RIO - O comércio brasileiro registrou um aumento de 0,5% nas vendas em outubro ante setembro, graças a um desempenho positivo disseminado entre os diferentes segmentos varejistas, segundo os dados da Pesquisa Mensal do Comércio divulgados nesta quinta-feira, 11, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado veio no teto das estimativas de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam uma queda mediana de 0,1%. Quanto ao varejo ampliado — que inclui as atividades de material de construção, veículos e atacado alimentício —, as vendas subiram 1,1% em outubro ante setembro, acima do teto das expectativas, que eram de uma alta mediana de 0,2%.
"O resultado positivo no mês também reflete melhores condições de renda e de crédito. As concessões de crédito têm melhorado na margem nos últimos meses e isso se refletiu na nossa medida de varejo sensível à crédito, que avançou 2,1% no mês. O mercado de trabalho robusto também contribui para sustentar a demanda e nossa medida de varejo sensível à renda avançou 0,3% em outubro", calculou André Valério, economista sênior do banco Inter, em comentário.
O avanço no volume vendido pelo varejo restrito em outubro foi a primeira alta estatisticamente significativa desde março. Nos meses que se seguiram, o comércio oscilou com tendência negativa, mas em torno da estabilidade. A melhora em outubro foi decorrente de uma combinação de fatores que estimularam o consumo, entre eles uma trégua da inflação e o mercado de trabalho aquecido, avaliou Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE.
"Fato é que é um crescimento que está espalhado", disse Santos. "Apenas tecidos, vestuário e calçados caíram. E além disso, esse mês tem uma coincidência de fatores que de alguma maneira vêm para estimular o consumo, dentre eles foi a inflação. A inflação cede, alguns itens tiveram até deflação", completou.
Houve influência ainda da alta sustentada na massa de rendimentos dos trabalhadores e elevação no número de ocupados, além de nova expansão em outubro do crédito a pessoas físicas, inclusive para aquisição de veículos, a despeito da taxa básica de juros no elevado patamar de 15% ao ano.
"A despeito disso, o crédito a pessoa física não tem cedido. Cede um pouco num mês ou noutro, mas em outro de alguma maneira ele compensa. A despeito da taxa básica de juros, o crédito a pessoa física não tem sentido tanto essa influência", afirmou o pesquisador do IBGE.
Na passagem de setembro para outubro, o avanço de 0,5% no volume vendido pelo varejo restrito foi decorrente de aumentos em sete das oito atividades pesquisadas: equipamentos de informática e comunicação (3,2%), combustíveis (1,4%), móveis e eletrodomésticos (1,0%), livros e papelaria (0,6%), outros artigos de uso pessoal e doméstico, que inclui lojas de departamento (0,4%), artigos farmacêuticos e de perfumaria (0,3%) e supermercados (0,1%). A única perda ocorreu em tecidos, vestuário e calçados (-0,3%).
No comércio varejista ampliado, veículos cresceram 3,0%, e material de construção subiu 0,6%. O segmento de atacado alimentício não possui divulgação nessa comparação por não acumular número suficiente de meses para submissão à modelagem de ajuste sazonal.
Segundo Santos, os ramos varejistas de bens essenciais se mantêm com certa estabilidade nas vendas, sem muito fôlego novo, porém em patamares já elevados.
"A interpretação é de sustentação de vendas na alta", resumiu Santos.
Ele lembra que, em outubro de 2025, as vendas de farmacêuticos operavam em patamar recorde, enquanto as de supermercados estavam apenas 1,3% abaixo do pico de maio de 2024. A sobra de renda do consumidor para além do essencial estaria sendo direcionada para a aquisição de bens não essenciais em outros segmentos varejistas.
"Até o final do ano, o varejo tende a apresentar avanços moderados. A Black Friday movimentou o consumo, especialmente nas compras online, conforme dados de máquinas de cartões e pela forte movimentação do Pix no período. Em termos econômicos, o cenário ainda conta com a resiliência do mercado de trabalho, com aumento da renda e as menores pressões inflacionárias nos bens essenciais e industriais, dinâmica que possibilitou a recuperação da confiança do consumidor no último trimestre do ano", enumeraram os analistas Diogo Oliveira e Isabela Tavares, da consultoria Tendências, em relatório.
A consultoria Tendências espera que os novos programas de crédito imobiliário e a reforma do Imposto de Renda ajudem as vendas em alguns segmentos varejistas em 2026, "ainda que a menor geração de emprego e condições financeiras restritivas no começo do ano continuem limitando o maior consumo das pessoas".