Funcionária: Caboclo tentou acordo para omitir assédio

Secretária voltou ao trabalho na CBF recentemente, mas ressalta: "É uma dor que hora nenhuma sai de mim"

19 set 2021 - 23h57
(atualizado em 20/9/2021 às 07h27)

A secretária de Rogério Caboclo, cujo nome está sendo mantido em sigilo, revelou neste domingo novos detalhes sobre os assédios sofridos na sede CBF pelo seu presidente. A funcionária contou que sofreu seguidas intimidações e teve quadro grave de depressão após os episódios. Em tentativa de acordo, foram oferecidos a ela cursos na Europa, dinheiro para a compra de um novo apartamento e promoção na entidade com um bom plano de carreira. A secretária afirma, porém, que recusou qualquer acordo com o dirigente e, a partir daí, recebeu pedidos absurdos de Caboclo, como não revelar os casos de assédio e justificar sua ausência no trabalho como problemas familiares.

Rogerio Caboclo foi afastado do cargo de presidente da CBF
Rogerio Caboclo foi afastado do cargo de presidente da CBF
Foto: Wallace Teixeira / Futura Press

"Eu pedi para ele (Rogério) sair da presidência da CBF. Ele se recusou e em troca me ofereceu uma indenização para comprar um apartamento, fazer um curso na Europa com todas as despesas pagas e ter uma promoção para um cargo de gerência, para ficar lá até me aposentar. Só que eu não tinha a menor condição de continuar trabalhando na CBF com aquele homem, que me dava uma sensação de terror só de pensar em estar ao lado dele novamente", contou a funcionária em entrevista ao Fantástico, da TV Globo.

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Ela voltou ao trabalho na entidade depois de cinco meses afastada. A funcionária diz que seguirá lutando pelo respeito às mulheres no ambiente profissional e relatou todas as dificuldades enfrentadas ao longo destes meses licenciada da CBF.

"É uma situação pela qual nenhuma mulher deveria passar em nenhum momento da vida. É uma dor que não acaba. É uma dor que hora nenhuma sai de mim. Hora nenhuma eu esqueço que ela existe. Está sempre presente, latente, em todos os momentos do meu dia. A minha dignidade não tem preço. Porque fiquei pensando nas mulheres que viriam depois de mim. Era inaceitável proteger um assediador", disse a funcionária, que também recordou como se sentiu depois de relatar os casos de assédio.

"Eu tive muitas crises de pânico. Principalmente porque sofri muitas ameaças do Rogério Caboclo. Ele mandou um carro na porta da minha casa, sensação de estar sendo seguida. Ele mandou invadir meu computador, minha conta bancária", explicou e ainda afirmou que os casos de assédio começaram logo nos primeiros contatos com o presidente afastado. "Desde o primeiro momento já ultrapassou o limite comigo. Desde a primeira viagem, para Luque, no Paraguai. E ele, nessa viagem, fez comentários a respeito do meu corpo. Eu achei que aquilo não cabia numa relação de patrão-empregado. Nessa mesma viagem, ele passou a madrugada ligando para o meu quarto, eu não atendi."

Há cerca de três meses, a funcionária da CBF revelou sofrer assédio sexual e moral do presidente afastado. Em áudios gravados, Caboclo pergunta sobre relacionamentos da subordinada, detalhes da vida pessoal dela e se ela se masturbava. Há pouco mais de duas semanas, Rogério Caboclo fez um acordo com o Ministério Público do Rio de Janeiro para o pagamento de R$ 110 mil em ração e aparelhos de celular para arquivar o processo na área criminal sobre os casos de assédio moral e sexual contra uma funcionária da CBF. O mandatário nega todas as acusações.

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Caboclo foi afastado do comando da entidade no mês de junho e, após o desenrolar das investigações, a Comissão de Ética pediu que ele ficasse fora do cargo por 15 meses por 'conduta inapropriada'. A decisão cabe à Assembleia Geral da entidade confirmar. Integrantes do alto comando da CBF trabalham para que Caboclo saia definitivamente do posto e uma nova diretoria possa assumir o comando do futebol. Patrocinadores e a Fifa estão em alerta sobre os rumos da entidade que conduz o futebol brasileiro.

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