SP: revisor recebe apelido de 'Liberandowski' e é hostilizado

29 out 2012 - 08h38
(atualizado às 09h54)

Ricardo Lewandowski, ministro-revisor do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), foi hostilizado por eleitores ao deixar o local onde votou no domingo, a escola Mário de Andrade, no Brooklin, na zona sul de São Paulo. Questionado se percebia, nas ruas, um tratamento oposto ao recebido pelo ministro-relator do processo, Joaquim Barbosa, - que foi aplaudido no Rio, ao votar no primeiro turno, e que chegou a ganhar uma campanha virtual para virar presidente do Brasil em 2014 - Lewandowski disse que não. "Nunca vi isso. Pelo contrário, só recebo cumprimentos. Muitas pessoas querem tirar foto comigo. Você vê aqui a tranquilidade", disse ele. No entanto, enquanto ele terminava de falar, eleitores dispararam expressões como "que nojo" e "vergonha nacional" ao ministro. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.

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Na escola onde votou, o ministro recebeu o apelido de "Liberandowski" de um mesário, que perguntou se ele já tinha dado "um abraço" em José Dirceu, um dos réus que absolveu no julgamento. Na votação do segundo turno, Lewandowski resolveu mudar e entrar pela porta da frente da escola, na primeira parte das eleições, ele havia optado pela entrada dos fundos. "Entrei na fila como um cidadão comum, pela porta da frente", afirmou. Para diminuir os riscos de tumultos, o juiz Alexandre David Malfatti, responsável pela zona onde vota o ministro, determinou a retirada de três repórteres do colégio estadual, com uso da polícia. Na saída, o ministro defendeu seu papel no mensalão. "O revisor apresentou um contraponto, muita gente foi absolvida. É como quando alguém tem um problema de saúde sério, vai ao médico e depois pede uma segunda opinião." Sobre a divergência de sua visão com a de outros ministros (vem sendo voto vencido quase sempre), questionou: "Doze absolvições é pouco?".

O mensalão do PT

Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.

No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.

Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.

O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

A então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.

Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.

Lewandowski foi criticado ao deixar a escola Mário de Andrade, onde votou no domingo
Lewandowski foi criticado ao deixar a escola Mário de Andrade, onde votou no domingo
Foto: Carlos Humberto/STF / Divulgação
Fonte: Terra
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