Raul Gustavo, zagueiro ex-Corinthians, superou momentos difíceis com ajuda psicológica e evolução pessoal, reinventando sua carreira no NY City, nos Estados Unidos, após enfrentar desafios no Brasil e na Hungria.
Raul Gustavo, de 26 anos, deixou alguns fantasmas para trás e se reencontrou fora do futebol brasileiro depois de um início de carreira conturbado. Com fama de ‘esquentado’ durante sua passagem pelo Corinthians, o zagueiro ‘se descobriu’ após procurar ajuda psicológica por conta própria e, hoje, leva os erros do passado como aprendizado para seguir evoluindo com a camisa do NY City, dos Estados Unidos, onde joga desde agosto e completou o 100º jogo como profissional.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
O ponto de partida para a procura por ajuda especializada foi justamente com a saída do Timão rumo ao desconhecido da Hungria, quando foi atingido pela solidão da distância de mais de 10 mil quilômetros entre Budapeste e Pedro Leopoldo (MG), onde nasceu.
Na época, o defensor também viu sua trajetória no Parque São Jorge chegar ao fim, ao menos por enquanto, de maneira amarga: ele foi expulso após dar um empurrão no bandeirinha na derrota por 1 a 0 para o Argentino Juniors (ARG), fora de casa, pela Copa Sul-Americana.
“Não foi por um momento ruim [a procura pelo psicólogo]. Foi justamente por querer me descobrir mais, querer entender o porquê que eu ficava tão nervoso, o porquê que eu queria defender tanto um time desse jeito e era tão esquentado. Da mesma forma que eu estava esquentado, poderia acabar atrapalhando dentro de campo, sendo menos um. Igual no meu último jogo pelo Corinthians. Foi muita infelicidade, mas se eu tivesse a cabeça que tenho hoje, não teria feito”, conta em entrevista ao Terra.
Olhar e reconhecer os erros do passado faz com que Raul Gustavo siga em busca de aprendizado constante. Hoje, inclusive, o atleta nascido na pequena cidade de Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, admite que tentou assumir uma liderança que não o cabia no momento de ascensão ao profissional do Corinthians.
Toda essa vontade de defender o alvinegro não era por acaso. O zagueiro chegou ao Timão ainda nas categorias de base e foi onde teve a primeira chance de se apresentar ao mundo, o que fez com que se tornasse um torcedor dentro de campo.
“O futebol mexe muito com o seu emocional e com sua mente. Por ser corintiano, vivenciar aquilo e crescer na base daquele jeito de defender o escudo com unhas e dentes, eu carregava meio que uma liderança que não era para mim. Às vezes, passava do ponto. Se tivesse um acompanhamento psicológico antes, igual eu tenho hoje, eu poderia separar as coisas e acho que tudo seria diferente. Mas as coisas têm que acontecer para você perceber que tem algo errado”, destaca o defensor.
Raul Gustavo, inclusive, tem um ex-companheiro como exemplo da importância de acompanhamento psicológico: “Hoje, eu tenho um pensamento muito diferente. Faço terapia, uma questão que é muito importante. O Yuri Alberto já deixou em tese que é muito importante para os atletas que jogam futebol”.
Mais do que no lado psicológico, o zagueiro se orgulha da evolução pessoal que tem alcançado desde que deixou o futebol brasileiro. No pouco mais de um ano em que morou na Hungria, o camisa 34 aprendeu a falar inglês, algo impensável no passado.
“Estou evoluindo o meu inglês cada vez mais e mais, estou muito feliz com isso. Vir de onde eu vim, sair de onde eu saí e poder falar dois idiomas. Isso para mim já é uma conquista muito grande. Eu conto para as pessoas que eu aprendi a falar inglês em cinco meses e ficam espantadas”, explica.
Com o inglês na ponta da língua, Raul Gustavo quer ajudar o NY City a conquistar o bicampeonato da MLS. Nos Estados Unidos, além de se surpreender com a qualidade dos jogadores, o defensor mineiro já viveu momentos marcantes. O encontro com Lionel Messi foi um deles, apesar de não ter entrado em campo na derrota por 4 a 0 para o Inter Miami.
“Confesso que esse jogo foi muito emocionante [contra o Inter Miami]. Infelizmente, não entrei. O treinador tinha me poupado, porque o próximo jogo era contra o rival, o Red Bull. A gente sonha em vivenciar esses momentos e se sente um pouquinho impactado. Fiquei muito feliz com a oportunidade. Depois do jogo, consegui cumprimentá-lo. Falar com ele é um pouco difícil, porque ele é rodeado de pessoas. Todo mundo vai nele, ele é o centro das atenções. Essa experiência eu vou levar para o resto da minha vida”, recorda.
Se hoje deu a volta por cima e coleciona histórias ao redor do mundo da bola, Raul Gustavo também precisou enfrentar traumas pessoais. Em 2020, quando esteve emprestado para a Inter de Limeira, o zagueiro recebeu a notícia da morte da irmã mais velha, Fabíola Cristina, vítima de um acidente de carro.
A perda familiar fez com que o atleta pensasse em desistir da carreira para ficar perto da família em Minas Gerais. Um gol, porém, devolveu a alegria e o fez persistir no sonho de infância.
“Tinha perdido uma irmã. Não estava me conectando mais comigo. Não tinha vontade, de verdade, de jogar mais. Queria parar de jogar futebol. Quando você perde um ente querido e está longe de casa, começa a repensar nas coisas. Se eu estivesse em casa, eu teria aproveitado mais a minha irmã. Se eu estivesse com ela, acho que não teria acontecido. Você começa a criar muitas coisas e te faz querer parar de jogar. Meu primeiro gol foi onde me deu ânimo de novo. Foi onde me deu alegria de novo. Eu chorei no momento, mas foi mais de alegria”, relembra ele, ao destacar a vitória por 2 a 0 sobre o rival, momento que define como o mais marcante de sua carreira.
Em constante aprendizado com o passado, Raul Gustavo quer brilhar com a camisa do NY City para se tornar exemplo aos mais novos e, quem sabe, vestir a camisa da Seleção Brasileira e disputar um mata-mata de Liga dos Campeões da Europa.