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Colégio no RS perde 10% dos alunos durante obras da Copa

Instituição vizinha ao Beira-Rio viu um em cada 10 estudantes cancelarem matrículas devido aos transtornos com as obras no entorno do estádio

2 jun 2014 - 10h44
(atualizado às 10h44)
Colégio fica em frente ao estádio Beira-Rio e sofre com as obras no entorno
Colégio fica em frente ao estádio Beira-Rio e sofre com as obras no entorno
Foto: Matheus Fernandes / Unisinos

Na pátria conhecida como o "país do futebol", estudar em frente a um estádio às vésperas da Copa pode significar problemas. No colégio Maria Imaculada, localizado a poucos metros do estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, um de cada 10 alunos trancou a matrícula nos últimos meses devido à confusão causada nas redondezas da escola.

Para receber as partidas, o estádio e todo o entorno do local passam por um longo período de obras que diariamente trazem dificuldade para quem precisa circular, principalmente, pelas avenidas Padre Cacique e Edvaldo Pereira Paiva.

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O colégio foi instalado na avenida Padre Cacique em 1965, quatro anos antes da inauguração da primeira versão do estádio Beira-Rio. A rotina da circulação de mais de mil pessoas, entre alunos, pais e funcionários, em período letivo nunca havia tido problemas até junho de 2013. Em função das obras de implantação do sistema Bus Rapid Transport (BRT), os dois lados da avenida onde está a instituição foram bloqueados. O primeiro fechamento ocorreu no ano passado, aumentando engarrafamentos, alagamentos em dias de chuva e perda de tempo para quem precisava chegar ao local. 

Vera Lucia Sakamoto, secretária do colégio, lembra que todos ficaram sabendo que as vias seriam bloqueadas apenas quando o assunto saiu na imprensa. “A direção da escola ligou para a EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação) e órgãos da prefeitura solicitando uma reunião para entendermos o que ia acontecer”, explica. A secretária afirma que o encontro ocorreu também com engenheiros envolvidos na obra e outros empresários do comércio local. Nesse primeiro momento, o projeto foi apresentado junto com os prazos que ela demandaria. As ruas deveriam ser liberadas em outubro, e o estádio entregue em dezembro. Porém, os prazos não foram cumpridos.

Pontos de ônibus distantes da instituição

Em junho de 2013 e nos meses que se seguiram, como muitos alunos dependiam do transporte público para chegar ao colégio, um ônibus especial foi designado pela prefeitura para transportá-los. O deslocamento era feito da frente da instituição até um ponto de ônibus localizado próximo ao parque Marinha do Brasil. Entretanto, a avenida Padre Cacique, que deveria ser liberada completamente em outubro de 2013, continuava fechada em um dos sentidos. O atraso da obra não motivou a continuação da linha de ônibus, e alunos, professores e funcionários que dependiam do transporte tiveram de seguir a pé até os locais de parada.

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Devido à caminhada de cerca de 500 metros que os alunos faziam do colégio até o ponto de ônibus, a insegurança aumentou, e muitos estudantes foram assaltados enquanto se deslocavam. A auxiliar de secretaria do colégio, Helenita Curtinaz conta que a instituição contratou, em outubro do ano passado, um segurança para fazer ronda no perímetro em que os alunos circulam. “Ele acompanha os estudantes até a parada, fica circulando por ali no horário da entrada e da saída. Depois, ele faz a segurança aqui na frente da escola”, ressalta a auxiliar. 

Angelo Martinelli (E), porteiro da instituição há oito anos, passa as oito horas de expediente de olho nas obras da avenida e do estádio
Foto: Matheus Fernandes / Unisinos

Os olhos do colégio

Angelo Martinelli, porteiro da instituição há oito anos, passa as oito horas de expediente de olho nas obras da avenida e do estádio. Observando o trabalho dos operários, o funcionário acredita que há falta de planejamento por parte da empreiteira.

O porteiro lembra que em um dia, durante a abertura de buracos na avenida, um cano que direciona a água da chuva da instituição foi quebrado. “Só descobrimos que estávamos sem o cano quando choveu, a água se acumulou e o concreto cedeu”, explica. Segundo ele, levou algumas semanas para que os responsáveis começassem o conserto e, até o fim de abril, ainda estavam finalizando o reparo.

Morando a apenas um quilômetro do colégio, no bairro Cristal, o profissional, que antes chegava em casa em no máximo 15 minutos após o fim do expediente, hoje com as obras leva uma hora. “Às 18h30min, o fluxo aqui na frente é maior ainda, e meu deslocamento até a parada de ônibus é o que mais leva tempo”, declara.

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Outros transtornos

Por causa das obras na avenida, o colégio ainda enfrenta a falta de calçada para transitar, a ausência de avisos sobre as mudanças dos acessos e o cancelamento de aulas. O incômodo tornou-se maior quando alunos antigos e recém matriculados optaram por não continuar os estudos na instituição. Segundo Helenita, cerca de 10% dos estudantes pediram transferência entre 2013 e 2014 por conta da dificuldade de locomoção até o local. 

Para Helenita (E) e Vera, funcionárias da escola, a principal adversidade não é a obra, mas os atrasos de entrega
Foto: Matheus Fernandes / Unisinos

Para Vera e Helenita, a principal adversidade não é a obra, mas os atrasos de entrega. “O projeto em si é muito bonito. O estádio vai estar inserido dentro da comunidade. As pessoas vão poder passar e tocar nele. O problema é que não pensaram na população ao redor”, declara Vera.

De dentro da obra

Um dos engenheiros responsáveis pela execução das construções, Jeferson Danni acredita que uma obra de grande dimensão demanda grandes prazos e traz transtornos para todos. O funcionário da Toniolo Busnello S.A afirma que houve dias em que o trabalho estendeu-se até a madrugada para os prazos do contrato serem cumpridos. 

Segundo ele, para acessar as vias que precisavam ser pavimentadas, a empresa precisou de liberação da EPTC e prefeitura de Porto Alegre, o que demorou a ocorrer e, segundo ele, é um dos motivos para os atrasos na entrega da obra. “Precisamos executar a obra em locais que a liberação ainda não saiu”, ressalta. Para ele, o motivo do atraso na liberação se deve ao fato de que as vias que precisam ainda ser fechadas fazem parte dos principais acessos à zona sul da cidade. Desse modo, seria preciso planejamento para rotas alternativas. 

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Sobre a falta de aviso quanto às mudanças de acesso, corte de eletricidade e água, o engenheiro garante que a prefeitura é a responsável pela comunicação social com a comunidade local. Quanto aos buracos abertos e fechados diariamente, Danni explica que o procedimento é seguido para que a segurança de quem circula pelas vias seja mantida. “Há muitas crianças e jovens que passam por estes buracos todos os dias. Não posso deixa-los abertos de manhã cedo ou tarde da noite porque pessoas podem se machucar”, destaca. 

Segundo o Portal Transparência, o prazo de entrega da execução de infraestrutura e pavimentação do corredor das avenidas Padre Cacique e Edvaldo Pereira Paiva termina no dia 15 de maio deste ano. Entretanto, segundo Jeferson Danni, as obras da localidade estão dentro do prazo aditivo estipulado pelo contrato, e a construtora, juntamente com a Sultepa Construções e Comércio Ltda., podem continuar legalmente as construções até o dia 12 de junho deste ano, dia da abertura da Copa do Mundo.

Material produzido sob a supervisão da professora Anelise Zanoni

Universidade do Vale do Rio dos Sinos
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