Lula usa máquina e freia bolsonarismo no Senado com vitória de Pacheco

Atual presidente da Casa vence Marinho por 49 votos a 32; para conter dissidências, Planalto prometeu a partidos aliados diretorias de autarquias, estatais e bancos públicos

1 fev 2023 - 22h29
(atualizado às 22h47)
Foto: Estadão

Em uma disputa acirrada, que levou o Palácio do Planalto à mesa de negociação, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), foi reeleito para novo mandato à frente da Casa no biênio 2023-2024. Com 49 votos, Pacheco derrotou o ex-ministro do governo Jair Bolsonaro Rogério Marinho (PL-RN), que ficou com 32.

Na tentativa de conter dissidências na base aliada e garantir voto em Pacheco, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu ao União Brasil, ao MDB e até ao PSD diretorias de autarquias, estatais e bancos públicos. A estratégia barrou a chegada de um bolsonarista ao comando de um dos três Poderes - o presidente do Senado chefia o Congresso.

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O triunfo de Pacheco significa uma vitória para o governo, que o apoiou, mas o PT passou por apuros. Marinho tinha o aval do Centrão, o apoio aberto de Bolsonaro e chegou a ameaçar o senador mineiro. O placar da votação revelou que o presidente contará com uma base de sustentação apertada no Senado para aprovar reformas.

O grupo de Marinho e até mesmo aqueles que se movimentaram para trair Pacheco mostraram ao Planalto que Lula enfrentará dificuldades para aprovar, por exemplo, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC). Votações como essa exigem 308 votos na Câmara e 49 no Senado.

Pacheco passou pelo teste político justamente com esse patamar, oito votos a mais do que o mínimo necessário para vencer no primeiro turno. A poucos metros dali, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), obteve uma vitória acachapante, com 464 votos, reforçando o poder do Centrão.

Lula telefonou tanto para Lira como para Pacheco e os cumprimentou. O presidente tentará aprovar ainda neste ano uma reforma tributária e uma nova âncora fiscal, duas pautas que dependem de PEC e são consideradas fundamentais para o equilíbrio das contas públicas.

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Negociação

Diante desse cenário, tudo indica que o governo terá de entrar na barganha política. Na Câmara, ele ficará refém do Centrão e deve ter uma oposição forte em um Senado com perfil conservador. Dos 81 senadores, 32 preferiram ir contra Pacheco e a gestão petista.

Na prática, a disputa entre Pacheco e Marinho ganhou contornos de terceiro turno entre Lula e Bolsonaro. O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) desistiu do páreo pouco antes da votação e anunciou apoio a Marinho, ex-ministro do Desenvolvimento Regional.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro desembarcou ontem no Senado para pedir votos em Marinho. Nas redes sociais, Bolsonaro postou mensagem dizendo que a eleição de seu ex-ministro representaria a volta à normalidade. "A nossa liberdade passa a ganhar fôlego novamente", escreveu.

Em conversas reservadas, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) entraram em campo para pedir voto em Pacheco. Estavam preocupados com o ressurgimento de pautas bolsonaristas, caso Marinho ganhasse, como a defesa do impeachment de ministros da Corte e da criação de uma CPI para investigar o que aliados do ex-presidente chamam de "abusos" do Judiciário.

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Polarização

Na prática, três semanas depois dos atos golpistas que depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso e o STF, a campanha no Senado escancarou o clima de radicalização no País. Após ser reeleito, Pacheco pregou a pacificação, mas ressalvou que isso não significava leniência.

"A polarização tóxica precisa ser erradicada de nosso país. Acontecimentos como os ocorridos aqui neste Congresso Nacional e na Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, não podem, e não vão, se repetir", discursou o presidente do Senado. "Os brasileiros precisam voltar a divergir civilizadamente, precisam reconhecer com absoluta sobriedade quando derrotados e precisam respeitar a autoridade das instituições públicas."

Marinho criticou a manutenção do grupo de Pacheco no poder e fez uma referência indireta ao senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e fiador político do presidente do Senado. "Repetir os mesmos métodos e esperar resultados diferentes é, no mínimo, irracional", disse. Alcolumbre devolveu com uma provocação. "Perdeu cinco votos. Tem muito senador que gosta de mim", afirmou.

Michelle chegou a entrar no plenário para conversar com senadores. Questionada se Bolsonaro não havia retornado dos EUA, onde está desde 30 de dezembro, por receio de ser preso, ela rebateu: "Não é ele que tem de ter medo de ser preso".

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Cargos

Na lista do cargos prometidos nos Estados estão diretorias do Banco do Nordeste, Banco da Amazônia, superintendências da Sudam, Sudene e Suframa e até do Dnocs e Dnit. A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), a estatal do Centrão, deve ficar com o União Brasil.

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