Americano que matou policial na Itália é fotografado vendado

Ação gerou críticas contra as forças de segurança

28 jul 2019 - 14h51
(atualizado às 15h28)
Gabriel Christian Natale-Hjorth foi cúmplice do homicídio do policial Mario Cerciello Rega
Gabriel Christian Natale-Hjorth foi cúmplice do homicídio do policial Mario Cerciello Rega
Foto: ANSA / Ansa

Em meio à comoção pelo assassinato do policial militar italiano Mario Cerciello Rega, uma foto que mostra um dos autores do crime vendado e algemado em uma delegacia virou motivo de críticas no país.

A imagem retrata o americano Gabriel Christian Natale-Hjorth, 18 anos, com uma venda sobre os olhos e as mãos algemadas para trás enquanto aguardava interrogatório em uma delegacia da Arma dos Carabineiros.

Publicidade

Natale-Hjorth é cúmplice do também americano Elder Finnegan Lee, 19, autor material do homicídio, ocorrido na madrugada da última sexta-feira (26). Ambos foram presos em um hotel de Roma, enquanto estavam prestes a fugir do país, e confessaram o crime.

"Qual o motivo de haver uma venda em uma delegacia dos carabineiros? São coisas de faroeste", disse Cesare Placanica, presidente da Câmara Penal de Roma, associação que reúne advogados criminalistas da capital italiana.

 Já Ilaria Cucchi, irmã de Stefano Cucchi, geômetra morto sob custódia da polícia, em 2009, disse que a foto é "terrível". "Certas coisas não devem acontecer, independentemente de acusações, da nacionalidade e da cor da pele", disse.

Cucchi busca até hoje justiça no caso da morte de seu irmão, e três carabineiros respondem por homicídio, sob a acusação de ter agredido o geômetra em uma delegacia e causado seu falecimento.

Publicidade

Já o senador Andrea Marcucci, do oposicionista Partido Democrático (PD), esbarrou no preconceito para criticar a foto. "Horror pela imagem do indiciado vendado. Horror pelo uso político feito pelo ministro do Interior. [Matteo] Salvini não nos transformará na América do Sul", escreveu no Twitter.

Pouco antes, Salvini havia se manifestado nas redes sociais e criticado a polêmica em torno da foto do americano. "A quem se lamenta pela venda em um detento, lembro que a única vítima pela qual chorar é um homem, um filho, um marido de 35 anos, um carabineiro, um servidor da Pátria morto em serviço por gente que, se culpada, merece apenas a prisão perpétua", disse.

Logo após a divulgação da imagem, no entanto, o próprio comando da Arma dos Carabineiros criticou o tratamento dado ao americano e anunciou uma apuração interna para identificar o responsável, que foi transferido para um departamento "não operacional".

"O Comando-Geral da Arma dos Carabineiros prende firmemente distância da divulgação da foto", diz um comunicado. Mario Cerciello Rega, que levou 11 facadas de Lee, foi velado neste domingo (28), e o funeral será nesta segunda-feira (29), com transmissão ao vivo da emissora pública Rai.

Publicidade

O crime

Segundo a reconstrução dos investigadores, os dois americanos haviam furtado a mochila de um italiano e pedido 100 euros e um grama de cocaína para restituí-la. A vítima alertou a polícia, que decidiu ir ao local combinado para prender os criminosos.

Nesse momento, de acordo com a investigação, Rega, que estava à paisana, foi esfaqueado durante uma briga com os americanos. Lee disse à polícia que o militar não se identificou na abordagem, mas Natale-Hjorth garantiu aos investigadores que os dois sabiam que se tratava de um oficial.

Restam dúvidas sobre o homem que teve a mochila furtada. Há suspeitas de que ele seria um traficante ou comparsa de um homem que teria vendido aspirina aos americanos no lugar de droga. Em resposta, os turistas teriam furtado a mochila e exigido um "resgate".

Violações

A Itália foi condenada recentemente pela Corte Europeia de Direitos Humanos, sediada em Estrasburgo, na França, por episódios relativos a violações cometidas pelas forças de segurança.

Publicidade

No primeiro caso, o país foi sentenciado, em outubro de 2018, a pagar indenizações de 10 mil a 85 mil euros por "tortura" na repressão a manifestantes que protestavam contra uma cúpula do G8 em Gênova, em julho de 2001.

A ação da polícia deixou uma pessoa morta, enquanto outras dezenas foram torturadas dentro de uma escola. Já em junho passado, a Itália foi condenada a pagar 18 mil euros à americana Amanda Knox, absolvida do assassinato da estudante britânica Meredith Kercher, ocorrido em 2007.

A Corte Europeia de Direitos Humanos acolheu os argumentos de Knox, que disse ter sido interrogada sem a presença de advogados e tradutores e submetida a um "fortíssimo estresse psicológico".

No processo, a americana também citou "tapas" na testa e um "tratamento desumano e degradante" por parte da polícia.

  
Fique por dentro das principais notícias
Ativar notificações