Iraque vota para renovar Parlamento em eleição marcada por boicote, apatia e pressão dos EUA e Irã

Os iraquianos vão às urnas nesta terça-feira (11) para escolher um novo Parlamento, em meio a expectativas modestas de mudança e forte vigilância internacional. Com mais de 21 milhões de eleitores convocados, o pleito ocorre sob influência direta de Teerã e Washington, e pode redefinir o equilíbrio político interno após anos de instabilidade, corrupção e serviços públicos precários. A ausência do líder xiita Moqtada al-Sadr marca o cenário eleitoral.

11 nov 2025 - 06h33

Os iraquianos vão às urnas nesta terça-feira (11) para escolher um novo Parlamento, em meio a expectativas modestas de mudança e forte vigilância internacional. Com mais de 21 milhões de eleitores convocados, o pleito ocorre sob influência direta de Teerã e Washington, e pode redefinir o equilíbrio político interno após anos de instabilidade, corrupção e serviços públicos precários. A ausência do líder xiita Moqtada al-Sadr marca o cenário eleitoral.

Eleitor curdo vota em uma seção eleitoral na cidade de Sulaimaniyah, no norte do Curdistão iraquiano, durante as eleições parlamentares do Iraque.
Eleitor curdo vota em uma seção eleitoral na cidade de Sulaimaniyah, no norte do Curdistão iraquiano, durante as eleições parlamentares do Iraque.
Foto: AFP - SHWAN MOHAMMED / RFI

O Iraque realiza nesta terça-feira (11) suas eleições parlamentares, convocando mais de 21,4 milhões de eleitores para escolher os 329 deputados que ocuparão o Legislativo pelos próximos quatro anos. Apesar da estabilidade relativa dos últimos anos, o clima é de ceticismo entre a população, que convive com infraestrutura precária, serviços públicos falhos e corrupção endêmica.

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Desde as primeiras horas da manhã, líderes políticos locais votaram em Bagdá, mas a participação popular foi baixa. Correspondentes de agências estrangeiras relataram ruas vazias e centros de votação com pouco movimento, mesmo em grandes cidades.

"Todo mundo gasta muito dinheiro para ganhar votos, o que mostra que meu voto tem valor", disse o funcionário público Mohammed Mehdi, em Bagdá.

O sistema eleitoral reserva 25% das cadeiras para mulheres e nove para minorias religiosas. Dos mais de 7.700 candidatos registrados, apenas 75 são independentes, o que reforça a percepção de que a disputa favorece os grandes partidos. 

A divisão de poder segue o modelo pós-2003: o presidente é sempre curdo, o primeiro-ministro, xiita, e o presidente do Parlamento, sunita.

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O atual premiê, Mohammed Shia al-Sudani, busca a reeleição com apoio de uma coalizão de partidos xiitas ligados ao Irã. Ele chegou ao cargo em 2022 após um impasse político que durou mais de um ano. Al-Sudani tem promovido uma agenda de reconstrução e combate à corrupção, tentando equilibrar relações com Teerã e Washington.

A ausência de Moqtada al-Sadr, líder xiita que venceu as eleições de 2021, mas renunciou ao Parlamento após não conseguir formar governo, é um dos fatores que tornam o pleito imprevisível. Sadr classificou a eleição como "dominada por interesses sectários e partidários" e pediu boicote aos seus seguidores.

Na região autônoma do Curdistão, a disputa entre o Partido Democrático do Curdistão (PDK) e a União Patriótica do Curdistão (UPK) continua acirrada. Já entre os sunitas, o ex-presidente do Parlamento Mohamed al-Halboussi aparece como favorito.

Histórico de fragmentação

Desde a queda de Saddam Hussein em 2003, o Iraque passou por seis eleições parlamentares. O sistema político foi redesenhado para garantir representatividade entre xiitas, sunitas e curdos, mas a fragmentação e os acordos de bastidores continuam a dominar o processo.

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As eleições de 2021 foram vencidas pelo bloco sadrista, grupo político liderado pelo influente clérigo xiita iraquiano Moqtada al-Sadr, mas a tentativa de formar um governo majoritário fracassou, levando à renúncia em massa dos deputados ligados a ele. Isso abriu espaço para a coalizão pró-Irã conhecida como "Quadro de Coordenação", que levou al-Sudani ao poder.

A atual eleição ocorre em um contexto de tensão regional. O Irã, enfraquecido após perdas estratégicas no Líbano, Palestina, Iêmen e Síria, busca manter sua influência no Iraque.

Os Estados Unidos, por sua vez, mantêm cerca de 2.500 soldados no país e pressionam por desarmamento de milícias pró-iranianas. A administração Trump nomeou um enviado especial, Mark Savaya, que defende um Iraque livre de "ingerências estrangeiras maliciosas".

A participação popular tem diminuído a cada eleição. Em 2021, o índice foi de apenas 41%. A desilusão com a política, especialmente entre os jovens, é alimentada por promessas não cumpridas, desemprego e falta de serviços básicos, apesar da riqueza petrolífera do país.

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O resultado do pleito pode redefinir alianças internas e externas, influenciar o equilíbrio entre os blocos religiosos e étnicos, e determinar o futuro da presença iraniana e norte-americana no país.

Com AFP

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