"Alquimista" e agora "bombeiro": conheça homem que tenta unir Neymar a Messi

Novo treinador do Barcelona, Gerardo Martino mudou o futebol paraguaio e trocou dinheiro pelo sonho de ser campeão com o clube que sempre amou

17 ago 2013 - 15h50
(atualizado em 18/8/2013 às 08h45)
<p>Bem sucedido em todos os seus trabalhos nos últimos 10 anos, Martino chega para resgatar o melhor Barcelona. Sua estreia será no domingo</p>
Bem sucedido em todos os seus trabalhos nos últimos 10 anos, Martino chega para resgatar o melhor Barcelona. Sua estreia será no domingo
Foto: Reuters

Vestido com shorts e camiseta, um boné na cabeça e um sorriso discreto e aparentemente sincero estampado no rosto. Gerardo Martino chega para sua entrevista coletiva neste sábado mais ou menos como caminha por Rosário, na Argentina, sua terra querida. Por lá é conhecido pela simplicidade, pelas raízes com o Newell’s Old Boys e por sentar durante longas horas para falar de futebol. É assim que também já é visto pelos catalães.

Primeiro treinador de Neymar no futebol europeu, carrega desde o berço, além do apelido Tata, alguns valores que certamente facilitarão sua adaptação ao Mundo Barça. Impõe sua liderança com trabalho, honestidade e não se importa em usar mais os ouvidos que a boca. Meia habilidoso, forjou seus conhecimentos a partir das ordens do então jovem Marcelo Bielsa, pelo argentino Newell’s Old Boys que perdeu a Copa Libertadores de 1992 para o São Paulo.

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10 anos para transformar o futebol paraguaio

Exatamente uma década depois de sua provável derrota mais dolorosa, Tata conseguia seu primeiro grande momento já como treinador. Assumiu um então modesto Libertad e, de cara, foi campeão paraguaio. Foi o embrião para 11 participações seguidas de Libertadores, feito inédito na história do torneio. Ganhou o título nacional de novo em 2003, saiu para ganhar com o Cerro Porteño em 2004 e voltou para ganhar outra vez pelo Libertad em 2006.

Martino após a eliminação do Paraguai na Copa do Mundo
Foto: AP

O fato de impor uma dinastia em um time pequeno e com valores jovens era prova das habilidades de Martino, naturalmente eleito à seleção paraguaia após a Copa de 2006. Adepto do futebol de técnica, do protagonismo, Tata já conhecia bem os jogadores que dirigia. Renunciou a algumas convicções e o Paraguai teve cinco anos brilhantes sobre seu comando.

Em 2010, terminou as Eliminatórias empatado na vice-liderança com o Chile, só um ponto atrás do Brasil de Dunga. Foi, para muitos, o adversário mais duro da Espanha no mata-mata da Copa da África, também a melhor campanha do país na história. Em 2011, se despediu com o vice da Copa América. Melhor resultado paraguaio em mais de 30 anos. Nas Eliminatórias atuais, sem Martino, o Paraguai é lanterna. O único sem chances para 2014.

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A volta por amor a Rosário e o sonho que morreu em Victor

Antes de José Pekerman, a Colômbia queria outro treinador argentino. Tata, exatamente. Fez esforços econômicos, mas o rosarino preferiu voltar para casa. Assumiu o Newell’s, seu clube do coração. Ameaçado pelo rebaixamento, sem vencer havia 15 jogos e quebrado. Gerardo Martino salvou o time e por preços abaixo do mercado atraiu Gabriel Heinze, Maxi Rodríguez e Nacho Scocco. Montou sua espinha dorsal para vencer o Campeonato Argentino em 2012.

Gerardo Martino pelo Newell's no Estádio Independência, onde o sonho da Libertadores foi pelos ares
Foto: Reuters

Com um zagueiro canhoto e técnico, um meia de grande dinamismo e um atacante inteligente, Martino colocou suas ideias em prática para a Copa Libertadores. O Newell’s se caracterizou pelo toque de bola no chão desde a defesa, a constante busca pelo domínio do jogo e o uso de um falso centroavante. Alternou entre o 4-2-3-1 e 4-3-3 e, por pouco, não atingiu assim sua maior glória.

Rival que mais impôs dificuldades sobre o Atlético-MG, o Newell’s tinha o controle no Estádio Independência quando um súbito apagão alterou os rumos daquela semifinal. Guilherme acertou um chute indefensável e levou o jogo para os pênaltis. Faltou frieza para o time de Tata Martino, que se despediu depois de uma incrível defesa de Victor contra Maxi Rodríguez.

A recompensa do destino pelas mãos de Lionel Messi

Sem Manuel Pellegrini, acertado com o Manchester City, o Málaga queria Martino, mas para isso deveria abrir mão da Copa Libertadores que havia parado para a Copa das Confederações. Tata disse não e também ficou sem o título que desejava. Mas o destino separava algo bem mais grandioso. O Barça perdeu Tito Villanova por um tumor. Queria Luis Enrique ou André Villas Boas, mas ambos estavam amarrados.

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Ai resolveram chamar o "bombeiro" Martino para apagar esse fogo. Tata não só era livre como barato para os padrões europeus, alinhado às ideias de Pep Guardiola e querido por Lionel Messi. Era o ídolo de seu pai, Jorge Messi. Adrián Coria, auxiliar de Martino, treinou Leo quando criança no Newell’s. O que inicialmente era uma solução impensável, no fim se encaixou por vários fatores. Gerardo chegou à Europa pelo clube mais badalado. O maior presente de sua vida aos 50 anos.

Messi sobre Neymar:"Nos damos muito bem fora da campo"
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Humilde a ponto de dizer que “custaria dizer algo a Messi nos aspectos individuais”. Ou de admitir, neste sábado, que “já via este como um grupo de jogadores com bom futebol, boa técnica, mas no treinamento é incrível notar a qualidade de cada um. É muito maior do que pensava de fora”.

Uma declaração de Messi ilustra o que se espera de Tata no Camp Nou. “Ele não vem mudar nada, mas sim recuperar o que fazíamos bem”, disse o melhor do mundo. Gerardo Martino tem sensibilidade, talento e história suficientes para dar conta disso. Neymar, pode se dizer, teve sorte com o primeiro treinador que encontra no futebol europeu.

Fonte: Terra
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