Mari Krüger é “formada em biologia e perdida no personagem”, como define sua minibio. Ela é também influencer digital e DJ, com mais de 2,5 milhões de seguidores no Instagram.
- *Esta entrevista faz parte da revista comemorativa de 25 anos do Terra. A publicação traz reflexões sobre o tempo, a mídia e as novas gerações, e pautas conectadas a momentos marcantes, pioneiros e inovadores da plataforma.
Revista Terra 25 Anos: A frase “estamos nos afundando em um mar de desinformação” parece capturar bem o sentimento atual. Na sua visão, qual foi o ponto de virada que nos trouxe a esse cenário e qual o maior perigo imediato dessa realidade?
Mari: Acho que o ponto de virada veio com a chegada das redes sociais. De repente, todo mundo passou a ter voz, o que é ótimo em vários sentidos, mas também abriu espaço pra muita “opinião” sem base. Sem uma regulamentação clara, essas plataformas viraram um ambiente quase sem regras, onde qualquer pessoa pode falar sobre qualquer tema, inclusive os mais complexos, sem precisar mostrar fontes ou comprovação científica. O perigo é que isso acaba gerando uma enxurrada de informações falsas que se espalham rápido e influenciam decisões importantes, especialmente quando o assunto é saúde.
"Estes conteúdos sobre saúde me chamam mais atenção, principalmente os que falam de tratamentos e “dicas milagrosas” sem nenhuma comprovação científica. Isso é muito perigoso, porque afeta diretamente a vida das pessoas. "
As redes sociais são frequentemente apontadas como o principal vetor da desinformação. Na sua opinião, elas são a raiz do problema ou apenas amplificadores de uma tendência já existente na sociedade?
Vejo as redes sociais como amplificadoras. A desinformação já existia, mas agora ganhou um megafone. E como é um espaço onde qualquer pessoa pode falar de qualquer assunto, sem precisar ter credencial ou embasamento. E tudo se espalha muito rápido.
Como a desinformação, especialmente as fake news e narrativas polarizadas, têm impactado a saúde da nossa democracia e a confiança nas instituições? Há um risco real de desestabilização?
Eu entendo ser muito perigoso ver as pessoas desconfiando de instituições sérias e que trabalham sempre em conformidade com o consenso científico como a OMS ou órgãos como o Ministério da Saúde. Costumo dizer que é fácil fazer conteúdo com desinformação porque ele é rápido, atrativo e fala exatamente o que o público quer ouvir. A ciência, por outro lado, é cheia de nuances, o famoso “depende”. E ninguém quer ouvir que “depende”, né? As pessoas preferem uma resposta simples, uma solução mágica. É aí que mora o perigo.
Você usa o humor para disseminar informação científica e se aproximar da população. Por outro lado, em que medida isso te afastou da comunidade científica - acadêmicos e pesquisadores?
Muita gente acha que o humor poderia me afastar da comunidade científica, mas aconteceu o contrário. Fui super bem recebida. Acho que os cientistas querem justamente isso: que a informação chegue às pessoas. Além disso, faço muita coisa em parceria com pesquisadores e profissionais da academia. Então o humor virou uma ponte, não uma barreira.
Diante deste cenário de Ciência e desinformação, qual o papel do Jornalismo e o que pode ser feito para ser um aliado neste combate?
O papel do jornalismo é fundamental. É dar espaço pra quem propaga informação de verdade, investiga com rigor e leva pra população conteúdos com base científica. Também é importante que os veículos tragam para o debate temas que estão bombando nas redes, mas com a credibilidade e o cuidado jornalístico que o público precisa.
Onde termina a responsabilidade das plataformas e começa a do usuário comum? Como podemos, individualmente, ser mais críticos e não contribuir para a proliferação de informações falsas?
Mais do que falar de responsabilidade, eu diria que é preciso ter um olhar mais crítico, pois essas fake news vão estar por aí.
"Minha dica é: consumir conteúdos de pessoas sérias, que mostram evidências, e desconfiar de promessas milagrosas. Soluções simples para problemas complexos quase sempre são armadilhas."