Turquia chama embaixador no Vaticano por declarações do Papa

Incidente diplomático aconteceu depois de o Papa ter usado a palavra “genocídio” para descrever o massacre dos armênios na 1ª Guerra Mundial

13 abr 2015 - 05h54
(atualizado às 08h07)
Turquia chama embaixador no Vaticano para consultas sobre declarações do papa
Turquia chama embaixador no Vaticano para consultas sobre declarações do papa
Foto: Osman Orsal / Reuters

O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, considerou hoje “parciais” e “inapropriadas” as declarações do papa sobre o genocídio armênio.

“Abordar estes acontecimentos dolorosos de forma parcial é inapropriado por parte do papa e da autoridade que representa”, declarou Davutoglu na televisão, quando a Turquia anunciou ter convocado para consultas o seu embaixador no Vaticano.

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A decisão de Ancara constituiu um novo passo no incidente diplomático suscitado depois de o Papa ter usado a palavra “genocídio” para descrever o massacre dos armênios na 1ª Guerra Mundial.

“O nosso embaixador no Vaticano, Mehmet Pacaci, foi chamado à Turquia para consultas”, informou em comunicado o Ministério dos Negócios Estrangeiros turco, para explicar as palavras do papa.

Repetindo declarações feitas também hoje pelo chefe da diplomacia turca, Mevlut Cavusoglu, o comunicado afirma que as palavras do papa Francisco são “incompatíveis com os fatos legais e históricos”.

O texto acusa o papa de ter uma “visão seletiva” da 1ª Guerra Mundial e de “ignorar as atrocidades sofridas pelos povos turcos e muçulmanos que perderam a vida” para beneficiar cristãos e armênios.

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As palavras do papa, prossegue o texto, são “um desvio grave” da mensagem de paz e reconciliação que levou à Turquia na visita que fez ao país em novembro de 2014.

O papa Francisco usou hoje a palavra “genocídio” para descrever o massacre dos armênios pelas forças do Império Otomano durante a 1ª Guerra Mundial.

“No século passado, a humanidade passou por três tragédias sem precedentes. A primeira, que foi largamente considerada como ‘o primeiro genocídio do século 20, atingiu o povo armênio”, disse Francisco numa missa na Basílica de São Pedro, em Roma.

“As duas outras [tragédias humanas] foram praticadas pelo nazismo e pelo estalinismo. E mais recentemente outros extermínios de massa, como no Camboja, em Ruanda, Burundi ou  na Bósnia”, acrescentou, citando pelas agências internacionais de notícias.

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As declarações do papa foram feitas na abertura de uma missa em memória dos armênios massacrados entre 1915 e 1917, concelebrada com o patriarca armênio e na presença do presidente da Armênia, Serzh Sargsyan.

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Segundo a agência France-Presse, o papa João Paulo II usou o termo “genocídio” num documento assinado em 2000 com o patriarca armênio, mas esta é a primeira vez que um papa fala publicamente.

Milhares de armênios foram deportados e massacrados pelo império otomano durante a 1ª Guerra Mundial, fatos reconhecidos como genocídio por mais de 20 países mas nunca pela Turquia.

Segundo a Armênia, 1,5 milhões de pessoas foram perseguidas e mortas, enquanto, para a Turquia, o número de armênios mortos não supera os 500 mil e enquadra-se nos combates que se sucederam ao levantamento das populações armênias contra os otomanos.

Agência Brasil
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