Empreender no digital transforma vidas em Paraisópolis, SP, e dá visibilidade à favela

Mulheres que usaram redes sociais para crescer mostram como o digital pode ser ponte para geração de renda nas periferias

19 jul 2025 - 04h59
Foto: arquivo pessoal

Do salão improvisado no próprio quarto ao palco do Memorial da América Latina. Do biquíni costurado em casa à vitrine de um shopping. Histórias como a da cantora e produtora Crioleza e da costureira Damaris mostram como o empreendedorismo digital está mudando a vida de moradores de Paraisópolis, uma das maiores comunidades de São Paulo.

Sara Popolili, mais conhecida como Crioleza, é trancista desde os 13 anos e hoje se divide entre a produção musical, a apresentação de programas na G10TV e projetos sociais voltados à cultura negra. Foi fazendo o cabelo do rapper Emicida que ela teve o primeiro estalo: “Depois de atender Emicida e Vanessa da Mata, entendi que as redes poderiam me ajudar de alguma forma a ganhar clientes”.

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A partir dali, começou a produzir conteúdos nas redes sociais — falando de cultura, ancestralidade, shows e eventos — e passou a se comunicar com um público cada vez maior. “Além de ver que tenho muito engajamento, entendi que não sou só eu que preciso de informativos e acesso à cultura. Quero cada vez mais trazer esses assuntos”, diz ela.

Hoje, Crioleza tem um portfólio que inclui podcasts com nomes como Liniker, Carlinhos Brown e Adriana Lessa, além de projetos como o “Radar Independente” e o “Rap Social”. Mesmo assim, segue fazendo tranças em casa e usando Instagram e TikTok para divulgar seu trabalho.

“Só investi coragem e talento com as mãos. Já tive salão na Galeria do Rock [no centro de SP], mas larguei porque precisava de liberdade para cantar e criar. Hoje vejo o digital como minha principal ferramenta de conexão com o mundo”, conta.

Foto: Arquivo Pessoal

Da costura para a filha à vitrine de shopping

A costureira Damaris Isabel Xavier também descobriu no digital um caminho para crescer. Aos 34 anos, ela se define como microempreendedora e atua na produção de moda praia e fitness. Começou quase por acaso, ao costurar um biquíni para a filha ir a uma festa.

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“Ela amou, e as amigas começaram a elogiar. Eu trabalhava no Instituto Costurando Sonhos Brasil, recebi uma doação de tecidos e resolvi fazer um curso de moda praia. Com os primeiros pilotos, comecei a vender”, lembra Damaris.

Hoje, ela toca o negócio sozinha: faz moldes, costura e administra as redes sociais da Calf Moda Praia. Seus biquínis agora ocupam espaço em uma loja colaborativa no Shopping Jardim Sul. “No começo eu não acreditava. Tive medo de não gostarem, mas meti a cara e vendi minhas primeiras peças. Quando recebo mensagens das clientes, é gratificante demais.”

Damaris ainda engatinha no marketing digital, mas já percebeu os impactos. “Com o pouco que sei, consigo mostrar minha produção e as peças que estão na loja. Estou sempre tentando aprender.”

 As plataformas se tornaram vitrines das favelas

Para Fausto Filho, presidente do G10 Favelas — grupo que promove empreendedorismo e inclusão nas comunidades — histórias como essas são prova de que a periferia é potência. 

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“O digital chegou com tudo. Hoje, tem gente vendendo marmita, roupa, bolo, acessório… tudo pelas redes. As plataformas se tornaram vitrines das favelas.”

Ele destaca que a digitalização tem acontecido aos poucos, mas com força. “Vemos empreendedores que começaram com vendas na porta de casa e agora estão no Instagram, no WhatsApp Business, usando QR Code e até Pix. Com apoio do G10 Favelas, buscamos democratizar o acesso à tecnologia por meio de cursos, orientação e projetos que conectam essas ferramentas com a realidade das favelas.”

Segundo ele, os impactos são visíveis. “Geração de renda para famílias que antes viviam apenas com o básico, aumento da autoestima de quem agora é dono do seu negócio, inclusão de jovens e mulheres em atividades produtivas. Mais que dinheiro, o empreendedorismo traz dignidade. Dá sentido e voz pra quem quer transformar sua própria realidade.”

Mas Fausto também alerta que o acesso à internet e à tecnologia ainda é desigual. “Tem gente que sequer tem celular. E quem tem, muitas vezes usa um aparelho antigo, com a tela quebrada, sem chip ou com chip bloqueado. Essas pessoas vivem caçando wi-fi, muitas vezes em condições precárias.”

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Ele reforça que o ecossistema ainda enfrenta barreiras como a falta de crédito acessível, infraestrutura digital, apoio técnico e políticas públicas permanentes. “Precisamos de um ambiente que valorize o empreendedor da favela como um agente importante da economia. Falta também quebrar o preconceito e olhar pra esses negócios com o respeito e o investimento que merecem.”

Apesar disso, o futuro é promissor. “A favela tem tudo: talento, resiliência, criatividade. Se tiver acesso e apoio, vai liderar a próxima geração de negócios no Brasil”, afirma.

Fonte: Terra Content Solutions
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