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Hoje é o dia de lutar ao lado das Pessoas com Deficiência

“Você vai botar um moleque cego, surdo ou com paralisia cerebral na classe com crianças normais?” O que você responderia?

21 set 2021 - 12h17
(atualizado às 12h17)
Batalha que começa na sala de aula, e depois vai pro mundo do trabalho, das ruas, da vida...
Batalha que começa na sala de aula, e depois vai pro mundo do trabalho, das ruas, da vida...
Foto: Gerd Altmann / Pixabay

As pessoas com deficiência têm um dia só delas. É hoje, dia 21 de setembro, o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência. O nome é perfeito, porque a vida das PCDs é uma luta incessante, dos bancos das escolas ao mundo adulto do trabalho. Mas tem uma luta que já foi vencida - e todo mundo precisa entrar nesta batalha, ao lado das pessoas com deficiência e suas famílias, e contra o retrocesso.

Em 2018, o Ministério do Desenvolvimento Social fez uma pesquisa com 190 mil famílias que recebem o Benefício de Prestação Continuada, porque têm em casa criança ou jovem com deficiência intelectual ou física. Ele só é pago a famílias com renda per capita inferior a um quarto do salário mínimo.

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Descobrimos que quase um terço dessa galera, 32%, não frequentava escola. Razões alegadas: 53% dos pais consideram que o filho não tem condições de aprender, 10% temem que ele seja discriminado, 9% temem violência, 13% não têm quem leve ou acompanhe o filho até a escola.

Muita gente nem sabe que é direito de todos os deficientes, por lei, a matrícula em escola regular. É a posição da maioria dos especialistas em educação, e de muitas entidades representativas. Mas tem gente que quer mudar essa lei e segregar as crianças com deficiência, e a luta contra este retrocesso precisa ser de todos nós.

Parece esquisito em princípio. “Você vai botar um moleque cego, surdo ou com paralisia cerebral na classe com crianças normais?”

E é esquisito mesmo. Como o professor vai dar a atenção necessária para quem tem necessidades especiais, sem descuidar das necessidades dos outros? E se a criança não ouve direito, precisa sempre ter um intérprete que conheça LIBRAS, a linguagem brasileira de sinais? E se não enxergar, lê o livro escolar em braille?

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Pois é. Mas se a criança não convive com as outras quando pequeno, como vai conviver com os outros quando crescer, for pro mercado de trabalho, pro supermercado, curtir suas férias? E quando… envelhecer?

Meu tio Joaquim é paraplégico, acidente de trabalho, desde 1983. Era engenheiro, virou professor, vocação que sempre teve - me ensinou na adolescência a jogar truco e ler o Pasquim, entre outras coisas úteis.

Se acha um privilegiado, porque convive todo dia com gente que sofre ainda mais. Já ouvi dele histórias apavorantes sobre deficientes extremamente carentes. Cara que ficou paraplégico e nunca mais saiu de casa, porque mora na favela, e não tem como descer os degraus, e daí para pior. Se você pensa que é dureza ser pobre, ou deficiente, não faz ideia do que é ser deficiente pobre.

Joaquim é militante dos direitos dos deficientes. Criou 25 anos atrás e dirigiu por muito tempo a AINDA, organização que luta pelos direitos das pessoas com deficiência em sua cidade, Limeira.  

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Milita sem perder o humor. Tem uma boa do meu tio que foi pegar sua classe na Unicamp e explicar os problemas da inclusão botando venda em um, silicone na orelha do outro, amarrando braço ou perna, colocando vários em cadeira de roda. Depois ordenou, “agora todo mundo para a lanchonete tomar um café”. Outra inesquecível foi apoiar a organização de um cursinho para vestibulandos carentes - e despachar um deficiente visual para estudar lá.

Ele sempre diz que a sociedade brasileira precisa cuidar melhor dos direitos das pessoas com deficiência. Porque no final, ninguém escapa de alguma. A gente vai apagando velinha, e vai indo embora a mobilidade, a visão, a audição, e vai que vai. Para escapar disso, só morrendo jovem. E bem antes do final, a gente já começa a conviver com as deficiências, conforme nossos avós e pais vão envelhecendo.

Segue necessária a luta para compartilharmos todos a sociedade, lado a lado com quem tem deficiência, de qualquer idade. Batalha que começa na sala de aula, e depois vai pro mundo do trabalho, das ruas, da vida. Joaquim resume bem: “A grande coisa das salas de aula compartilhadas nem é só o que os deficientes aprendem... mas o que o resto dos alunos aprende, convivendo com o deficiente.”

André Forastieri é fundador do Homework, jornalista e consultor de comunicação.

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