Daniel Ricciardo e a McLaren: há futuro nessa parceria?

Em má fase na McLaren, Daniel Ricciardo tem contrato válido com a equipe para 2023. Mas será cumprido? Entenda a situação do australiano

3 jun 2022 - 21h49
(atualizado às 22h00)
Daniel Ricciardo tem futuro na McLaren?
Daniel Ricciardo tem futuro na McLaren?
Foto: McLaren / Twitter

A temporada de 2022 não tem sido fácil para Daniel Ricciardo. O carismático australiano tem apresentado dificuldades com o carro da McLaren e sofre na comparação com seu colega Lando Norris. Os números são uma evidência incontestável, nesse caso. Se contarmos a sprint de Ímola, são 8 corridas até aqui. Enquanto Norris pontuou em seis delas (incluindo um pódio) e soma 48 pontos, Ricciardo pontuou só duas vezes, com tímidos 11 pontos na conta.

Não que seja exclusivo da McLaren o fato de vermos um piloto mais experiente atrás do colega mais novo na tabela de pontos. Esse ano, estamos acompanhando Lewis Hamilton perdendo a disputa interna contra George Russell e Fernando Alonso em situação similar ante Esteban Ocon. Se a situação é repetida em outras equipes, por que as críticas sobre Ricciardo têm sido mais frequentes?

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Bem, Hamilton e Alonso podem argumentar (com razão) que uma boa parte de seus déficits de pontos foram causados por fatores circunstanciais ou mesmo azar, e que a diferença de ritmo para seus colegas é mínima. Alonso até tem sido mais rápido que Ocon, a bem da verdade. Ricciardo, por sua vez, não tem esses argumentos em sua defesa. Ele não tem conseguido acompanhar Norris, simples assim.

Para piorar, não se trata de uma novidade. Em 2021, seu ano de estreia pela McLaren, o cenário era muito similar. Naquele ano, Ricciardo também começou o campeonato devendo em relação à Norris. E agora deve ainda mais. Após o 7º GP do ano passado, Norris era o responsável por 69% dos pontos da equipe. Esse ano, no mesmo momento do campeonato, o inglês tem 81% do total do time.

Contrato até 2023. Ou não...

A McLaren já havia sondado Daniel Ricciardo para 2019, quando ele estava de saída da Red Bull, mas a Renault acabou sendo sua opção à época. McLaren e Ricciardo se encontraram apenas dois anos mais tarde. Quando de sua chegada, a ideia era que ele fosse o líder do time e responsável por reconduzir a equipe ao caminho das vitórias e, quem sabe, títulos.

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Pode-se alegar que o piloto cumpriu uma parte do esperado, já que foi em suas mãos que a equipe voltou ao lugar mais alto do pódio, no GP da Itália do ano passado. Mas a vitória em Monza se mostrou um lampejo do bom e velho Ricciardo em meio a atuações apagadas e ofuscadas pelas de Lando Norris.

Ricciardo bate seu McLaren nos treinos de Mônaco: situação segue complicada
Foto: F1 / Reprodução

Zak Brown, CEO da equipe e responsável pela chegada de Ricciardo, em entrevista antes do GP de Mônaco, deixou escapar que o piloto ainda não entregou aquilo que dele se espera. Por mais que tenha sido uma declaração bastante polida e, de certa forma, medindo palavras, não deixa de ser uma primeira demonstração pública de que a McLaren começa a sentir falta dos resultados do australiano.

O contrato da equipe com o Ricciardo vai até 2023, mas contém uma cláusula de performance que pode encerrá-lo antes disso. Compreensivelmente, nenhuma das partes fala sobre os pormenores do acordo, mas uma declaração do chefão dá a entender que o acionamento dessa cláusula cabe ao piloto, e não à equipe.

“Não quero entrar nos detalhes do contrato”, afirmou ao The Race. “Tenho conversado com o Daniel sobre isso, de que não estamos obtendo os resultados que ambos esperávamos, mas vamos continuar tentando. Vamos ver como as coisas evoluem, o que ele vai querer fazer.”

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Insatisfeito em “ser o 14º”

Ricciardo é consciente que não atravessa uma fase das mais positivas. Ele próprio afirmou concordar com a fala de Brown de que ainda não entregou tudo o que a equipe espera dele. Pouco depois, bateu sozinho no treino livre 2 para o GP de Mônaco, dando ainda mais munição aos críticos.

Seu perfil sempre animado e sorridente contrasta com declarações não tão otimistas, como na entrevista pós-classificação em Mônaco, em que menciona uma possível desmotivação em seguir como está: “Eu tenho um contrato válido, mas pessoalmente, não quero ser 14º. Não é para isso que eu corro. Não sou só eu que não quero o 14º lugar, a equipe não quer me ver nessa posição também.”

A ideia do piloto é se apegar à experiência do ano passado, quando conseguiu evoluir na segunda metade do campeonato após sofrer na metade inicial: “Infelizmente, é um território conhecido de 12 meses atrás. Fizemos algumas coisas certas naquele momento e coisas que provavelmente vamos ter que revisar e fazer diferente. É nisso que vou tentar atacar de uma forma mais produtiva.”

Por enquanto, McLaren dá apoio

Mesmo em uma fase conturbada e aquém das expectativas, Ricciardo é um ativo importante para a McLaren, e a equipe está empenhada em fazê-lo render o máximo de suas capacidades. Andreas Seidl, o chefe da equipe na F1, fez questão de deixar isso claro mesmo após mais um fim de semana ruim.

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Andreas Seidl e Zak Brown, chefe e CEO da McLaren: cobrança e apoio na mesma medida
Foto: McLaren / Twitter

“Vamos nos concentrar, continuar analisando os dados e ver o que podemos fazer com o carro para ajudar o Daniel com um objetivo claro: achar esses décimos que estão faltando.”, afirmou à Autosport. “O Daniel é dedicado, muito experiente. E nós estamos comprometidos a fazer isso funcionar.” Seidl ainda chamou a responsabilidade para a equipe: “É nosso papel continuar desenvolvendo o carro para os dois.”

Qual será o futuro de Ricciardo?

O apoio da equipe é importante, mas, ao menos publicamente, nunca deixou de existir. Ricciardo já está há um ano e meio com o time e os resultados seguem abaixo do esperado. Em Mônaco, já sob o alerta sutil de Brown, mais uma vez o piloto não acompanhou Norris. Enquanto o inglês brigou com o Mercedes de Russell pelo 6º lugar, Ricciardo não foi além do 13º posto, atrás de carros de Alpine, Alfa Romeo, Aston Martin e AlphaTauri.

A questão agora é: até quando vai a paciência da McLaren? A declaração do CEO do time dá sinais de que ela começa a chegar ao fim. O próprio Ricciardo não está confortável com a situação, e cabe a ele a decisão de aplicar a cláusula de renovação automática para o ano que vem.

Caso o piloto não consiga apresentar uma melhora, sua saída passa a ser um palpite bastante plausível. Já o destino, deve ser mais incerto. 2023 promete uma dança das cadeiras na Fórmula 1 – e fora dela. A McLaren mantém uma equipe na Fórmula Indy e anunciou recentemente que deve ter um terceiro carro na categoria em 2023. Pato O’Ward está confirmado e Alexander Rossi acaba de ser anunciado. Resta uma vaga. Os nomes mais cotados já estão da própria Indy, mas nada impede que Zak Brown costure um acordo que mantenha Ricciardo em sua equipe - só que do outro lado do Atlântico.

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Na Fórmula 1, há mais equipes com dúvidas do que certezas para o ano que vem. Fala-se que Sebastian Vettel pode se aposentar e deixar a Aston Martin. Fernando Alonso é cotado para sair da Alpine. A Haas começa a ter problemas com Mick Schumacher. Guanyu Zhou depende de resultados para se manter na Alfa Romeo, assim como Yuki Tsunoda na AlphaTauri. E a Williams ainda não tem clareza sobre 2023. Todas essas equipes, a depender dos cenários que se desenharem, ainda podem comportar Ricciardo para um eventual último contrato da carreira.

Saindo do campo da especulação e voltando ao que há de concreto, o fato é: o plano “A” de Daniel Ricciardo e da McLaren é cumprir o contrato e manter a ligação em 2023. E não parece haver falta de empenho de nenhuma das partes para que isso ocorra. Mas, para que o plano “A” seja colocado em prática, ainda resta um ponto: que Ricciardo, finalmente, entregue resultados.

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