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Comandante do Nordeste é o mais cotado para assumir Exército

Contrário à politização das Forças Armadas, atual comandante deixa hoje o cargo; nome cotado é de Freire Gomes

31 mar 2021 - 07h06
(atualizado às 07h27)

O presidente Jair Bolsonaro poderá repetir a ex-presidente Dilma Rousseff e quebrar uma tradição no Exército se decidir nomear como próximo comandante do Exército o general Marco Antônio Freire Gomes. Comandante militar do Nordeste, Gomes é o nome mais cotado nos bastidores do governo para substituir o comandante do Exército, Edson Leal Pujol, mas o presidente foi aconselhado a considerar outras opções para não criar atritos com generais mais experientes. O novo ministro da Defesa, general Walter Souza Braga Netto, vai conversar nesta quarta-feira, dia 31, com os oficiais indicados em listas tríplices para Exército, Marinha e Aeronáutica.

General Edson Pujol deixa o comando do Exército
11/01/2019
REUTERS/Adriano Machado
General Edson Pujol deixa o comando do Exército 11/01/2019 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

A cúpula das Forças Armadas foi demitida nesta terça-feira, dia 30, um dia após a queda do então ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva. Além de Pujol, deixam os cargos os comandantes da Marinha, Ilques Barbosa Junior, e da Aeronáutica, Antonio Carlos Moretti Bermudez.

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Os três comandantes receberam o aviso em encontro com Azevedo e Braga Netto. A reunião teve momentos de tensão. O Estadão apurou que o mais exaltado no encontro foi o almirante Ilques Barbosa, da Marinha, com reações que beiraram à insubordinação, conforme relatos de presentes. Auxiliares dele minimizam o episódio e dizem que houve um debate sem exaltação. Há uma tentativa de serenar os ânimos nas Forças Armadas, principalmente na Marinha.

Na segunda-feira, o encontro de Azevedo com Bolsonaro durou três minutos. O tom foi seco. "Preciso do seu cargo", disse o presidente ao então ministro da Defesa. Auxiliares do general dizem que ele já desconfiava estar na berlinda por ter sido contrário à tentativa de Bolsonaro de substituir Pujol, o comandante do Exército.

Desde a semana passada, Azevedo vinha sendo cobrado por demonstrações de mais apoio político a Bolsonaro. O presidente queria um sinal claro do Exército, mas não recebeu. Em conversas reservadas, oficiais militares dizem que Azevedo perdeu o Ministério da Defesa porque se opôs à nova ofensiva de Bolsonaro para remover Pujol. O Estadão apurou que o então comandante do Exército se recusou a politizar as Forças Armadas, como queria o presidente.

Na hierarquia militar, os recém-exonerados comandantes estavam acima do novo ministro da Defesa, Braga Netto, pelo critério de antiguidade. No Exército, a tradição da escolha dos comandantes obedece à antiguidade dos generais de quatro estrelas, ou seja, quem tem mais tempo no topo da carreira. Em 2015, a então presidente Dilma ignorou isso e escolheu de uma lista tríplice o general Eduardo Villas Bôas, que à época era comandante de Operações Terrestres. Villas Bôas era o terceiro na ordem. Ela foi a última a desconsiderar o critério, mas também houve casos anteriores, nos governos Fernando Collor de Mello, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.

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Freire Gomes tem uma passagem recente pelo Planalto. Foi secretário-executivo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Michel Temer. Apesar de ter a preferência no Planalto, pesa contra ele o fato de ser muito "moderno", o que pode provocar insatisfações na hierarquia militar e uma série de mudanças administrativas, caso seja nomeado.

Segundo militares que acompanham a negociação, para nomear Freire Gomes Bolsonaro teria de "aposentar" seis generais mais antigos que ele. Isso porque eles passam à reserva se um oficial mais "moderno", com menos tempo de Exército, for alçado ao comando. A aposentadoria não é uma regra compulsória, mas costuma ter força de norma não escrita nos quartéis. Os oficiais costumam pedir para deixar a ativa como forma de não serem comandados por um antigo subordinado, uma inversão na hierarquia.

Ao escolher Freire Gomes, Bolsonaro pode escapar ainda de outro nome que está prestes a se tornar o mais antigo entre os generais de quatro estrelas: o atual comandante de Operações Terrestres, general José Luiz Dias Freitas. À frente dele estão apenas os generais Décio Luís Schons e César Augusto Nardi de Souza, que passarão oficialmente à reserva a partir desta quarta-feira, dia 31, e já foram substituídos no Alto Comando.

Atualmente o mais antigo, Schons chefia o Departamento de Ciência e Tecnologia e antes estava na Escola Superior de Guerra. Nardi era o chefe de Assuntos Estratégicos do Ministério da Defesa.

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O general Marcos Antonio Amaro dos Santos, chefe do Estado-Maior do Exército, cuidou da segurança da ex-presidente Dilma e foi chefe da Casa Militar no governo dela. Depois dele, vêm os generais de Exército Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, chefe do Departamento-Geral do Pessoal, e Laerte de Souza Santos, comandante logístico.

José Freitas teria, por tradição, a preferência para assumir o comando. Ele é apontado por deputados, senadores e militares como alguém que se opõe às mais recentes investidas políticas de Bolsonaro na caserna. Assim, estaria alinhado aos generais Fernando Azevedo e Silva, ex-ministro da Defesa, e ao agora ex-comandante Pujol. A escolha de Freitas é considerada pouco provável por generais.

Em abril de 2018, ele apoiou a manifestação no Twitter do ex-comandante Villas Bôas, que gerou pressão sobre o Supremo Tribunal Federal às vésperas do julgamento de um recurso que poderia evitar a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Villas Bôas afirmou que o Exército compartilhava o "anseio dos cidadãos de bem de repúdio à impunidade" e se mantinha "atento às suas missões institucionais".

"Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?", questionou Villas Boas. Em seu perfil no Twitter, Freitas compartilhou a mensagem. "Mais uma vez o comandante do Exército expressa as preocupações e anseios dos cidadãos brasileiros que vestem fardas. Estamos juntos, comandante Villas Bôas", escreveu ele, na ocasião.

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Neste ano, o episódio do tuíte voltou à tona com a revelação de Villas Bôas, em depoimento a um livro da Editora FGV, de que teve aval do Alto Comando para publicar aquela mensagem. Esta versão provocou manifestações de repúdio de ministros do Supremo. Após a anulação da condenação de Lula, neste mês, os militares preferiram o silêncio.

Na Força Aérea Brasileira, a lista é encabeçada pelos tenentes-brigadeiros do ar Carlos de Almeida Baptista Júnior, do Comando Geral de Apoio, Luiz Fernando de Aguiar, do Comando de Preparo, e Marcelo Kanitz Damasceno, chefe do Estado-Maior da Aeronáutica.

Baptista Júnior é o mais cotado. Nas redes sociais, ele costuma divulgar mensagens otimistas sobre a vacinação no País, em linha com a estratégia de comunicação do Palácio do Planalto, além de curtir críticas de deputados e influenciadores bolsonaristas a "comunistas". Esse comportamento é bem visto no Palácio do Planalto, além de ser considerado um ponto que conta a favor dele por oficiais consultados pela reportagem.

Um nome bem quisto por oficiais influentes no governo Bolsonaro é o do tenente-brigadeiro do ar Marcelo Damasceno, terceiro na lista de antiguidade da FAB. Ele é chefe do Estado Maior da Aeronáutica. Antes, foi chefe do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica e teve grande exposição durante a Operação Regresso, que resgatou brasileiros isolados em Wuhan, na China, por causa da pandemia do novo coronavírus.

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Na ordem de antiguidade da Marinha, estão os almirantes de esquadra Alípio Jorge Rodrigues da Silva, comandante de Operações Navais, Almir Garnier Santos, secretário-geral do Ministério da Defesa, e Marcos Silva Rodrigues, chefe do Estado-Maior da Armada.

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