Com a Selic a 15%, o Brasil registra 8 milhões de PMEs inadimplentes, afetando empregos e renda, enquanto juros altos restringem crédito, acentuando desigualdades regionais e agravando a crise econômica.
O Brasil está diante de um retrato duro da economia real: 8 milhões de empresas inadimplentes, o maior número da história. No total, cada companhia acumula em média 7,3 dívidas diferentes. As projeções de mercado indicam que o Banco Central deve manter a Selic em 15%, prolongando um ambiente em que o custo do crédito se tornou insustentável. Nas linhas bancárias tradicionais, os spreads ultrapassam 20% ao ano, inviabilizando capital de giro e empurrando empresas para a inadimplência em cascata.
O número de empresas devedoras, porém, não é apenas um número abstrato. As pequenas e médias empresas, que respondem por 90% dos casos, são responsáveis por mais de 60% dos empregos formais do país. Ou seja, o impacto se espalha para muito além do balanço das companhias: significa risco direto para postos de trabalho e renda de famílias, especialmente em regiões menos industrializadas. O dado ajuda a entender por que o setor de serviços, o mais intensivo em mão de obra, responde por 54,1% das empresas negativadas.
O contraste com outros países só reforça o peso dos juros. No Chile e na Colômbia, as taxas básicas variam entre 6% e 10% ao ano, menos da metade do custo brasileiro. Nos Estados Unidos, o Fed mantém a taxa entre 4,75% e 5% ao ano. Enquanto lá a discussão é sobre o ritmo de cortes, aqui a manutenção da Selic em dois dígitos já se tornou regra.
“Enquanto nossos concorrentes financiam seus negócios com juros de um dígito, o pequeno empresário brasileiro paga mais para sobreviver do que para crescer. O resultado é previsível: recorde de inadimplência e fechamento de empresas que poderiam estar gerando empregos e renda”, afirma Jorge Kotz, CEO do Grupo X.
A expectativa de manutenção da Selic reforça um dilema recorrente. Manter os juros elevados ajuda a conter a inflação, que recuou em agosto e levou o mercado a reduzir projeções para o IPCA e para o dólar. Por outro lado, prolonga o estrangulamento das PMEs, que já operam no limite. Para Kotz, a leitura não pode ser apenas conjuntural.
“A inadimplência das PMEs não é falha de gestão, é consequência de um modelo de crédito que penaliza quem mais sustenta a economia brasileira. Sem alternativas, milhões de pequenos negócios vão desaparecer antes que os cortes cheguem em 2026”, alerta.
O histórico recente mostra a escalada. Em 2023, o país tinha 6,9 milhões de empresas inadimplentes. Em 2024, esse número subiu para 7,5 milhões. Agora, em 2025, são 8 milhões, crescimento de 16% em apenas um ano. O ritmo confirma que não se trata de um movimento isolado, mas de uma tendência estrutural alimentada por juros altos, seletividade bancária e desigualdade regional no acesso ao crédito.
Além do impacto econômico, há um efeito social direto. As PMEs inadimplentes deixam de investir, cortar empregos passa a ser alternativa, e a roda da economia desacelera. Em regiões como o Nordeste, onde o acesso a linhas de financiamento é ainda mais restrito, o problema se agrava. Assim, o mapa da inadimplência também revela a geografia da desigualdade empresarial no país: o Sudeste concentra em números absolutos, mas o Nordeste cresce mais rápido, sinalizando vulnerabilidade crescente.
(*) Homework inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.