Rebelo e Ronaldo criticam pessimismo com Copa: "síndrome de vira-lata"

10 out 2013 - 14h56
(atualizado às 15h04)
<p>Aldo citou Nelson Rodrigues para criticar "falta de entusiasmo" com a Copa</p>
Aldo citou Nelson Rodrigues para criticar "falta de entusiasmo" com a Copa
Foto: Getty Images

O Comitê Organizador Local (COL) e o governo brasileiro ainda não concordam com a falta de otimismo do povo nacional sobre a capacidade de o País organizar a Copa do Mundo de 2014. Em reunião com a Fifa nesta quinta-feira no Rio de Janeiro, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, resgatou o escritor Nelson Rodrigues para evocar a empolgação nacional. O ex-atacante Ronaldo, membro do COL, endossou o pedido. 

"O Nelson Rodrigues falava desse pessimismo atávico (hereditário) e qualificava de complexo de vira-lata a descrença do País em realizar coisas importantes", destacou Rebelo, presente na bancada ao lado de Jérôme Valcke e Thierri Wiell (secretário-geral e diretor de marketing da Fifa, respectivamente) e Ricardo Trade (diretor de operações do COL), além de Ronaldo.

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O ex-atacante, maior artilheiro da história da Copa do Mundo (com 15 gols no total), disse ver que fora do País a empolgação com o Mundial no Brasil é maior. "O que eu tenho visto é realmente um grande entusiasmo das pessoas, muitos em vir pela primeira vez e conhecer nosso País e muitos de voltar ao país do futebol e ver aquela que esperam ser a melhor Copa de todos os tempos. O que eu vejo lá fora é totalmente diferente do que eu vejo aqui dentro. Há um grande entusiasmo", contou. 

Confira, a seguir, como foi a entrevista com os membros da Fifa e do COL e os principais temas abordados. 

Aldo Rebelo (ministro do Esporte)

O Nelson Rodrigues falava desse pessimismo atávico e qualificava de complexo de vira-lata a descrença do País em realizar coisas importantes. É um traço civilizatório nosso e se junta a traços ideológicos e políticos, a uma torcida para dar errado. Sou jornalista e nunca achei que a minha profissão desse o dom da profecia. Prever que haverá manifestações, qual a segurança de que isso aconteça? Pode não haver.

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O País se prepara para um ambiente na Copa do Mundo de acolhida aos visitantes, aos turistas, às delegações, aos torcedores. Acho que o Brasil, mesmo convivendo com os problemas que produziram as manifestações em junho e junho, pode fazer uma Copa em um ambiente de paz e tranquilidade. Não vejo assim, com tanto pessimismo, a possibilidade de realizar uma Copa do Mundo em um ambiente pacífico. Mas por falar em complexo de vira-latas, estamos preparando uma edição das crônicas selecionadas do Nelson Rodrigues n sobre a Seleção Brasileira. É um antídoto para a sobrevivência desse complexo entre nós.

Ronaldo (ex-jogador e integrante do COL)

Estou deste abril morando em Londres e tenho feito algumas viagens promovendo a Copa do Mundo no Brasil. O que eu tenho visto é realmente um grande entusiasmo das pessoas, muitos em vir pela primeira vez e conhecer nosso País e muitos de voltar ao país do futebol e ver aquela que esperam ser a melhor Copa de todos os tempos. O que eu vejo lá fora é totalmente diferente do que eu vejo aqui dentro. Há um grande entusiasmo. Lógico que a população deseja também educação, saúde e segurança, mas o povo também quer ver a Copa do Mundo. É um momento complicado, o povo saindo na rua exigindo direitos, mas é importante mostrar que a competição está trazendo muitos benefícios aos brasileiros.

Jérôme Valcke (secretário-geral da Fifa)

É um dos estádios onde há trabalho a se fazer, e ele está sendo monitorado de maneira permanente pelo COL. Temos pessoas que vão lá regularmente para se encontrar com os responsáveis por estádio, gramado, entorno... Não há um minuto a perder agora para que o estádio fique pronto para a Copa. É um dos estádios onde há trabalho a se fazer e temos que estar atentos. A questão não é estar pronto ou não: eles ficarão prontos para a Copa do Mundo. A questão é quando ele estará disponível para instalarmos os equipamentos necessários. Por isso deve ser acelerado.

Jérôme Valcke (secretário-geral da Fifa)

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Queremos o melhor para as seleções, que também esperam o melhor. Muitas seleções e muitos jogadores estão acostumados a jogar no gramado de melhor qualidade. A idade do gramado não está como o esperado em Brasília, esperamos que melhore – isso não é uma crítica, é um fato. Mas estamos em outubro, a Copa será daqui 245 dias, temos muito tempo para certificar de que o campo esteja bom até lá. É também para garantir que não haja eventos que não são de futebol, que possam destruir o gramado. Quanto aos demais estádios, o de São Paulo está perfeitamente a caminho. Teve  uma época em que houve preocupações, mas quando você começa a monitorar e a trabalhar com o restante da equipe, podemos alcançar o que queremos. Falamos de Cuiabá, Curitiba... há estádios onde ainda há muito a ser feito. Não há preocupações.

Ricardo Trade (diretor de operações do COL)

Temos que entregar os estádios à Fifa 15 dias úteis antes do primeiro jogo no local, o que dá mais ou menos 21 dias corridos. Já temos esse calendário estabelecido, já foi passado para as sedes. A CBF enviou uma carta para as federações e nenhum jogo será marcado dentro do período reservado para a Copa do Mundo. Está bem claro, como sempre foi. Os estádios têm um período exclusivo para se preservar gramado e estádio.

Jérôme Valcke (secretário-geral da Fifa)

Sobre Cuiabá, quanto a mim, isso não perturbou nossa reunião lá e nem os outros encontros necessários para conhecer o avanço das obras. Eles têm o direito de se manifestar e nós temos o direito de organizar a Copa. Quanto a gás lacrimogêneo e balas de borracha, o que a gente fazer? Pode acontecer na Copa do Mundo, pode haver protestos... já aconteceu.

Nós estamos trabalhando para que torcedores, trabalhadores e jogadores que venham ao Brasil, sempre com o apoio do governo federal. Estamos trabalhando para que tudo corra bem. Como o mundo encara isso? A venda de ingressos é a melhor resposta. As pessoas estão querendo vir, e nem temos todos os países classificados ainda.

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O mundo está ansioso para assistir à Copa do Mundo. Os seus amigos eu não sei, mas nunca tive tantos amigos me pedindo ingressos para ver os jogos. O apoio é muito forte, não estou preocupado com a imagem que se mostra do Brasil quando se exibe 2 minutos de uma passeata – que geralmente é tranquila, mas tem uma minoria de baderneiros fazendo quebra-quebra.

Não houve nenhuma solicitação adicional da Fifa para conter protestos. É uma questão para os governos, então não houve nenhuma solicitação adicional por parte da Fifa. Como as autoridades agiram durante as Confederações foi bom e deu muita confiança para todos na capacidade de controlar situações.

Valcke (à direita) não mostrou preocupação com manifestações sociais durante a Copa
Foto: Getty Images

Aldo Rebelo (ministro do Esporte)

Em Cuiabá, nas áreas visitadas, houve uma manifestação de 20 pessoas em um viaduto, mais 30 no estádio. Mas havia também uma grande recepção de milhares de operários. Os professores também não quiseram se manifestar no dia das visitas da Fifa. Mas isso não foi noticiado, só as manifestações que foram.  

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Jérôme Valcke (secretário-geral da Fifa)

O que eu penso não é relevante. O Comitê Executivo da Fifa tomou uma decisão de que todas as ligas nacionais classificadas para a Copa devem terminar 18 de maio, depois os jogadores convocados têm uma semana de descanso e então ficam duas semanas à disposição das seleções para amistosos. Não há um jogador sequer da lista dos 23 de cada país que possa jogar um jogo depois de 18 de maio pelo seu clube. Essa decisão foi tomada para proteger os atletas. E, aconteça o que acontecer, nenhum jogo pode ocorrer nos estádios da Copa nas datas marcadas para a Fifa porque teremos que fazer os ajustes necessários.

Jérôme Valcke (secretário-geral da Fifa)

Não é novidade, não é um problema que chegou hoje. Na Fifa há regulamentos que são muito rígidos e claros. Nós também, quando os regulamentos foram discutidos, reconhecemos que não há um sonho maior de um jogador que o de jogar em uma seleção. Se por vários motivos ele não puder jogar pelo seu país e tiver dupla nacionalidade, por que não fazê-lo? Contanto que esteja dentro dos regulamentos. Há uma série de critérios para que ele possa fazer isso.

O mundo mudou muito, as pessoas não têm só mais uma nacionalidade, já se mudaram de países por motivos independentes da vontade. Se houver um abuso, digamos assim, como aconteceu recentemente, a Fifa está sempre pronta a revisar os regulamentos e fazê-los ainda mais rígidos. Sempre que sentirmos que haverá um impacto de maneira negativa no futebol podemos sempre mudar as regras. Mas temos leis fortes no que tange esse assunto.

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Ronaldo (ex-jogador e integrante do COL)

Isso não é novidade no futebol, jogadores que não são utilizados em seus países de origem são utilizados em outras seleções. Muitos jogadores já passaram por isso, como por exemplo o Deco. Eu adoraria que tivesse um Messi e um Cristiano Ronaldo rejeitado pelo seu país que pudesse jogar na Seleção Brasileira.

Sobre o Diego Costa, acho que ele já atuou pela Seleção Brasileira. Não sei até que ponto houve um pedido da Federação Espanhola, mas há um regulamento na Fifa que acho que não permite. Uma vez que jogou na Seleção Brasileira, acho que não pode jogar por outro país. Se não, se o Messi não tivesse jogado pela Argentina, gostaria mais dele do que do Diego Costa no Brasil.

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Fonte: Terra
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