Aproximação estratégica ou armadilha política: o que está por trás da nova fase Brasil-EUA

Com Trump à frente e Rubio como articulador, nova ofensiva diplomática levanta dúvidas sobre intenções reais dos norte-americanos

8 out 2025 - 04h59
Resumo
EUA e Brasil iniciaram aproximação diplomática liderada por Trump e Rubio, com foco em interesses geopolíticos e econômicos, mas especialistas alertam para possíveis armadilhas devido à imprevisibilidade do líder norte-americano.
Os presidentes Lula e Donald Trump durante seus discursos no Debate Geral da Assembleia Geral das Nações Unidas na sede da ONU em Nova York, em 23 de setembro de 2025
Os presidentes Lula e Donald Trump durante seus discursos no Debate Geral da Assembleia Geral das Nações Unidas na sede da ONU em Nova York, em 23 de setembro de 2025
Foto: ANGELA WEISS/Getty Images

Com o presidente Donald Trump à frente e Marco Rubio como articulador, os Estados Unidos se aproximaram diplomaticamente do Brasil. Embora a lógica atual da aproximação pareça mais orientada por negócios do que por armadilhas políticas, o histórico de Trump como figura imprevisível não permite totalmente descartar essa possibilidade, segundo especialistas consultados pelo Terra.

Com posições ideológicas distintas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Trump conversaram pela primeira vez na segunda-feira, 6. Em uma videoconferência de cerca de 30 minutos de duração, eles tiveram "uma ótima conversa", segundo o americano publicou em sua rede social. O Planalto informou em nota que o papo foi em “tom amistoso”.

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Para o cientista político e professor do curso de Relações Internacionais da ESPM, Fabio Andrade, embora em outros momentos Trump tenha utilizado estratégias de aproximação seguidas de exposição pública negativa de líderes estrangeiros, como o que aconteceu com o ucraniano Volodymyr Zelensky, houve dois grandes interesses, que diminuíram as chances da aproximação ser uma armadilha para o Brasil.

O primeiro é o geopolítico: afastar o Brasil da China e dos BRICS, num momento em que os EUA buscam conter a influência chinesa e defender o papel do dólar como moeda internacional. O segundo é econômico: diversos setores da economia americana, como hotelaria e alimentação, dependem de produtos brasileiros, e um eventual aumento de custos poderia pressionar a inflação interna. 

“A chance de ser uma cilada permanece, dado o caráter imprevisível do presidente norte-americano, mas o grande interesse da política externa norte-americana é enfrentar a economia chinesa e os interesses políticos da China. Então, possivelmente, uma explicação para a aproximação do Trump é trazer Lula para mais perto dos EUA e afastar o Brasil dos BRICS e da China”, afirma Fabio Andrade. 

Andre Senna Duarte, economista e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), afirma que a ligação entre Trump e Lula na prática pode ser pouco relevante uma vez que esta dinâmica de morde e assopra do Trump com outros países não implicou redução significativa das tarifas.

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“Trump gosta de testar os adversários e faz movimentos de tensão e destensionamento para avaliar o quanto pode extrair da relação”, pondera Senna Duarte.

Trump diz que pode vir ao Brasil após ligação com Lula: 'Vamos começar fazer negócios'
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Internamente, as tarifas de 50% impostas ao Brasil tiveram um impacto limitado nos Estados Unidos. A inflação americana subiu pouco, e o crescimento da inteligência artificial tem ajudado a compensar fragilidades em setores como o imobiliário. 

Mesmo que economicamente não dê para apontar o maior prejudicado, para Senna Duarte, o Brasil deve sempre estar disposto a negociar. É o momento de adotar uma postura pragmática. “Neste momento, o Brasil deve oferecer uma pauta mínima em que seja vantajoso para ambas as partes negociar. Não é hora de tentar ser ambicioso com Donald Trump”, frisa.

Mediação de Marco Rubio

Embora tenha feito o primeiro contato com Lula, Trump escalou o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, para dar sequência às negociações com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Fabio Andrade alerta que essa mediação deve ser vista com atenção. 

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Rubio, conhecido por adotar um discurso mais conservador e uma postura linha-dura nas tratativas internacionais, tem um histórico de oposição a governos de esquerda na América Latina. Desde que assumiu o cargo, equivalente ao ministro das Relações Exteriores brasileiro, ele tem sido o mais vocal membro do governo a endossar sanções contra países comandados por políticos de esquerda.

“Pode ser que a gente note, em virtude do Rubio, a seguinte combinação estranha: um aprimoramento das relações comerciais casado com uma manutenção do endurecimento do ponto de vista de ações individuais contra juízes. É uma combinação estranha, mas é uma combinação que pode acontecer”, pondera. 

Fonte: Portal Terra
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