Misturar recursos pessoais com o caixa da empresa pode gerar prejuízos financeiros, problemas fiscais e legais, comprometendo a gestão e a sustentabilidade do negócio, mas pode ser evitado com organização e ferramentas adequadas.
Cerca de 60% dos micro e pequenos empresários brasileiros admitem misturar recursos pessoais com o caixa da empresa, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Sebrae. A prática, conhecida como confusão patrimonial, embora pareça inofensiva, pode gerar uma série de implicações fiscais, legais e administrativas que comprometem a organização e a sustentabilidade financeira do negócio.
“É frequente encontrarmos empresários que utilizam o caixa da empresa para pagar despesas pessoais ou, ao contrário, colocam bens próprios no nome da companhia para facilitar uma compra. Essas decisões, mesmo que bem-intencionadas, fragilizam a estrutura jurídica e financeira do negócio”, explica Silvio Costa, especialista da Contmatic, empresa de soluções tecnológicas para gestão empresarial e contábil.
Ele alerta que muitas vezes o problema não é a má-fé, mas a ausência de orientação técnica. A falta de uma estrutura contábil consolidada, de conhecimento sobre as obrigações da pessoa jurídica e a informalidade na gestão fazem com que a confusão patrimonial ocorra e comprometa a apuração correta dos tributos e a gestão financeira. Isso pode interferir em auditorias ou fiscalizações, uma vez que dificulta a distinção entre o que pertence à empresa e o que é de responsabilidade pessoal dos donos e sócios.
No campo legal, o maior risco é a desconsideração da personalidade jurídica, um instrumento previsto no Código Civil que permite responsabilizar diretamente os proprietários por dívidas da empresa em caso de confusão entre os patrimônios.
“Já no campo fiscal, essa mistura pode gerar duplicidade na incidência de tributos, inconsistências nas obrigações acessórias e exposição à autuação por parte da Receita Federal e demais órgãos fiscalizadores”, alerta o especialista.
Além dos aspectos legais, há também consequências para a saúde financeira do negócio. Silvio Costa reforça que a ausência de separação clara entre as finanças compromete a análise de indicadores contábeis, dificulta a tomada de decisões e pode gerar distorções na precificação de produtos ou serviços. “Quando a empresa não sabe o que de fato é despesa operacional e o que é retirada dos sócios, perde-se a capacidade de planejar, investir e crescer com segurança”.
A boa notícia é que esse cenário pode ser evitado com medidas simples de organização e acompanhamento. Entre as principais recomendações do especialista estão: manter contas bancárias separadas para pessoa física e jurídica, definir um pró-labore fixo e compatível com a realidade do negócio, registrar adequadamente as movimentações financeiras e manter uma contabilidade atualizada e transparente.
O uso de tecnologias de gestão também pode contribuir nesse processo. Ferramentas como sistemas ERP, softwares contábeis ou mesmo planilhas estruturadas ajudam a organizar o controle das entradas e saídas, e facilitam a geração de relatórios consistentes. “Mais do que atender à legislação, é uma forma de profissionalizar a gestão e garantir que a empresa tenha clareza sobre sua real situação financeira”, conclui Silvio Costa.
(*) Homework inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.