seis eleições parlamentares. O sistema político foi redesenhado para garantir representatividade entre xiitas, sunitas e curdos, mas a fragmentação e os acordos de bastidores continuam a dominar o processo.
As eleições de 2021 foram vencidas pelo bloco sadrista, grupo político liderado pelo influente clérigo xiita iraquiano Moqtada al-Sadr, mas a tentativa de formar um governo majoritário fracassou, levando à renúncia em massa dos deputados ligados a ele. Isso abriu espaço para a coalizão pró-Irã conhecida como "Quadro de Coordenação", que levou al-Sudani ao poder.
A atual eleição ocorre em um contexto de tensão regional. O Irã, enfraquecido após perdas estratégicas no Líbano, Palestina, Iêmen e Síria, busca manter sua influência no Iraque.
Os Estados Unidos, por sua vez, mantêm cerca de 2.500 soldados no país e pressionam por desarmamento de milícias pró-iranianas. A administração Trump nomeou um enviado especial, Mark Savaya, que defende um Iraque livre de "ingerências estrangeiras maliciosas".
A participação popular tem diminuído a cada eleição. Em 2021, o índice foi de apenas 41%. A desilusão com a política, especialmente entre os jovens, é alimentada por promessas não cumpridas, desemprego e falta de serviços básicos, apesar da riqueza petrolífera do país.
O resultado do pleito pode redefinir alianças internas e externas, influenciar o equilíbrio entre os blocos religiosos e étnicos, e determinar o futuro da presença iraniana e norte-americana no país.
Com AFP