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Após morte de suposto mentor de ataques em Paris, as questões ainda em aberto

20 nov 2015 - 12h18

A França e outros países estão em alerta máximo após os ataques em Paris na semana passada, que deixaram 129 mortos e centenas de feridos.

O presidente francês, François Hollande, disse que a França está "em guerra" contra o grupo autodenominado Estado Islâmico, que assumiu a autoria dos ataques.

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Nesta sexta-feira, promotores afirmaram que um terceiro corpo foi encontrado no apartamento em Saint-Denis alvo de uma megaoperação policial após os ataques da semana passada.

O corpo foi identificado como sendo de Hasna Aitboulahcen, de 26 anos. Hasna, que seria prima do belga de origem marroquina Abdelhamid Abaaoud, suposto mentor dos atentados, se explodiu em confronto com a polícia.

Abaaoud foi morto durante a operação.

Veja abaixo o impacto internacional dos ataques e as lições que autoridades estão tirando do episódio.

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Os ataques já terminaram?

Ainda é cedo para dizer. Mas houve um avanço na quinta-feira: foi confirmado que o suposto mentor dos ataques, o militante do EI Abdelhamid Abaaoud, foi morto em uma operação policial em Saint Denis, no norte de Paris.

Suas impressões digitais foram oficialmente identificadas dos restos encontrados no apartamento em Saint Denis, onde um grupo de militantes resistiu a uma operação policial na quarta-feira.

A França está à procura de outro importante suspeito - Salah Abdeslam, que alugou um dos carros usados nos ataques. Brahim, irmão de Salah, se detonou no Boulevard Voltaire nos ataques de sexta-feira.

A imprensa francesa informou que nove militantes realizaram os ataques, e sabe-se que sete deles morreram na noite de sexta-feira. É possível, então, que outro autor, assim como Salah Abdeslam, esteja foragido.

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Houve informações de que os militantes mortos e detidos em Saint Denis com Abdelhamid Abaaoud planejavam atacar o distrito financeiro de La Defense e o aeroporto Charles de Gaulle, apesar de nenhuma prova ter sido apresentada.

Como os ataques foram planejados?

Autoridades francesas acreditam que o Estado Islâmico na Síria decidiu realizar os ataques, e que a operação foi planejada na Bélgica, provavelmente em Molenbeek, distrito de Bruxelas conhecido por problemas sociais, alto desemprego e grande número de imigrantes.

O EI disse que os militantes atacaram Paris para punir a França por seus ataques aéreos contra "muçulmanos nas terras do califado", referindo-se a áreas que controla no Iraque e na Síria. Eles chamaram Paris de "capital da abominação e da perversão".

Muitos moradores de Molenbeek são árabes, e há tempos a área é vista como reduto de propaganda e recrutamento jihadistas.

Ao menos três carros alugados na Bélgica foram usados nos ataques: um Seat preto, um VW Polo preto e um VW Golf.

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Investigadores suspeitam que os homens armados estiveram em casas em Saint Denis, Bobigny e Alfortville, na região de Paris.

Mas não está claro quando o grupo se reuniu para realizar os ataques. Outros elementos do plano também seguem desconhecidos. Gravações telefônicas e as armas apreendidas serão analisadas por investigadores para maiores informações.

Os ataques e as operações

Investigadores acreditam que três grupos de militantes bem organizados e coordenados estariam envolvidos nos ataques em Paris. Eles usaram metralhadoras Kalashnikov e cintos explosivos.

Os militantes - quatro deles cidadãos franceses - atacaram três locais principais: arredores do Stade de France e, na região central de Paris, bares e restaurantes lotados e a casa de shows Bataclan.

Três detonaram seus cintos explosivos perto do estádio, durante um amistoso entre França e Alemanha. Eles podem ter sido impedidos de tentar entrar no estádio.

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O Bataclan foi o pior ataque, com 89 mortos. Os atentados provavelmente levaram meses para serem planejados, disse Pieter Van Ostaeyen, especialista belga em extremistas islâmicos.

O plano foi claramente concebido para matar o maior número de pessoas indiscriminadamente - atingiram locais lotados onde jovens se divertiam.

Por que os ataques não foram frustrados?

Os serviços de segurança da França e seus parceiros europeus serão questionados sobre o que sabiam dos ataques.

Dois militantes belgas do EI, por exemplo, haviam alertado em um vídeo em fevereiro que atacariam a França, disse Van Ostaeyen à BBC.

A segurança havia sido reforçada na França após os ataques por extremistas islâmicos à revista Charlie Hebdo e um supermercado judeu. Três homens armados mataram 17 pessoas antes de serem mortos pela polícia.

Mas especialistas em segurança disseram ser difícil prevenir ataques como os de sexta-feira, que envolvem grupos com homens suicidas armados e com bombas atingido alvos indiscriminados e simultaneamente.

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Há monitoramento de comunicações de jihadistas conhecidos, por telefone ou internet, mas há cada vez mais maneiras de criptografar comunicações que dificultam a vigilância.

Há uma grande pressão na França e na Bélgica para um monitoramento maior de supostos jihadistas, já que alguns dos autores passaram tempo com combatentes do Estado Islâmico na Síria.

Entre as propostas está prender jihadistas que retornam da Síria ou colocá-los em prisão domiciliar, tirar a cidadania de jihadistas violentos ou instalar chips eletrônicos em suspeitos.

Alguns críticos também dizem que é muito fácil para jihadistas cruzar fronteiras nos países da União Europeia que fazem parte do Tratado de Schengen - que não exigem a apresentação de passaporte. Apenas agora, carros estão sendo vistoriados na fronteira Bélgica-França.

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O compartilhamento maior de informações de inteligência entre a França e a Bélgica poderia ter alertado sobre a iminência de um ataque em Paris.

O quão importante é a conexão belga?

Ao que tudo indica, Molenbeek foi o centro operacional dos ataques a Paris, mas há algumas outras conexões belgas.

Abaaoud se vangloriava de ter ajudado a criar células do EI em Verviers, no leste da Bélgica. A polícia invadiu um local nesta região em janeiro, matando dois jihadistas, mas ele escapou.

Ministros belgas admitem que mais ações devem ser tomadas para conter o extremismo islâmico em Molenbeek.

Mehdi Nemmouche, jihadista franco-argelino acusado de matar quatro pessoas no museu judaico em Bruxelas em maio de 2014, também passou algum tempo em Molenbeek.

Mais jihadistas saíram da Bélgica para se juntar ao EI na Síria e no Iraque do que qualquer outro país da UE, em termos per capita.

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A Bélgica, um país federalizado, tem várias forças policiais e, às vezes, a coordenação entre elas é problemática.

Há casos em que informações de inteligência não são compartilhadas - não apenas dentro da Bélgica para também entre parceiros da UE como a França, disse o especialista holandês Liesbeth van der Heide, do Centro para Terrorismo e Contraterrorismo da Universidade de Leiden.

A UE não tem uma base central de dados sobre inteligência em relação a jihadistas - mas, agora, há pedidos para que uma seja criada uma.

A Europa perdeu o controle de suas fronteiras?

Os ataques em Paris alimentaram temores sobre o Tratado de Schengen e as fronteiras externas da União Europeia.

A liberdade de movimento é um valor apreciado e central da UE - mas significa que jihadistas violentos e outros criminosos também conseguem cruzar fronteiras facilmente após entrarem no bloco.

O Tratado de Schengen existe em uma Europa onde autoridades nacionais ainda guardam para si informações que afetam a segurança de seus países.

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Em relação às fronteiras externas da UE, o fluxo de imigrantes - muitos deles refugiados sírios - as colocou sob uma grande pressão neste ano.

Grécia e Itália, com extensas fronteiras marítimas para serem patrulhadas, estão recebendo ajuda da UE para registrar imigrantes recém-chegados. Mas isto não é o suficiente.

Mais de 650 mil imigrantes chegaram à Europa nesta ano. Há temores de que alguns jihadistas possam ter se infiltrado.

Um dos autores dos ataques em Paris tinha um passaporte sírio falso com o nome de "Ahmad al-Mohammed". Autoridades gregas disseram que alguém com este passaporte foi registrado no mês passado na ilha de Leros.

Novos ataques poderão ser realizados em Paris ou em qualquer outro lugar?

Medidas de segurança foram reforçadas em toda a França. Sob o atual estado de emergência, a polícia francesa tem poderes amplos para fazer buscas e deter suspeitos.

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Mas o ministro do Interior francês, Bernard Cazeneuve, alertou que países da UE precisam reforçar a fiscalização nas fronteiras externas do bloco.

Ataques em Paris deixaram 129 mortos
Ataques em Paris deixaram 129 mortos
Foto: Getty / BBC News Brasil

"É urgente que a Europa aja juntamente, se organize e se defenda contra a ameaça terrorista", disse ele.

A França retaliou os ataques bombardeando militantes do EI na Síria e no Iraque. Os Estados Unidos e seus aliados, assim como a Rússia, também estão atacando o EI.

O risco do grupo realizar mais ataques, na Europa ou em outros lugares, é bem real.

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