A AIEA alertou sobre riscos de vazamento radiológico e químico na central nuclear de Natanz, no Irã, após bombardeios israelenses, embora os danos tenham sido limitados a instalações acima do solo.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) informou nesta segunda-feira ter preocupações sobre a segurança nuclear após o início do conflito. De acordo com o diretor da instituição, Rafael Grossi, há risco de contaminação radiológica e química dentro da central nuclear de Natanz, a principal instalação de enriquecimento de urânio do Irã e que foi um dos alvos do primeiro dia de bombardeios israelenses.
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“Pela segunda vez em três anos, estamos testemunhando um conflito dramático entre dois Estados-membros da AIEA, no qual instalações nucleares estão sendo atacadas e a segurança nuclear está sendo comprometida”, disse Grossi durante uma reunião extraordinária em Viena.
O comentário é uma referência ao conflito entre Rússia e Ucrânia, onde em um dos países está a Usina Nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa. Apesar do alerta, a agência afirmou que os danos à unidade de Natanz foram limitados. Os edifícios acima do solo foram destruídos, mas locais estratégicos no subsolo não foram atingidos.
“Não houve danos adicionais no local da usina de enriquecimento de combustível de Natanz desde o ataque de sexta-feira. Não há indícios de ataque físico ao galpão subterrâneo em cascata que contém parte da usina piloto de enriquecimento de combustível e da usina principal de enriquecimento de combustível”, informou Grossi.
A fala diverge das alegações feitas pelo exército israelense na sexta-feira, 13, onde afirmam que a área subterrânea do local foi danificada. A AIEA afirma que o nível de radioatividade fora da usina permanece inalterado e em níveis normais, o que indica ausência de impacto radiológico externo desde o início dos ataques.
O principal risco é de que haja um vazamento de radiação ou de químico no interior da instalação, aponta Grossi. Isto pode significar um perigo para quem está diretamente no solo da região, como casos de inalação ou ingestão das substâncias.
Quando Israel iniciou os “ataques preventivos” contra o Irã, o principal alvo do bombardeio era o programa nuclear iraniano. De acordo com eles, o país estava tentando desenvolver armas nucleares. No entanto, o regime dos aiatolás afirma que o programa tem fins pacíficos.
Segundo informações do Agence France-Presse (AFP), relatórios da AIEA dos últimos anos apontam que o Irã vem realizando em ritmo acelerado enriquecimento de urânio. Em 2024, o país obteve 408,6 kg de urânio a 60%, tendo produzido 133,8 kg em três meses. Em março do ano anterior, a agência iraniana notificou ter encontrado "partículas" de urânio enriquecidas com 83,7% de pureza.
Na última quinta-feira uma resolução foi aprovada contra o Irã por incumprimento de suas obrigações de não proliferação nuclear. No entanto, no momento, a preocupação da AIEA é com os ataques às instalações.
Em uma declaração em conjunto, assinada por representantes da Rússia, China, Paquistão, Iraque, Bielorrússia, Burkina Faso, Cuba, Indonésia, Nicarágua, Venezuela e Irã, foi assinada na AIEA afirmando que qualquer ataque armado ou ameaça contra instalações nucleares dedicadas a fins pacíficos constitui uma violação dos princípios da Carta da ONU, do direito internacional e do estatuto da agência.
O diretor Grossi disse ainda que a instituição “não ficaria de braços cruzados durante o conflito” e que prestaria assistência ao Irã.