Juiz italiano conhecido pela postura linha-dura adotada no desmembramento da máfia siciliana Cosa Nostra, Giovanni Falcone foi assassinado junto à esposa e a guardas-costas por mafiosos em 1992, quando seu carro passava por uma estrada na qual foram instalados explosivos. Sua memória é “motivo de orgulho” para os italianos, como ressalta o goleiro Gianluigi Buffon. Sua memória foi atacada pelo capitão do Palermo, Fabrizio Miccoli, que causou uma polêmica a qual respingou na seleção italiana.
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“Aquele sujo do Falcone”, é o cântico que teria saído repetidamente da boca de Miccoli, segundo uma escuta telefônica a qual teve acesso a Procuradoria de Palermo. Ele repetiria o cântico ao lado de Mauro Lauricella, filho do chefe mafioso Antonio Lauricella. A gravação foi divulgada na imprensa italiana nesta semana.
O jogador já foi notificado pela Justiça italiana para depor por acusação de extorsão e crime informático. Ele já havia sido investigado anteriormente por ligações com Mauro Lauricella. Segundo o jornal italiano La Repubblica, Miccoli teria pedido ajuda ao filho do chefe mafioso pare recuperar dinheiro investido em uma discoteca.
A polêmica envolvendo o atacante do Palermo virou tema da conferência de imprensa oficial da Fifa desta quarta-feira, véspera da partida entre Itália e Espanha. As equipes se enfrentam nesta quinta, a partir das 16h (de Brasília), no Estádio Castelão, em Fortaleza, pela semifinal da Copa das Confederações.
Goleiro e capitão da seleção italiana, Buffon foi questionado sobre o assunto e pausadamente, escolheu bem as palavras antes de responder. “Estou convencido de que suas palavras não são o que ele ache verdadeiramente. Ao final somos homens, dizemos de tudo e algumas vezes, de maneira superficial, deixamo-nos levar por comentários de muitas pessoas, sem dar peso àquilo que estamos dizendo”, disse, sobre a suposta gravação na qual Miccoli insultaria a memória de Falcone.
“Creio que falar de uma pessoa, de um magistrado que teve o final como o de Falcone e também o de (Paolo) Borsellino... creio que uma parte do orgulho de sermos italianos e de representar a Itália seja devido ao fato de que a Itália foi representada por personagens como eles”, completou, citando ainda outro magistrado.
Junto a Falcone, Borsellino, levou a cabo diversos processos judiciais contra a máfia siciliana. Ele morreu num atentado com uma viatura, menos de dois meses após o assassinato de Falcone. O chefe mafioso Salvatore Riina cumpre prisão perpétua pela morte de ambos.
Presidente da Federação Italiana de Futebol (FIGC), Giancarlo Abete desembarcou em Fortaleza para assistir à semifinal entre Itália e Espanha e também foi questionado sobre o caso Miccoli nesta quarta-feira.
“Seguramente não são aceitáveis julgamentos lesivos sobre a pessoa de Giovanni Falcone, cuja figura é um orgulho para o país. É seguramente forte o risco que gângsteres possam entrar no mundo do futebol, mas nós todos nos reconhecemos em figuras como Falcone e Borsellino”, afirmou Abete.
O dirigente disse ainda estar atento à conferência de imprensa que Miccoli concederia nesta quinta-feira para falar sobre as interceptações judiciais e a amizade suspeita com Mauro Lauricella.