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Para uruguaia que ajuda a investigar morte de Jango, ditaduras mantêm mistérios

26 mar 2014 - 08h32
(atualizado às 12h23)
Jango e Maria Thereza Goulart, na casa El Ventisco, em Punta del Este, durante o exílio no Uruguai
Jango e Maria Thereza Goulart, na casa El Ventisco, em Punta del Este, durante o exílio no Uruguai
Foto: Instituto João Goulart / Reprodução

Cinquenta anos depois do golpe militar que derrubou o governo do presidente João Goulart, a diretora da secretaria de Direitos Humanos para o Passado Recente, ligada à Presidência do Uruguai, Graciela Jorge, acredita que "ainda existe muito a ser descoberto sobre o que ocorreu nas ditaduras simultâneas nos países do Cone Sul".

Graciela, que ajuda nas investigações sobre a morte de Jango - que fugiu para o Uruguai e depois para a Argentina, onde morreu - e está em contato permanente com a Comissão Nacional da Verdade do Brasil, acredita que o golpe no Brasil teve um importante impacto simbólico no cenário político da época nos países vizinhos.

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"Foi um golpe de Estado em um país imenso e que marcou o começo de uma etapa de golpes e ditaduras nos países que o rodeiam", afirmou, em entrevista à BBC Brasil.

Se referindo à Operação Condor - como ficaram conhecidas as ações conjuntas de militares dos países da região contra opositores a partir da década de 70 -, Graciela Jorge disse que os militares do Brasil, da Argentina, do Uruguai, do Paraguai e do Chile agiram com "cumplicidade" e "conivência".

"Mas eu acho que essas ações de repressão começaram antes (da Operação Condor), e é o que também devemos investigar. Ainda há muito a saber sobre nossa história recente, marcada por arbitrariedade, torturas e desaparecimentos de pessoas."

Xadrez

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Depois do Brasil, ocorreu o golpe civil-militar no Uruguai em junho de 1973. Junto com as Forças Armadas, o presidente Juan María Bordaberry fechou o Congresso Nacional e deu início ao período ditatorial que durou até 1985.

Em setembro daquele mesmo ano, o general Augusto Pinochet liderou o golpe militar contra o governo do socialista Salvador Allende, no Chile. Três anos mais tarde, no dia 24 de março de 1976, os militares, liderados pelo general Jorge Rafael Videla, assumiram o poder na Argentina.

No Chile, a democracia foi restaurada em 1990 e na Argentina, em 1983. Só o Paraguai é que enfrentou um período mais longo de ditadura militar do que o Brasil: o general Alfredo Stroessner tomou o poder em 1954 e ficou até 1989.

"Eu era muito jovem em 1964, mas lembro como todos nós aqui no Uruguai ficamos chocados com o golpe militar no Brasil. Hoje acho que foi como um jogo de xadrez, com (...) o maior país da região vivendo o golpe e, depois, os outros seguindo a mesma etapa ditatorial", disse.

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Jango

O corpo de Jango - que fugiu para o Uruguai e depois para a Argentina após o golpe - foi exumado no fim do ano passado para verificação da causa da sua morte. Familiares e autoridades brasileiras suspeitam que ele tenha sido envenenado.

Na época da morte, em 1976, não foi realizada autópsia no corpo do ex-presidente. "Os resultados (dos exames atuais) são incertos. Podemos ter ou não a revelação do que realmente aconteceu com ele", disse a secretária.

Graciela Jorge afirmou ainda que "é preciso continuar investigando" todo o período das ditaduras na região porque, na sua opinião, somente agora algumas suspeitas de violações de direitos humanos daquele período estão sendo reveladas ou realmente investigadas - como é o caso, citou, da morte suspeita de Jango.

Ela lembrou que outros casos de mortes suspeitas na ditadura foram investigados somente recentemente - caso, por exemplo, dos ex-presidentes chilenos Eduardo Frei Montalva e Salvador Allende e do escritor chileno e Premio Nobel de Literatura Pablo Neruda.

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Em 2005 foi aberta uma investigação judicial para se saber se Frei Montalva, pai do ex-presidente chileno Eduardo Frei, foi envenenado. Quatro anos mais tarde, em 2009, um juiz concluiu que ele teria morrido envenenado.

No caso de Allende, a conclusão foi de suicídio no momento em que o Palácio presidencial de La Moneda era bombardeado por tropas lideradas por Pinochet, e de Neruda, por estar doente.

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