Se você estiver com a sensação de que o real sentido do Natal ficou enterrado sob montanhas de papel de presente, observar como outros países comemoram a data pode trazer surpresas alentadoras.
As tradições natalinas variam radicalmente de um lugar para outro. Elas surgem de acordo com o cenário, a história, os valores e o clima de cada lugar.
Em muitos países, as pessoas trocam presentes, mas os rituais em torno deles apresentam enormes diferenças.
São costumes adotados há muito tempo, que mostram que o Natal não precisa ser comercial. Ele pode ser colaborativo, criativo ou comunitário.
As pessoas podem cantar em igrejas iluminadas à luz de velas ou homenagear silenciosamente a família. E até observar aranhas.
Seja relembrando os entes queridos que partiram ou se dedicando a um jogo multigeracional, aqui estão sete tradições natalinas que você pode adotar em qualquer parte do mundo.
1. Islândia: ler à luz de velas após a ceia de Natal
Na Islândia, as editoras publicam uma série de livros novos nos dias que antecedem o Natal. Este fenômeno sazonal é conhecido como jólabókaflóð, o "dilúvio de livros de Natal".
A tradição remonta à Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando havia racionamento da maioria dos produtos, exceto de papel. Por isso, os livros passaram a ser o presente de Natal mais prático da época.
Atualmente, o costume ajuda a sustentar o setor islandês de publicações de nicho, fortalece o amor pelo idioma local, que está em risco de desaparecer, e agrada os amantes de livros de todo o país.
No dia 24 de dezembro, as famílias trocam presentes, fazem a ceia de Natal e passam a noite lendo seus novos livros à luz de velas, talvez com uma caixa de chocolates e uma bebida ao seu lado.
É um ritual que parece distintamente islandês, mas um dos mais fáceis de se reproduzir em qualquer lugar.
2. Japão: mimar sua cara-metade
O Japão é predominantemente não cristão. Talvez por isso, o país comemora o Natal de uma forma distinta.
No lugar da celebração familiar, a véspera de Natal se parece mais com o Dia dos Namorados, oferecendo uma noite romântica para os casais.
As ruas marcadas pelo inverno brilham com as luzes de Natal, os restaurantes oferecem menus especiais e os hotéis de luxo, normalmente, ficam lotados.
Os alimentos natalinos também são bastante diferentes. Os japoneses comemoram comendo kurisumasu keki, um bolo leve em camadas com creme e morangos perfeitamente cortados.
Para pegar emprestado o espírito da tradição, reserve um pouco de tempo para se dedicar ao seu parceiro, em meio ao habitual caos familiar.
3. Austrália: jogar críquete no quintal de casa
Na Austrália, o dia de Natal reúne o sol, a comida e a família.
E também é uma época de pegar uma lata de cerveja, um taco e alguns tocos para se dedicar a uma importante tradição familiar australiana: o jogo de críquete de Natal.
Todos são convidados e todas as idades são bem-vindas.
Em um dia por ano, jogar críquete deixa de ser questão de ganhar ou perder, mas sim de todos participarem. Se o seu sobrinho de cinco anos errar uma jogada na primeira tentativa, por exemplo, alguém provavelmente irá fechar os olhos e deixá-lo jogar de novo.
As regras variam de uma casa para outra e algumas são mais rigorosas. Mas, para quem mora em um clima mais frio, é melhor esperar que o tempo melhore ou optar por um jogo de tabuleiro dentro de casa.
4. Finlândia: visitar os ancestrais
Homenagear os parentes falecidos é parte fundamental do Natal finlandês. Na véspera de Natal, as famílias visitam os cemitérios para acender velas para os entes queridos que não estão mais presentes.
Segundo o portal This is Finland, 75% dos lares finlandeses participam das homenagens, transformando os cemitérios em serenos cenários de neve e luzes de velas cintilantes.
Os cemitérios podem ficar superlotados nesta época do ano, mas as homenagens ainda são consideradas um raro momento de paz e reflexão, em meio a um período alucinante.
E as visitas costumam ser seguidas por outra venerada tradição finlandesa: a sauna em família da véspera de Natal.
5. Ucrânia: homenageando as aranhas
No oeste da Ucrânia, a decoração de Natal mais típica não são as estrelas ou outros enfeites, mas sim as teias de aranha enfeitadas.
Este costume vem da Lenda da Aranha de Natal, uma história do folclore do leste europeu. Nela, uma aranha decora a árvore de Natal de uma mulher pobre demais para comprar ornamentos.
Ela acorda de manhã e encontra sua árvore brilhando com teias prateadas. E, daquele dia em diante, sua família nunca mais enfrentará dificuldades.
Os ucranianos preparam teias delicadas, com papel e fios, e as enrolam em torno da árvore como um enfeite.
Encontrar uma aranha de verdade ou sua teia em uma árvore é considerado sinal de boa sorte e o costume é não espantá-las nesta época do ano.
Portanto, a forma mais simples de adotar esta tradição é manter as teias de aranha sossegadas.
6. Dinamarca: fazer decorações artesanais
O dia de klippe klistre (literalmente, "cortar e pendurar") é um ritual dinamarquês fundamental.
Casas, escolas e locais de trabalho de todo o país promovem sessões de artesanato, para produzir guirlandas elaboradas, estrelas trançadas e corações de papel. A intenção é levar o espírito de Natal para as salas de aula, escritórios e salas de estar.
Esta é uma oportunidade de se reunir e criar um senso de comunidade com a criatividade, alimentado pelas æbleskiver (pequenas rosquinhas de Natal), biscoitos e gløgg, o poderoso vinho quente da Dinamarca.
Depois de anos de prática, os dinamarqueses aprendem a transformar o mais simples material em algo mágico. Mas uma simples guirlanda de papel pode representar um toque do artesanato escandinavo em sua casa.
7. Venezuela: pegue seus patins
As missas da época de Natal na Venezuela são alegres, comunitárias e, muitas vezes, animadas. Elas são acompanhadas de sinos, bombinhas e, às vezes, fogos de artifício nos dias que antecedem o Natal.
Mas o costume mais marcante é como as pessoas costumam chegar para as missas: de patins.
A tradição é de chegar patinando à Misa de Aguinaldo, no início da manhã. Ela é celebrada diariamente entre 16 e 24 de dezembro, entre 5 e 6 horas.
As crianças costumam ir para a cama cedo, para conseguirem chegar à igreja de madrugada. E muitos adultos andam de patins a noite toda para chegarem juntos para a missa.
É um ritual adorável, que transforma um momento solene em algo leve e comunitário, com vizinhos deslizando lado a lado pelas ruas silenciosas.
Se você não souber patinar, participar de uma missa ou outro evento comunitário pode trazer a mesma sensação de compartilhar com os demais a comemoração anual.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Travel.