Zeca Carvalho, atacante de 28 anos, quase desistiu do futebol para cursar engenharia, mas superou adversidades e hoje brilha como artilheiro no Shandong Taishan, da China.
Zeca Carvalho, de 28 anos, ganhou fama no futebol asiático nas últimas temporadas após rodar por times brasileiros no início da sua carreira. Atualmente, o atacante soteropolitano veste as cores do Shandong Taishan e soma 10 gols e quatro assistências em 17 jogos nesta edição do Campeonato Chinês.
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Antes de desembarcar na cidade de Jinan, o brasileiro brilhou na Coreia do Sul e figurou na seleção do campeonato do país em 2023. O sucesso na Ásia, no entanto, quase não aconteceu por causa de frustrações nas tentativas de emplacar no mundo da bola.
Após se lesionar em um jogo da equipe B do Boavista, de Portugal, a vontade de desistir da carreira e voltar para a faculdade de engenharia civil por pouco não venceu Zeca.
"Quando eu estava no Bahia e no Vitória, cheguei a cursar dois anos e meio de engenharia. Eu tinha um outro caminho a seguir", disse ele, em entrevista exclusiva ao Terra. Mas, a proposta do time português o fez largar a graduação. O que ele não podia prever era o que o destino o reservava. "Quando eu fui para Portugal, eu quebrei a clavícula no meu primeiro jogo da temporada, num jogo de chuva, nunca vou esquecer".
A ambulância, segundo ele, entrou em campo e o levou direto para o hospital público da cidade portuguesa. "Eu fiquei sentado na cadeira de rodas das oito [da noite] até às quatro da manhã. Na frente da sala de espera, porque não tinha cama. Fiquei o tempo todo segurando meu braço, todo molhado da chuva. E eu só pensava que podia estar em casa, de boa, estudando, com meus amigos e minha família”, revela.
Foi justamente nesse episódio, porém, que Zeca virou a chave e acordou com o “triplo de vontade” de dar certo no futebol. Após a cirurgia, o atacante passou mais dois anos no Boavista e voltou para o Brasil. Ainda com algumas dificuldades, passou por Goiás, Criciúma, Oeste e Londrina até chegar ao Mirassol. Na equipe do interior de São Paulo, em 2022, fez grande início de Campeonato Paulista com seis gols em 11 jogos e, então, se mudou para a Coreia do Sul, no momento em que lutava pela artilharia do estadual do Brasil.
A decisão de deixar o Brasil justamente em um momento de ascensão seguiu uma vontade que teve influência do atacante Roberto durante a passagem pelo Londrina. O soteropolitano queria seguir a carreira em um futebol em que pudesse viver o extracampo com mais tranquilidade, longe da incansável pressão de torcedores.
“Eu quero uma vida onde consiga viver o extracampo, com tranquilidade para trabalhar, independentemente do resultado que o time está tendo. As coisas caminharam muito bem [na Coreia do Sul]”, recorda.
Posteriormente, o lado financeiro pesou na mudança da Coreia do Sul para a China: “Só que você tem que pensar no futuro, né? E aí, aparece a oportunidade de eu vir pra China, sendo financeiramente mais rentável, uma oportunidade financeiramente melhor", conta ele, que disse ter ouvidos muitos conselhos contrários. "Quando apareceu a proposta, muita gente ficava falando: ‘você vai pra China? A China é tudo fechado’. É outra vida. É uma propaganda que fazem contra a China, que não faz jus. Quem mora aqui sabe realmente como é."
Zeca seguiu os seus instintos e se surpreendeu positivamente com o que encontrou por lá. "Me surpreendeu muito quando eu cheguei aqui, em termos de vivência, de estrutura. É outro mundo." Mas ele convivia com uma outra dúvida. O atacante se recuperava de uma lesão no ligamento cruzado do joelho e vivia com o medo de não voltar a desempenhar um bom futebol. A questão física, contudo, passou longe de ser um problema e rapidamente o atacante começou a balançar as redes.
“Estou muito feliz com meus números até agora. Artilharia nunca foi uma coisa que me prendeu os olhos. Nunca me importei com nada individual. Se a gente ganhar e o gol for do goleiro, tá ótimo. Eu só quero ganhar. Quero estar ali pra ajudar. Se eu precisar dar um carrinho na zaga, vou dar um carrinho na zaga”, explica sobre a luta pela artilharia no Campeonato Chinês.
Esse lado voluntarioso, inclusive, é uma das características que o camisa 19 usa para se definir, além da velocidade e do poder de finalização. Para falar sobre o seu estilo de jogo, o atacante também recorda de uma brincadeira que tinha com um de seus técnicos da Coreia do Sul.
“Tinha um treinador que falava: ‘cara, você é bom em tudo, mas você não é o melhor em nada’. Ele falava isso e eu respondia: ‘você é muito filho da put* por falar um negócio desse’”, lembra em tom bem-humorado. E a resenha com o antigo treinador passou a servir de combustível nos treinamentos: “Aquilo me focava a ser o melhor. Eu sou um cara que aprendo muito, estou em constante evolução”.
Em boa fase, Zeca quer seguir fazendo história no futebol asiático: “Não tenho vontade nenhuma de voltar pro Brasil. Não tenho vontade de sair da Ásia. Eu pretendo ficar aqui até o fim, pretendo encerrar aqui. Pretendo voltar pro Brasil e que ninguém me conheça, que eu saia na rua ninguém enche meu saco”, completa.