Bolsonaro treina tiro ao alvo na Polícia Federal

Investigado por interferência na corporação, presidente aproveitou visita para atirar com pistola, espingarda e fuzil de grosso calibre

24 jun 2020 - 22h14
(atualizado em 25/6/2020 às 07h37)

BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro aproveitou uma visita ao Comando de Operações Táticas (COT) da Polícia Federal para treinar tiros com fuzis e pistolas. A prática de tiros ocorreu na última segunda-feira, dia 22, quando Bolsonaro foi ao órgão para a cerimônia de abertura da Semana Nacional de Política Sobre Drogas.

Investigado por suspeita de interferência política na PF, o presidente atirou em alvos com pelo menos três armas diferentes, de curto e longo alcance, conforme vídeo divulgado pela assessoria da corporação nesta terça-feira, 23.

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O presidente disparou em alvos fixos no stand de tiro usado pela tropa de elite da PF. Bolsonaro atirou com pistola, espingarda e um fuzil de grosso calibre para alvo a longa distância.

A visita de Bolsonaro ao Comando da PF, em que testou pistola, espingarda e fuzil
A visita de Bolsonaro ao Comando da PF, em que testou pistola, espingarda e fuzil
Foto: Reprodução/Twitter / Estadão Conteúdo

O presidente deverá ser interrogado pela PF nos próximos dias, para determinar se houve ou não interferência política. O inquérito está em "estágio avançado". O relator no Supremo Tribunal Federal, ministro Celso de Mello, avalia se o presidente deverá prestar esclarecimentos pessoalmente ou poderá responder por escrito.

Autoridades da cúpula da PF acompanharam a visita, entre elas o delegado-geral, Rolando Alexandre de Souza, e o coordenador-geral de Polícia de Repressão a Drogas e Facções Criminosas, delegado Elvis Secco. Fez parte da comitiva o delegado Alexandre Ramagem, diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Ramagem era o nome preferido de Bolsonaro para chefiar a PF, com aval dos filhos do presidente, dos quais se tornou amigo.

Em abril, a tentativa de impor Ramagem no lugar do ex-delegado-geral Maurício Valeixo causou a demissão do então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. Bolsonaro queria ter um nome de sua confiança no posto, segundo Moro, para colher dados de inteligência e das investigações no Supremo. Ex-juiz da Operação Lava Jato, Moro fez a denúncia publicamente, em seu discurso de despedida do cargo, o que levou a Procuradoria-Geral da República a abrir uma investigação.

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Bolsonaro negou qualquer interferência, mas o governo recuou da nomeação de Ramagem e indicou o delegado Rolando, que também fazia parte da cúpula da Abin. A desistência ocorreu depois de o STF interferir na escolha e vetar Ramagem por indícios de desvio de finalidade.

O presidente também tirou fotos com agentes e cães farejadores, a K-9 Unit, e recebeu um emblema da PF em tamanho ampliado. Bolsonaro posou ao lado de uma placa com sua silhueta e a faixa presidencial, confeccionada por ocasião da visita que ele fez ao COT, ainda como presidente eleito, em dezembro de 2018. A placa de homenagem tem o slogan de campanha do presidente gravado: "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos".

Na visita ao COT ocorrida em 2018, Bolsonaro também praticou tiros com diferentes armas e, em tom jocoso, afirmou que "metralharia" quem pedisse cargos a ele. Agora, o governo negocia abertamente cargos com parlamentares de partidos do Centrão, para barrar qualquer ameaça ao mandato presidencial.

"'Quero o Porto de Santos'. Tá. Rajada. 'Quero Itaipu Binacional'. Na ponto 50 (referência ao calibre). 'Quero ir para o DG (diretoria-geral) da PF'. Vrau (faz gesto de arma)", disse, gargalhando, ao então diretor-geral Rogério Galloro.

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Acompanharam Bolsonaro na visita os ministros da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos; do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno; e da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça.

Na semana passada, Bolsonaro fez um agrado à PF ao publicar parecer da Advocacia-Geral da União que garantiu a diferentes grupos de policiais a mesma regra de aposentadoria, com salário integral e paridade com os da ativa, conforme aprovado na reforma da previdência. Antes, a depender do concurso, os policiais estavam submetidos a regras díspares.

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