Paris segue em 2025 como um dos mercados de aluguel mais disputados da Europa. Com oferta insuficiente de imóveis pequenos e preços altos em quase todos os bairros, a corrida por moradias faz com que até profissionais com renda acima da média encontrem dificuldades para fechar contratos estáveis. A crise é tema recorrente em reportagens e análises sobre a capital francesa.
Após ter sido implementado uma vez entre 2014 e 2017, o sistema de controle de aluguéis, conhecido como encadrement des loyers, voltou a ser aplicado em Paris em julho de 2019 em dezenas de cidades francesas. O dispositivo procura limitar aumentos excessivos de preços, especialmente em áreas centrais onde a demanda supera a oferta há anos. O efeito é heterogêneo, com resultados variando conforme o bairro e o tipo de imóvel.
Na prática, o controle encontra obstáculos. Levantamentos de anúncios imobiliários mostram que muitas ofertas ainda superam os limites legais, em parte por taxas complementares ou condições particulares que escapam à regulamentação. Isso contribui para que o custo efetivo da locação continue alto, apesar das regras existentes.
Um dado emblemático do momento é a exigência de renda dos futuros inquilinos em algumas propostas de aluguel. Para um apartamento de dois cômodos (T2) — normalmente com ~35 a 50 m² de área útil — análises do mercado e de instituições como a OCDE relatam que, em bairros disputados, pode ser necessário comprovar salário mensal próximo a € 7 mil (cerca de R$ 42 mil, na cotação atual), seguindo a regra de mercado de exigir rendimentos equivalentes a pelo menos três vezes o valor do aluguel. Esses valores não se aplicam a todos os T2 de Paris, mas ilustram a seletividade do mercado em áreas centrais e valorizadas. A concorrência leva proprietários a selecionar perfis de alta renda, excluindo grande parte da classe média e reforçando tensões sociais.
Direito à moradia
A pressão sobre os inquilinos encontra respaldo na opinião pública. Uma pesquisa do instituto Ipsos para a Fundação pelo Direito à Moradia revela que 87% dos entrevistados apoiam o controle de aluguéis, incluindo 85% dos próprios proprietários — um dado usado pelos defensores da medida para rebater críticas de rejeição generalizada.
Nesse contexto, uma proposta de lei apresentada pelo deputado Iñaki Echaniz, do Partido Socialista (esquerda), está sendo discutida na Assembleia Nacional da França. O projeto pretende tornar permanente o sistema de controle de aluguéis e permitir sua aplicação em todas as cidades consideradas com mercado imobiliário tensionado.
O texto também regulamenta os chamados "complementos de aluguel", limita seu valor e endurece sanções para proprietários que descumprem regras. Segundo o relatório dos parlamentares Echaniz e Annaïg Le Meur, do partido Renaissance (centro liberal ligado ao presidente Emmanuel Macron), o dispositivo "funcionava e merecia ser mantido".
O governo francês, representado pelo ministro da Cidade e da Habitação, Vincent Jeanbrun (associado à direita conservadora), preferiu aguardar os resultados de um estudo econômico antes de apoiar a proposta. Já a prefeitura de Paris — liderada pela esquerda — defende a permanência do controle, destacando uma economia média anual de € 1.694 para locatários graças ao mecanismo.
As posições seguem polarizadas: entidades de proprietários e profissionais do mercado, ligadas ao centro liberal e à direita, criticam a proposta por supostamente reduzir a oferta locativa; associações de defesa dos inquilinos, apoiadas por partidos de esquerda e esquerda radical, defendem a manutenção e o fortalecimento do controle como forma de proteger o poder de compra das famílias.
Com agências