Operação no RJ expõe falhas na inteligência da corporação, apontam especialistas

A ação foi considerada a segunda mais letal da história do Rio de Janeiro, com 25 mortes confirmadas até o momento; ninguém foi preso

25 mai 2022 - 16h19
(atualizado às 17h10)
Operação policial na Vila Cruzeiro termina com 24 mortos
Operação policial na Vila Cruzeiro termina com 24 mortos
Foto: DW / Deutsche Welle

A operação policial conjunta que terminou com 25 mortos na Vila Cruzeiro, na Zona Norte do Rio de Janeiro na terça-feira, 24, expõe falhas na inteligência da corporação. A análise é de especialistas em Segurança Pública ouvidos pelo Terra.  

A operação, que segundo o comando da Polícia Militar estava sendo planejada há meses, foi deflagrada para impedir uma suposta migração de líderes da facção criminosa Comando Vermelho para a Rocinha. A ação já é considerada a segunda operação mais letal da polícia na história do Rio de Janeiro.

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Uma das vítimas fatais foi a moradora Gabriele Ferreira da Cunha, de 41 anos, atingida por uma bala perdida dentro de casa. Todos os demais mortos, de acordo com a polícia, seriam suspeitos de integrar a facção, mas seus nomes não foram divulgados.

O professor Leandro Piquet Carneiro, do Instituto de Relações Internacionais da USP e coordenador da Escola de Segurança Multidimensional, aponta que a operação expõe que as forças policiais do Rio de Janeiro vivem em situação de crise permanente. Com o que ele chama de "experiências sempre fracassadas", o especialista avalia que esse tipo de confronto é um exemplo histórico de "políticas malsucedidas". 

"Não levam a sério a complexidade do trabalho policial que tem diante de si", completa.

Piquet diz ainda que as polícias cariocas usam grupos táticos treinados e altamente letais, mas não usam a inteligência para evitar mortes e confrontos em áreas predominantemente residenciais.

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"O resultado esperado de qualquer operação policial são prisões. Claro que a resistência resulta na morte de um oponente, mas não pode ser mais de 20 mortos para zero presos", observa.

Operação malsucedida

Para o professor de Direito David Pimentel de Siena, que coordena o Observatório de Segurança Pública da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), a operação não pode ser considerada bem-sucedida. "Pelo contrário. Se isso significa aplicação da lei penal, não foi um sucesso. Se tivéssemos 25 pessoas presas, seria", defende.

Na análise do professor, houve excesso por parte das polícias envolvidas, visto que ninguém foi preso na operação, e principalmente porque o caso não foi isolado. Siena atribui a falha à lógica militar que sustenta as polícias há décadas. 

"Cada vez mais corpos militares se comportando como se estivessem indo à guerra, em detrimento das atividades investigativas", aponta.

Vídeo traz barulho de tiros durante ação da polícia no Rio
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Polícia do RJ

Por meio de nota, a Polícia Militar do Rio de Janeiro informou que a ação teve por objetivo localizar e prender lideranças criminosas que estão escondidas na comunidade, inclusive, criminosos oriundos de outros Estados do país, como Amazonas, Alagoas e Pará, entre outros. Apesar de não ter presos, a PM-RJ enumerou as apreensões da operação: 13 fuzis, quatro pistolas, 12 granadas, 5.360 pinos de cocaína, mais de 4 mil unidades de maconha, 7,8 mil pedras de crack, mais de 130 bolas e tabletes embalados de maconha e cocaína, além de 45 vidros de lança perfume.

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Além disso, a PM-RJ informou que foram arrecadados ainda oito granadas, uma pistola, 16 carregadores de fuzis  e 13 munições calibre 380. 

MPF e MP investigam

O Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ) abriram procedimentos investigatórios para apurar as condutas, eventuais violações a dispositivos legais, as participações e responsabilidades individualizadas de agentes policiais federais durante operação conjunta com o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Antes da ação ser deflagrada, o MPF diz que recebeu ofício da Polícia Rodoviária Federal informando sobre a ação. O documento dizia respeito a "cumprimento de mandados de prisão" e "desarticulação de organização criminosa". 

O MPF divulgou que solicitou aos superintendentes da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal, , em caráter de urgência, as seguintes informações:

  1. Número do efetivo dos agentes que participaram da operação conjunta;
  2. Qualificação completa destes agentes, com a cópia de suas respectivas fichas funcionais;
  3. Relatório final da operação realizada, bem como informações detalhadas sobre o cumprimento dos mandados de prisão expedidos pela 1ª Vara Criminal da Regional Madureira
  4. O local da realização do briefing e cópia da ordem de serviço relacionada a operação policial.
Fonte: Redação Terra
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