O fenômeno das criptomoedas chegou ao RH. Já há empresas pagando salários dos funcionários em bitcoins. As vantagens e desvantagens do sistema ainda estão sendo discutidas, mas na prática já tem RH valendo-se da nova forma.
Uma das empresas que está fazendo isso é a Bitwage. Lá, o funcionário pode escolher qual percentual deseja receber de seu salário em criptomoeda clássica (stablecoin) e o que deseja manter em moeda local.
Para entender melhor como isso funciona, o Dinheiro em Dia foi bater um papo com Fabiano Dias, diretor de negócios internacionais pela Bitwage.
Dinheiro em Dia: Qual a real vantagem para os dois lados ― empregador e empregado ― do pagamento do salário feito com criptomoeda?
Fabiano Dias:
Comparando o Real Fiat ― o BRL no seu banco ― com o BRZ ― a Stablecoin do Real, é como se o BRZ sendo um dinheiro "vivo" e o BRL um dinheiro "dormente". O BRZ pode rapidamente se transformar em qualquer ativo ou moeda em poucos cliques, totalmente ao alcance de qualquer usuário. Para a empresa pagadora é uma forma de facilitar a vida do empregado, a parte recebedora, que neste caso já sabe os meios e vantagens das criptomoedas
Você acredita que isso pode se tornar uma tendência nas empresas de maior porte?
No Brasil há entraves. A lei trabalhista não permite que esse acerto contratual de pagamento seja feito com facilidade. Quando me perguntaram porque Miami optou pagar salários em Bitcoin eu respondi que é porque para eles é só querer, nós não. Para empresas que não atuam na internet ― que hoje no mundo pós-"fique em casa" tendem a desaparecer... ― há ainda uma dificuldade tecnológica, natural da implementação de qualquer novo sistema.
Que tipo de funcionário é o que aceita bem o pagamento de salário em criptomoeda?
Hoje a adesão é maior entre profissionais de tecnologia, e em segundo, profissionais de internet.
Como exatamente é feito o pagamento de um salário em criptomoeda? A volatilidade não é um fator de preocupação com esse tipo de pagamento de salário?
O pagamento é feito em uma transação de criptomoeda normal. Se a empresa tem uma demanda grande e não tem um setor ou um profissional encarregado de fazer os depósitos e envios, entra em cena serviços com a Bitwage que faz pagamento em massa, em diferentes criptos com poucos cliques.
É viável para uma pequena empresa optar por fazer o pagamento de salários assim?
Sem dúvida. Há uma barreira educacional, além da legal. As pessoas, por falta de conhecimento ― e o Brasil tem um agravante nesta área, infelizmente ― querem confiar no sistema tradicional, por facilidade. Muitos brasileiros nunca tiveram conta bancária e acabam por ver a conta-salário aberta pela empresa como a única forma de se administrar o dinheiro que se ganha. Ainda que seja um passo evolutivo em relação a ter que viver de notas e moedas, o sistema bancário legado ainda é lento e problemático no que tange velocidades e conversões. Contudo, vemos uma tendência de um encontro entre o sistema legado e o sistema cripto, em acordos e parcerias entre os grandes bancos e as empresas e iniciativas tecnológicas de criptomoedas. Em breve, as pessoas estarão usando e recebendo em criptomoedas até mesmo sem saber que estão.