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Conheça Ikaro Kadoshi, um dos maiores nomes do cenário Drag Queen do Brasil

Ikaro é palestrante, performer e apresentador do ‘Caravana das Drags’ e da live oficial da Parada, organizada pelo Terra

10 jun 2023 - 05h00
Íkaro Kadoshi: "Minha luta é para que nenhuma criança passe pelo o que eu passei"
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Ao chegar no escritório, localizado na zona sul de São Paulo, me deparo com Ikaro Kadoshi na porta, com um sorriso de ponta a ponta do rosto, em uma roupa executiva de luxo. A Drag havia acabado de fazer uma palestra sobre diversidade em uma empresa. 

"Junho é o meu Natal", comemorou o apresentador, brincando com o sucesso que tem feito durante esse mês do Orgulho LGBTQIA+.

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A primeira pergunta não poderia ser a mais óbvia para apresentar uma pessoa: “Quem é Ikaro Kadoshi?”. E a resposta me pegou de surpresa.

Ikaro já apresentou dois programas na televisão.
Ikaro já apresentou dois programas na televisão.
Foto: Gabriel Moraes/Terra / Gabriel Moraes/Terra

“Eu acho que é a pergunta que eu nunca vou conseguir responder, acredita? É a primeira coisa que me vem a cabeça e a mesma que eu falo para todo mundo quando perguntam qual é a definição do Ikaro enquanto artista. Eu falo que o Ícaro é uma tela em branco e eu posso pintá-la todos os dias da maneira que eu quiser. A arte que escolhi viver que é a arte drag, que me dá uma liberdade que eu desconhecia.”

Ikaro partiu para um lado filosófico, o que diz muito sobre a personalidade daquele que é considerado uma das principais drag queens do Brasil. 

Os pioneirismos de Ikaro

Com um extenso currículo, Ikaro já performou em muitos lugares do mundo, como em países da Europa e dos Estados Unidos. Além disso, já foi host para outras drags que se apresentaram no Brasil, como Bianca Del Rio.

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O pioneirismo também é marca de Kadoshi. Ele foi a primeira Drag Queen da América Latina a apresentar um programa de televisão, com Penelope Jean e Rita von Hunty. Juntas, apresentaram duas temporadas de ‘Drag Me As a Queen’, onde juntas ajudaram mulheres a descobrir seu potencial através de suas histórias e, ao final, se tranformavam em uma drag também. O programa é reprisado no canal E!.

Foi pioneiro também ao ser a primeira queen do mundo a fechar uma parceira com a Nike, se tornando embaixadora da marca para causa LGBTQIA+ nos esportes.  

Este ano, Ikaro embarcou em uma nova aventura ao apresentar um novo reality ao lado de ninguém menos que Xuxa, com o reality ‘Caravana das Drags’, disponível no Amazon Prime Vídeo.

Nele, Ikaro e Xuxa  viajam pelo Brasil em um ônibus para conhecer várias drag queens pelo país. As participantes competiram entre si pelo título de "Drag Soberana" e, para isso, devem provar todo seu talento com figurinos glamourosos e performaces arrasadoras. 

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Por tudo isso, Ikaro também é seguido por milhares de pessoas em suas redes sociais. 

Ao apresentar esse extenso currículo para Ikaro e perguntar sobre como lidar com o sucesso, sua voz ficou tremula.

“Eu tenho lampejos… dessa importância que eu não acho que eu tenho. Ouvir você dizer essas coisas me emocionou muito porque eu me acho muito longe de tudo isso. Talvez porque eu foque no que eu ainda tenho que lutar e no que eu ainda tenho que fazer não do que já ficou para trás nas conquistas que tive. Eu ainda estou aprendendo a ser meu melhor amigo. E nesse processo ainda vai chegar a hora de eu poder dizer em voz alta sobre essas conquistas todas e essas coisas todas que você disse. No momento eu não consigo fazer isso."

Dois em um, só.

Quem pariu Ikaro Kadoshi foi Tiago Liberato, que nasceu na cidade de São José dos Campos, no interior de São Paulo.

Aos 19 anos descobriu a arte de se maquiar e personificar personagens de cinema e o mundo da androginia. No ano 2000 nasce Ikaro Kadoshi. Ikaro vem do seu amor pela mitologia grega. Kadoshi em hebraico quer dizer “o santo”.

Ikaro em seu escritório, na zona sul de São Paulo.
Foto: Gabriel Moraes/Terra / Gabriel Moraes/Terra

Mas até a chegada de Ikaro, o processo de Tiago para se descobrir um homem gay foi doloroso. 

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“Ikaro foi a resposta que o Tiago precisava para não se tornar a pior pessoa que ele poderia conhecer. Eu sou forjado pela dor como a grande maioria dos LGBTQIA+ no Brasil, mas eu tenho requintes da Era medieval”, afirmou Ikaro.

Ao nove anos, Tiago já sabia que era diferente dos demais meninos. Certa vez, sua mãe o mandou ir à padaria comprar pão e no percurso levou um chute e foi chamado de "viado". Foi a primeira vez que Ikaro ouviu o xingamento.

“Quem me definiu assim foi o mundo. Não eu… Então eu cheguei em casa chorando e falei para minha mãe o que tinha acontecido. Ela falou para eu não se preocupar com isso e que a gente conversa mais para frente.”

Aos 13 anos, decidiu revelar para sua família. Mas conversando com colegas da escola sobre o assunto, Tiago perguntava paras as pessoas se elas sabiam que acontecia com as pessoas como ele. E, segundo o apresentador, 100% das pessoas falavam que ele seria mandado embora de casa.

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“Eu decidi me assumir aos 13 anos numa mesa de jantar. Mas antes eu cheguei à tarde. Fiz igual o desenho do Pica-Pau. Abri o lençol, joguei todas as minhas roupas, fiz aquela trouxa e coloquei um cabo de vassoura, literalmente foi isso que fiz. Porque eu estava pronto para ser mandada embora e eu não tinha para onde ir.”

A drag apresenta a live oficial da Parada LGBT+, nos perfís de Terra nas redes sociais.
Foto: Gabriel Moraes/Terra / Gabriel Moraes/Terra

Mas, para a tripla  surpresa de Tiago, além de ser bem aceito por sua mãe, sua irmã se revelou lésbica e a própria mãe assumiu ser bissexual. Neste momento, Ikaro se emocionou novamente. 

“Mamãe criou a gente de uma maneira muito linda com o que ela sabia que era sempre aberta a falar sobre tudo independentemente do assunto. E isso fez toda a diferença na minha vida. Porque quando eu percebi que eu poderia falar com a minha mãe desde o que acontecia com o meu corpo ao que acontecia com a minha mente, o mundo ficou pequeno. Então, ser aceito pelo meu núcleo familiar me deu a coragem e a força para enfrentar o mundo inteiro.”

Na luta

No final do primeiro momento da entrevista, Ikaro ressaltou que sua luta é para que as pessoas entendam que as milhares de agressão que se fazem contra a população LGBTQIA+ todos os dias tem uma falsa intenção positiva de "ajudar".

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“Não há intenção positiva quando você quer apagar o que é uma pessoa ou quem é essa pessoa e como ela se entende”, afirmou.  “Eu tinha todos os motivos para ser a pior pessoa do mundo, para ser uma pessoa reativa, para ser uma pessoa agressiva – como a gente conhece vários LGBTs que são reativos e agressivos porque é assim que o mundo os ensinou a sobreviver. Talvez por um milagre da minha relação com Deus eu digo que ele quem me fez transmutar e transformar todo esse ódio que habitava em mim e devolver a essas pessoas e tentar devolver todos os dias pro mundo, para ironia dessas pessoas.”

Para entender a essência de Ikaro Kadoshi, afinal, basta entender a seguinte frase dita por ele: “Entender que eu tenho os mesmos direitos e deveres que todas as pessoas porque eu habito mesmo o planeta que elas, mudou toda a concepção da minha luta e como eu luto. É isso.”

***Pelo segundo ano consecutivo, o Terra é media & business partner oficial do maior evento popular a céu aberto do mundo, a 27ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, reforçando o nosso compromisso com a diversidade, potencializando as vozes e as lutas pela causa.Patrocínio Máster: Smirnoff

Patrocínio: Vivo

Apoio: Pantene, Amstel, Jean Paul Gaultier, L'Oréal, Mercado Livre, Accor.

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Fonte: Redação Terra
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