Itamaraty cobra explicações da Venezuela por acordo com MST

Visita de ministro venezuelano sem aviso prévio causa mal-estar no governo brasileiro, que exige esclarecimento da embaixada

6 nov 2014 - 15h36
(atualizado às 15h36)

A visita ao Brasil do ministro venezuelano para o Poder Popular das Comunas e Movimentos Sociais, Elias Jaua, sem comunicar o Itamaraty, causou mal-estar em Brasília. Durante a viagem, ele assinou um convênio com o MST (Movimento dos Sem Terra), entre outras atividades.

El ministro de Relaciones Exteriores de Venezuelas, Elias Jaua, habla durante una rueda de prensa en Caracas.  26 de mayo 2014. Jaua increpó el lunes al jefe de la diplomacia de Estados Unidos, John Kerry, por criticar el manejo de las protestas antigubernamentales y acusó a Washington de buscar el derrocamiento del Gobierno socialista del país sudamericano.
El ministro de Relaciones Exteriores de Venezuelas, Elias Jaua, habla durante una rueda de prensa en Caracas. 26 de mayo 2014. Jaua increpó el lunes al jefe de la diplomacia de Estados Unidos, John Kerry, por criticar el manejo de las protestas antigubernamentales y acusó a Washington de buscar el derrocamiento del Gobierno socialista del país sudamericano.
Foto: Carlos Garcia Rawlins / Reuters

O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, pediu explicações, nesta quarta-feira, ao representante da embaixada da Venezuela no Brasil.

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Segundo a assessoria do ministério, Figueiredo convocou o encarregado de negócios do venezuelano, Reinaldo Segóvia, para “manifestar a estranheza do governo brasileiro” com a visita de Jaua, que cumpriu agenda de trabalho, sem notificar o Itamaraty.

Já a assessoria do MST disse que o convênio não foi “formalizado”. “A carta assinada foi apenas de intenções na área da cooperação agrícola, realizando intercâmbios entre camponeses do Brasil e da Venezuela para a troca de experiências agroecológicas. Mas ainda não tem nada concretizado sobre o assunto”, informaram.

Na diplomacia, a ausência de um aviso pode ser interpretada como ingerência em assuntos internos e prejudicial às relações dos dois países.

Revolução socialista

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Segundo o site do ministério venezuelano, o acordo firmado com o MST tem como objetivo “incrementar a capacidade de intercâmbio de experiências de formação”.

Nas palavras de Jaua, o convênio serve “para fortalecer o que é fundamental em uma revolução socialista, que é a formação, a consciência e a organização do povo para defender o que conquistou e seguir avançando na construção de uma sociedade socialista”.

Além do encontro com o MST, o ministro venezuelano fechou convênios com farmacêuticos no Paraná e conheceu experiências de transporte público e gestão de resíduos da prefeitura de Curitiba.

Convocação dos ministros

O líder da oposição no Congresso, o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), apresentou um requerimento de convocação de Figueiredo. O ministro foi chamado a prestar esclarecimentos à Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.

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“O governo tem a obrigação legal e constitucional de jamais permitir que sejam assinados acordos, por quem quer que seja, em que sejam violados os princípios da soberania e da não intervenção”, defendeu Caiado.

Um acordo entre a base aliada e a oposição transformou a convocação em convite, ou seja, o ministro não é obrigado a comparecer. No entanto, Figueiredo já confirmou presença na audiência da comissão, marcada para 19 de novembro.

No Encontro Nacional da Indústria, realizado nesta quarta-feira em Brasília, Caiado classificou o convênio como “venezualização do Brasil” e foi aplaudido pela plateia de empresários.

Já o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) foi vaiado ao tentar defender o governo. “Se a Venezuela financia ou quer convênio com o MST, é um problema da Venezuela e do MST”, disse.

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Babá com arma

Na chegada ao Brasil, no dia 24 de outubro, pelo aeroporto internacional de Guarulhos, a babá da família de Jaua foi presa, acusada de tráfico internacional de armas. Ela carregava um revólver, que pertencia ao ministro, em uma das maletas. A arma foi identificada quando a bagagem passou pelo raio-x.

A família chegou ao aeroporto em um avião da PDVSA, a estatal de petróleo da Venezuela. A babá foi liberada, e o ministro afirmou que a viagem com a arma havia sido “um erro”.

Segundo Jaua, a babá havia viajado ao Brasil para ajudá-lo nos cuidados com a esposa dele, que passava por um tratamento de saúde em um hospital em São Paulo.

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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