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Lava Jato: doleira canta em depoimento e diz que fará acordo

Em sessão da CPI da Petrobras, a doleira criticou o Banco Central e disse que o sistema facilita a corrupção no Brasil

12 mai 2015 - 13h09
(atualizado em 25/9/2015 às 12h23)
Doleira falou aos parlamentares nesta terça-feira, em Curitiba
Doleira falou aos parlamentares nesta terça-feira, em Curitiba
Foto: Roger Pereira / Especial para Terra

Condenada a 18 anos de prisão em um dos processos da Operação Lava Jato, a doleira Nelma Kodama disse, em depoimento na CPI da Petrobras, na manhã desta terça-feira, em Curitiba, que está negociando um acordo de colaboração com a Justiça para tentar reduzir a pena. Assim, Nelma se recusou a responder algumas das perguntas feitas pelos deputados na sessão de hoje com o argumento de que essas questões seriam esclarecidas caso homologado esse acordo.

Nelma foi condenada pelo juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos do caso, a 18 anos de prisão e multa por liderar um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que teria movimentado de forma fraudulenta R$ 221 milhões em dois anos e enviado para o exterior outros de U$S 5,2 milhões por meio de 91 operações de câmbio irregulares.

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“Eu sou doleira, comprava e vendia moedas no mercado negro. E isso vai constar no termo de colaboração que estou firmando”, afirmou a doleira. Ela confessou evasão de divisas num esquema pessoal que movimentava US$ 300 mil, por dia, e relações financeiras com outros dois doleiros presos na Lava Jato (Alberto Youssef e Raul Srour). 

A doleira culpou o sistema financeiro nacional pelos casos de corrupção envolvendo contratos de câmbio, citando que milhões de dólares eram enviados e recebidos do exterior, em contratos de importação sem que nenhuma mercadoria fosse entregue e nenhum órgão de fiscalização nunca flagrasse o crime e com os bancos e corretoras facilitando as operações, Nelma questionou: “Qual o maior doleiro: eu, o Banco Central ou as instituições financeiras? Enquanto não tirar o mal pela raiz, que está no sistema, isso não vai acabar", declarou. "Tudo que o senhor está falando tem a participação do Banco Central, das instituições financeiras, e se as brechas para essa prática não forem encontradas, a corrupção não vai acabar. As instituições financeiras lucram muito com a corrupção", acrescentou. “O problema é que o Brasil vive da corrupção. Agora que estourou a Lava Jato, que quebrou-se um dos elos da corrupção, o das empreiteiras, o Brasil vive uma crise econômica”, concluiu.

Amada Amante

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Intigada a explicar que relação tinha com Alberto Youssef, a doleira Nelma Kodama cantou trecho de uma música de Roberto Carlos, “Amada Amante”. Ela contou aos deputados que o conheceu no dia 20 de agosto de 2000. O deputado Altineu Côrtes (PR-RJ) a questionou se ela era amante de Youssef. “Sob meu ponto de vista, eu vivi maritalmente com Alberto Youssef do ano de 2000 a 2009. Amante é uma palavra que engloba tudo, né? Amante é esposa, amante é amiga”, disse. “Tem até uma música do Roberto Carlos: a amada amante, a amada amante. Não é verdade? Quer coisa mais bonita que ser amante? Você ter uma amante que você pode contar com ela, ser amiga dela.” Em seguida, a doleira cantarolou a canção.

Doleira Nelma Kodama depõe no segundo do dia da CPI da Petrobras
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Quando cantarolava, ela foi interrompida pelo deputado Hugo Motta (PMDB-PB). “Senhora Nelma, como presidente dessa CPI, nós não estamos aqui em um teatro. Peço que Vossa Senhoria se detenha a responder as perguntas, mantendo a ordem e o respeito ao Congresso Nacional, que neste momento está aqui fazendo uma apuração”, disse, fazendo cessar a cantoria.

Nelma também colocou dúvida sobre a delação premiada do doleiro Lucas Pace. “Lucas Pace fez uma delação parcial e mentirosa e atribuiu à Iara Galdino os crimes que quem cometeu foi ele”.

O segundo depoente programado para esta terça-feira, Rene Luiz Pereira, condenado por lavagem de dinheiro do tráfico, disse que permaneceria calado. Disse que foi condenado injustamente e que sofreu ameaças dentro da Polícia Federal. Questionado pelo relator, Luiz Sérgio sobre que ameaças havia sofrido, disse que não revelaria, porque não teria provas. O relator insistiu que a CPI seria um canal para que se investigasse, inclusive, eventuais excessos da Polícia Federal, ele respondeu: “Por que eu deveria confiar nessa CPI se fui condenado por algo que não fiz?”

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"Estou preso há 33 dias, já prestei depoimento, o processo não caminhou, meu habeas corpus foi negado, assim, com todo o respeito à CPI e à Câmara do Deputados, não vejo motivos para responder aos questionamentos", disse Argolô
Foto: Roger Pereira / Especial para Terra

Por volta de 14h15, tiveram início as oitivas da tarde, com o ex-deputado Luiz Argôlo sendo o terceiro depoente do dia. Argôlo, no entanto, também preferiu manter o silêncio. “Estou preso há 33 dias, já prestei depoimento, o processo não caminhou, meu habeas corpus foi negado, assim, com todo o respeito à CPI e à Câmara do Deputados, não vejo motivos para responder aos questionamentos, exercendo meu direito constitucional de permanecer em silêncio”. Argôlo contou, no entanto, que tinha uma relação privada com o “empresário” Alberto Youssef, por conta dos investimentos feitos por Youssef em hotéis em Salvador, Porto Seguro e outras cidades da Bahia. 

Mesmo provocado, quando o deputado Onyx Lorenzoni (DEM) disse que, quando deputado era um falastrão e hoje está “caladão” para não se enrolar ainda mais, Vargas permaneceu em silêncio. Questionado por Ivan Valente (Psol) se sentiu=se traído pelo PT, disse “isso é uma questão de valores, que será tema de um livro no futuro”.

"Não reconheço nenhum repasse financeiro de Alberto Youssef para mim, porque não ocorreram”, declarou Luiz Vargas
Foto: Roger Pereira / Especial para Terra

Vargas também quebrou o silêncio para explicar a Ivan Valente sua relação com Alberto Youssef. “Conheço o Alberto Youssef a mais de 30 anos, porque moramos na mesma cidade, o conheci vendendo coxinha no aeroclube de Londrina. Acompanhei a delação premiada dele, a Justiça o autorizou a ser empreendedor, ele se tornou o proprietário do maior hotel de nossa cidade, se tornou proprietário de um hotel em Aparecida do Norte, em sociedade com a igreja católico. Então, tive uma relação a luz do dia com o empresário Alberto Youssef. Não reconheço nenhum repasse financeiro de Alberto Youssef para mim, porque não ocorreram”.

"Fui cassado em 2005, perdi meus direitos políticos, como que recebi dinheiro para minha eleição?”, questionou Pedro Corrêa
Foto: Roger Pereira / Especial para Terra

Apesar de declarar que manteria o silêncio, Pedro Corrêa respondeu a quase todos as perguntas dos deputados, sempre ressaltando que não é parlamentar desde 2005 e que, por isso, não teria como estar envolvido nos escândalos citados. Questionado sobre por que o PP - partido que chegou a presidir - é o partido com o maior número de políticos investigados na Lava Jato, Corrêa disse que todos os partidos são iguais, que precisam de dinheiro para eleger seus políticos. Foi interrompido por Onyx Lorenzoni (DEM), que discordou dizendo que seu partido não era igual, pois expulsava os corruptos. “Eu pertenci a seu partido”, rebateu Corrêa, arrancado risos da plateia.

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Nas considerações finais, Corrêa disse que não fará acordo de delação premiada “Não vou fazer delação e vou esperar resultado da Justiça e não acredito que essa delação de Youssef e Costa serão mantidas, porque existem várias inverdades nelas”.

O penúltimo depoente da terça-feira foi o doleiro Carlos Habib Chater, proprietário do Posto Torre, em Brasília, onde teve origem a Operação Lava Jato. Mais uma vez, declarou que permaneceria calado.

“Se você tivesse feito a lição de casa, saberia que não fui condenado por tráfico de drogas", disse Chater (à direita) durante discussão
Foto: Roger Pereira / Especial para Terra

Chater apenas quebrou o silêncio para bater boca com o deputado Delegado Wadir (PSDB), quando foi chamado de traficante pelo parlamentar. “Se você tivesse feito a lição de casa, saberia que não fui condenado por tráfico de drogas”, respondeu. Waldir insistiu em chamá-lo de bandido e traficante e os dois ergueram o tom de voz e tiveram uma discussão ríspida. 

Último a depor, o publicitário Ricardo Hoffmann, que foi convocado na manhã desta terça-feira, também decidiu manter o silêncio.

Ricardo Hoffmann (centro) decidiu manter o silêncio
Foto: Roger Pereira / Especial para Terra
Fonte: Especial para Terra
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