É STJD? Noite confusa na natação deixa até Mr. Pan “p...”

No Pan de Toronto, natação viveu noite em que principais assuntos foram protestos e apelações, não piscinas

17 jul 2015 - 09h02
(atualizado às 11h19)

A natação do Pan de Toronto viveu uma verdadeira noite de Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) na última quinta-feira. O começo foi alucinante: na primeira prova da noite, a canadense Emily Overholt, que bateu em primeiro, colocou a mão na boca e olhou com cara de espanto para o telão ao descobrir que estava desclassificada – o fato rendeu uma medalha de bronze à brasileira Joanna Maranhão. Na final seguinte, foi a vez de Thiago Pereira fazer cara de choque, também com a eliminação e o recorde histórico de maior medalhista em Pans escapar.

Os dois episódios aceleraram as provas no Centro Aquático de Natação, já que pódios não foram realizados. Mas a noite ficou mais turbulenta: funcionários, jornalistas e membros da organização circulavam por todos os lados com a pergunta: “o que está acontecendo?”. Seja no complexo ou pela televisão, torcedores também perguntavam o mesmo. Agora, você provavelmente já foi informado que as duas apelações foram negadas. Mas sabe o que realmente ocorreu nos bastidores do Pan? Entenda tudo abaixo:

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1) O que os nadadores fizeram?

Uma prova de natação é composta, obviamente, por diversas regras. O medley, evento que é uma mistura dos estilos, conta com algumas mais específicas sobre o movimento de virada de cada estilo. Os casos sofridos por Emily Overholt e Thiago Pereira são bem parecidos e terminaram com o mesmo destino.

Cada juiz na prova acompanha um nadador em uma raia. Os árbitros analisam se todos cumprem as regras da prova. Os juízes do medley da última quarta encontraram duas falhas semelhantes nos nadadores desclassificados: Emily Overholt não teria batido simultaneamente com as duas mãos na virada do nado costas para o peito, enquanto Thiago Pereira teria tocado apenas uma mão na virada do peito para o crawl.

Thiago Pereira usa as redes sociais para se defender
Thiago Pereira usa as redes sociais para se defender
Foto: Instagram / Reprodução

2) O que acontece depois?

Obviamente, há o desespero dos nadadores com as medalhas de ouro tiradas após saírem da piscina extenuados. A parte jurídica cabe para os chefes de delegação. No caso do Brasil, Ricardo Moura, diretor da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) e chefe da delegação da natação, tinha 20 minutos para fazer um protesto formal. E o fez, assim como os diretores canadenses.

3) E como é o processo de julgamento do recurso?

Aí é a parte complicada. O julgamento da ação conta com diversas regras específicas e é muito subjetivo. Normalmente, as chances de um nadador recuperar a medalha em casos como o de Thiago Pereira e da canadense são quase nulas, porque levam em conta a decisão de um juiz de prova.

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O protesto é analisado, e a partir de então há um interrogatório que envolve os juízes. Diversas perguntas sobre a prova são feitas repetidas vezes. O detalhe é: não são analisadas imagens, mesmo que elas mostrem que o atleta estava correto, como era o caso do Thiago. A palavra do árbitro é a lei.

Thiago Pereira morde seu bronze conquistado nos 200 m peito
Foto: Satiro Sodré/SS Press / Divulgação

A primeira resposta sobre o assunto é rápida. Contudo, se o protesto é negado, as delegações podem fazer uma apelação sobre o tema, que leva mais tempo. Foi o que ocorreu tanto com Canadá quanto com o Brasil. Aí, um júri pode decidir se leva a questão para instância mais altas da Odepa, organizadora do Pan, ou se sacramenta a decisão. A apelação dos dois países foi negada ainda no Centro Aquático de Toronto.

4) O que os atletas dizem?

A nadadora canadense passou pela zona mista desolada com o olhar fixo no telão e sequer fez comentários. Thiago Pereira, ainda ofegante, teceu opiniões sobre a situação. Obviamente, se descreveu como “p...”. Se tivesse garantido a medalha, ele se tornaria oficialmente o maior medalhista da história dos Jogos Pan-Americanos, ao lado de um ginasta cubano. Agora terá duas provas para nadar e terá que medalhar em ambas para obter a marca isoladamente.

“Eles alegaram que virei com uma mão o peito/crawl. Mas é quase impossível, não tem jeito. Ele pode ter falado que virou com uma mão em cima e outra em baixo, mas uma mão não tem jeito. O seu nado já está com as duas mãos, a mecânica não deixa. Não sei a sensação que é. P... talvez, mas não frustrado. Acho que um pouco p.... É um erro que não tem jeito, podia alegar costas/peito, uma ondulação a mais, agora no peito/crawl não tem jeito”, revoltou-se.

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Foto: Osmar Portilho / Terra

5) O que a CBDA e o COB podem fazer?

Depois da apelação ser negada, nada. Ricardo Moura disse que viu Thiago Pereira bater com as duas mãos e levou até a última ação ser rejeitada. Mesmo depois da decisão, era possível ver ele discutindo com organizadores. Após o episódio, o qual chamou de “extremamente desagradável”, o que a CBDA faz é tentar dar apoio ao psicológico do atleta.

“Fui até o final e queria uma resposta diferente, até pela situação que envolve. Eu não tenho a menor noção do custo disso. É um custo de desgaste para as próximas fases. Mas ele tem experiência, hoje à tarde ele estava muito cansado, precisa de calma e tranquilidade, vamos com calma. Esse fato não faz parte da vida maravilhosa e da história que esse cara construiu”, exaltou.

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Extra: Estados Unidos são “Rei do Tapetão”?

O curioso de toda a polêmica é que na noite anterior os Estados Unidos também foram desclassificados da prova do revezamento 4x200 m, fizeram um protesto e conseguiram recurso a favor. Obviamente, o caso era diferente: um dos americanos teria nadado com uma fita em dois dedos, o que é ilegal, mas que havia sido liberado na checagem. Algo como o Leonardo de Deus com a touca errada no Pan de 2011. 

Ranking Geral - País Ouro Prata Bronze TOTAL
Canadá 38 36 23 97
Estados Unidos 34 28 34 96
Brasil 18 15 28 61
Cuba 18 14 19 51
Colômbia 17 7 16 40
Veja o quadro completo aqui
Fonte: Terra
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