O que o papa disse em ligação à família de Marielle, segundo irmã da vereadora assassinada

Anielle Silva diz que Francisco telefonou após contato por email e disse à sua mãe, em português 'meio carregado', que está rezando pela família.

22 mar 2018 - 08h51
(atualizado às 09h12)
Irmã de Marielle diz que toda a família é católica e devota de Maria, como o papa | Foto: Júlia Dias Carneiro/BBC Brasil
Irmã de Marielle diz que toda a família é católica e devota de Maria, como o papa | Foto: Júlia Dias Carneiro/BBC Brasil
Foto: BBC News Brasil

O telefone tocou, Marinete da Silva atendeu e começou um bafafá danado, com a mãe de Marielle Franco e a família tentando entender o que estava acontecendo, "se era o papa ou não era o papa", relata a irmã da vereadora, Anielle Silva.

E de fato era o próprio papa Francisco, que ligou para o celular de Marinete para prestar solidariedade à família pelo brutal assassinato de Marielle.

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A vereadora do PSOL foi morta a tiros semana passada no Rio, quando voltava para casa na noite de quarta-feira, em um ataque que também tirou a vida do motorista do carro, Anderson Gomes.

Anielle conta que o Papa falou com sua mãe em um português "meio carregado".

"Ele falou que sente muito e que está rezando pela família da Marielle", conta.

"Ela ficou em êxtase. Minha mãe é muuuuuito católica", diz.

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A formação católica foi passada dos avós para as filhas, e também para a neta, Luyara Santos, filha de Marielle.

'Reze pela minha mãe'

Filha de Marielle escreveu ao papa por meio de um intermediário na Argentina | Imagem: Reprodução
Foto: BBC News Brasil

Depois da morte da mãe, Luyara, que tem 19 anos, escreveu um email para o papa - na verdade para um intermediário na Argentina, o jornalista Lucas Schaerer - com o assunto: "Papa, reze pela minha mãe Marielle Franco."

"Esse é um momento de muita dor, uma espada corta as nossas almas. Te peço que ore por nós, pelas mulheres, pelo povo negro, pela vida nas favelas do Rio de Janeiro, pela nossa cidade e pelo nosso país", escreveu a jovem.

"São muitos discursos de ódio e precisamos de amor."

Schaerer, da ONG argentina La Alameda, respondeu no mesmo dia, confirmando ter recebido a "emocionante carta ao papa Francisco" e que a encaminharia a ele naquele mesmo dia.

A mensagem chegou ao papa, que fez o telefonema. A ligação foi confirmada e comemorada no Facebook pelo diretor da ONG e amigo pessoal do Papa, Gustavo Vera.

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Catequista na igreja

Ligação foi comemorada por amigo pessoal do papa
Foto: Reuters

Marielle era devota de São Jorge e passou a juventude frequentando a Igreja Nossa Senhora dos Navegantes, ao lado da casa onde a família vivia, no Complexo da Maré.

Durante dez anos, ela foi catequista na igreja, dando aulas para as turmas de primeira comunhão, mesmo depois de ter a filha, aos 19 anos.

"Luyara nasceu num dia 24 de dezembro. Na época, Marielle ainda era catequista. Uma semana depois, ela apresentou a filha na paróquia, e ela foi batizada lá mesmo, conta a mãe da vereadora.

A BBC Brasil conversou com Marinete na segunda-feira, antes do telefonema do papa. Na ocasião, questionada sobre o pingente de Nossa Senhora de Aparecida que ela levava no pescoço, ela confirmou, orgulhosa, ser uma devota.

"Aqui em casa todo mundo é mariano (devoto de Maria)", sorriu Marinete, sem saber que logo receberia um telefone de outro ilustre devoto de Nossa Senhora.

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Mariele Franco nasceu em 1979 e foi batizada Marielle Francisco da Silva.

Seu pai, Antonio Francisco da Silva, explica que ela resolveu "simplificar o Francisco e botar o Franco".

"Achou que era um nome mais forte. Não que quisesse diminuir o Francisco, claro."

Quando o novo pontífice foi apontado, o pai provocou a filha. Disse que deveria ter mantido o Francisco - afinal, ninguém ia achar que o nome do papa era fraco.

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