Natália, do BBB 22, e a objetificação de corpos negros

Mulheres negras de maneira geral sofrem com a solidão causada pelo racismo e machismo

15 mar 2022 - 07h00
(atualizado às 10h56)
Mulheres como a Natália ainda sofrem para conseguir uma relação que haja afeto
Mulheres como a Natália ainda sofrem para conseguir uma relação que haja afeto
Foto: Reprodução/Globo

Dentro do BBB 22 já foi visto a participante Natália chorando chateada por causa de preterimento e objetificação. Na primeira vez quando o Rodrigo negou a ela um beijo, na segunda quando Lucas beijou a Eslovênia depois de passar a tarde trocando carícias com ela, Natália, e na terceira quando o Eliezer só a procurava bêbado e para pegação, mas a ignorava, de maneira romântica, o resto o tempo. A situação se agravou quando o mesmo Eliezer passou a “brincar” com as amigas delas causando até um estranhamento entre as comadres. Por fim, no último paredão, o Eli se aproximou da Nati para ela salvá-lo da berlinda criando assim uma suspeita sobre se o movimento do brother foi simplesmente por interesse, já que antes disso ele negava qualquer relação mais afetiva e carinhosa.

Para entender com plenitude sobre esse preterimento, precisamos voltar no regime escravocrata que perdurou por mais de 350 anos no Brasil. Como muitas outras cicatrizes sociais, é lá que nasce os estigmas racistas que afetam a população negra. As mulheres de pele como a da Natália, eram alvos do desejo carnal dos homens brancos. Elas eram as mais caçadas pois carregavam no rosto traços negros suavizados pela miscigenação e nos seus corpos os quadris largos oriundos da negritude. Nessa época tinha um ditado que dizia que brancas eram para casar, mulatas para fornicar e pretas para trabalhar.

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Ainda hoje vemos como essas mulheres são hipersexualizadas. O turismo sexual do Brasil é forjado na imagem das negras da pele mais claras. Termos como "mulata tipo importação" e "cor do pecado" nascem disso. Um dos símbolos dessa questão é a globeleza, a imagem dela atraia estrangeiros voltados para o turismo sexual durante o Carnaval, mas sua imagem era replicada o ano todo para que esses mesmos procurassem o Brasil para suas fantasias sexuais.

Globeleza surgiu na década de 1990 e é um reflexo da cultura patriarcal
Foto: Reprodução/Globo

Quando trazemos para a realidade do dia a dia, mulheres como a Natália ainda sofrem para conseguir uma relação que haja afeto, carinho e respeito. Para essas mulheres o amor é negado. É comum serem muito procuradas para encontros escondidos, lances esporádicos, no sigilo. Quase nunca elas são apresentadas para família e amigos.

Diferente do que prega o sexismo, ser objeto de desejo puramente sexual não é vantagem alguma, sobretudo, em uma sociedade que condena o sexo recreativo para mulheres e prega a castidade sobre os corpos femininos.

Mulheres negras de maneira geral sofrem com a solidão causada pelo racismo e machismo. A elas é dadas migalhas afetivas enquanto a plenitude, o afeto, ainda é reservado, na maioria das vezes, para as mulheres brancas.

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Mulheres como a Natália ainda sofrem para conseguir uma relação que haja afeto, carinho e respeito
Foto: Reprodução/Globo
Fonte: Luã Andrade Luã Andrade é criador de conteúdo digital na página do Instagram @escurecendofatos. Formado em comunicação social e membro da APNB. Luã discute questões étnico raciais há dez anos e acredita que o racismo deva ser debatido em todas as esferas da sociedade.
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