Índios da Amazônia começam a sofrer com doenças urbanas

26 out 2013 - 06h11
(atualizado às 06h47)

Os índios da Amazônia já não sofrem tanto com a malária, relativamente sob controle na maior floresta tropical do mundo, mas sim com as doenças comuns das grandes cidades, como a hipertensão arterial e a dislipidemia.

Assim constatou um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) feito com índios da etnia Khisêdjê que vivem no Parque do Xingu, um enorme conjunto de reservas ambientais e indígenas com 27 mil km² no meio da Amazônia do Mato Grosso e longe das grandes cidades.

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Os índios, apesar de permanecerem na selva e conservarem parte de suas tradições, não são alheios às chamadas "doenças da modernidade", disse à Agência Efe Suely Godoy Agostinho Gimeno, coordenadora do estudo que elaborou o "Perfil Nutricional e Metabólico dos Khisêdjês".

O estudo, baseado em avaliações médicas feitas em 179 índios em 2011, constatou que a doença de maior incidência atualmente entre os khisêdjês é a hipertensão arterial, ao contrário de 1965, quando as principais causas de morte nesta etnia eram a malária, as doenças respiratórias e a diarreia.

De acordo com a pesquisa, apesar das doenças infecciosas e parasitárias ainda serem uma importante causa de mortalidade entre estes índios, as que mais cresceram nos últimos anos foram as crônicas não transmissíveis, como a hipertensão, a intolerância à glicose e a dislipidemia, que é um aumento anormal na taxa de lipídios no sangue.

A avaliação mostrou que 10,3% dos índios sofrem de hipertensão arterial. Os casos mais preocupantes atingem 18,7% das mulheres e 53% dos homens.

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A intolerância à glicose foi diagnosticada em 30,5% das mulheres e em 17% dos homens, e a dislipidemia em 84,4% dos pacientes avaliados.

Se comparada à população não indígena a prevalência dessas doenças ainda é inferior, mas significativa para um grupo em que os índices de doenças da modernidade eram irrelevantes.

"Nossa hipótese é que essas transformações ocorreram devido a uma maior aproximação dos centros urbanos e à intensidade do contato dos índios com a sociedade não indígena", afirmou Suely Godoy.

A especialista também atribuiu o fenômeno ao fato de alguns índios passarem a ser assalariados e deixar de lado as práticas de subsistência tradicionais.

O problema também pode ser explicado, segundo a pesquisadora, pelo "maior acesso dos índios a bens de consumo como alimentos industrializados, eletrônicos e barcos a motor, que anula a necessidade de remar".

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Suely Godoy esclareceu que os khisêdjês vivem nas aldeias do Parque do Xingu e estão distantes cerca de cinco horas por terra do centro urbano mais próximo.

"Mas, eventualmente, eles vão até lá e têm acesso aos mercados das cidades", disse ao se referir à presença de alimentos industrializados na dieta de uma etnia que durante séculos viveu da agricultura, da caça e da pesca.

O perfil de saúde da etnia ficou prejudicado devido às mudanças que "favorecem a incorporação de novos hábitos e costumes, e reduzem os níveis de atividade física tradicional", afirmou.

O estudo constatou que 36% das mulheres estão com sobrepeso ou obesidade, porcentagem que chega a 56,8% no caso dos homens.

A doutora em Saúde Pública admite que é difícil "generalizar" para outras etnias da Amazônia ou do Brasil o ocorrido com os khisêdjês devido à diversidade existente entre os povos indígenas do país, principalmente pelas diferenças culturais e ambientais.

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Mas esse perfil de saúde, que inclui atualmente a presença das chamadas "doenças da modernidade", já foi relatado em outros povos que vivem tanto no Parque do Xingu como em outras regiões, como é o caso dos Xavantes, assegurou.

Atualmente, o Parque do Xingu abriga, aproximadamente, 5.500 indígenas de 15 etnias vivendo em 61 aldeias.

  
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