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Como foi a operação italiana que inspirou a 'Lava Jato'?

Cada político, empresário ou funcionário público detido, implicava dezenas de outros em seus depoimentos na ação dos 'carabineris', a polícia da Itália

16 nov 2014 - 07h33
Fotografía facilitada hoy 20 de enero de 2014 que muestra a la policía forense buscando pistas de un coche en el que se descubrieron de tres cadáveres carbonizados, entre ellos el de un niño de tres años, en la localidad de Cassano allo Ionio, Calabria, Italia el pasado 19 de enero de 2014. Los investigadores han explicado que puede ser un ajuste de cuentas entre los miembros de la Ndrangueta, la mafia de Calabria.
Fotografía facilitada hoy 20 de enero de 2014 que muestra a la policía forense buscando pistas de un coche en el que se descubrieron de tres cadáveres carbonizados, entre ellos el de un niño de tres años, en la localidad de Cassano allo Ionio, Calabria, Italia el pasado 19 de enero de 2014. Los investigadores han explicado que puede ser un ajuste de cuentas entre los miembros de la Ndrangueta, la mafia de Calabria.
Foto: EFE en español

A sétima fase da Operação Lava Jato da Polícia Federal - que investiga o desvio de recursos da Petrobras para partidos políticos - levou à prisão de quatro presidentes de grandes empreiteiras, 15 executivos e o ex-diretor de serviços da estatal, Renato Duque.

Para especialistas ouvidos pela BBC Brasil, como Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, a escala da operação "e o modo como ela expôs as relações ilícitas entre empresários e políticos no Brasil" faz com que possa vir a se tornar uma espécie de "Operação Mãos Limpas" - a operação levada a cabo nos anos 90 na Itália e que expôs a gigantesca rede de corrupção que dominava a vida política e econômica do país.

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Segundo o jornal Folha de S. Paulo, a Mãos Limpas italiana de fato seria a fonte de inspiração de muitos policiais e procuradores que atuam na Lava Jato. E ao menos o juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações, tem escrito publicamente sobre a operação italiana. Já alguns simpatizantes do PT vêem na comparação uma tentativa de "politizar" o caso.

Mas o que exatamente foi a Mãos Limpas italiana e quais os resultados dessa operação?Uma das maiores operações anti-corrupção da história europeia, a Mãos Limpas, ou Mani Pulite, ajudou a desmantelar diversos esquemas envolvendo tanto o pagamento de propina por empresas privadas interessadas em garantir contratos com estatais e órgãos públicos quanto o desvio de recursos para o financiamento de campanhas políticas.

Foi essa mega-investigação que levou ao fim da chamada Primeira República Italiana, na qual a agremiação Democracia Cristã (DC) e o Partido Socialista Italiano (PSI) eram as principais forças políticas do país.

El furgón de la policía que transportaba a Domenico Cutri, permanece aparcado en la entrada de un tribunal de Milán (Italia)
Foto: EFE en español

A Mãos Limpas teve início em Milão, embora tenha se espalhando para outras cidades italianas. Seu ponto de partida foi a prisão, em 1992, de Mario Chiesa, ligado ao PSI. Chiesa ocupava a diretoria de uma instituição filantrópica e era acusado de receber propina de uma empresa de limpeza.

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Em um primeiro momento, o PSI tentou isolar Chiesa, mas o político logo começou a falar e incriminar colegas. As acusações cresceram de forma exponencial. Cada político, empresário ou funcionário público detido, implicava dezenas de outros em seus depoimentos.

Os suspeitos recebiam incentivos para colaborar com a Justiça (em um esquema semelhante a delação premiada) e, aparentemente, alguns também acabavam confessando seus crimes por desconhecer o teor do depoimento de colegas.

Entre os que acabaram implicados no escândalo está o líder do PSI e ex-primeiro-ministro Bettino Craxi. Em 1993, o líder da DC, Giulio Andreotti foi acusado de associação com mafiosos - embora tenha sido inocentado em 1999.

Oficiales de la policía paramilitar italiana patrullan a bordo de un bote por el Gran Canal de Venecia, Italia, el sábado 17 de agosto de 2013, luego que un turista alemán muriera aplastado cuando la góndola en que viajaba chocó con una embarcación mayor que transportaba pasajeros por el Gran Canal.
Foto: Luigi Costantini / AP

O presidente e um diretor da estatal petrolífera ENI também foram presos em meio a denúncias sobre o financiamento ilícito de partidos com recursos da estatal e o superfaturamento da compra de ações de uma empresa química.

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No total, foram investigadas mais de 5 mil pessoas, entre elas, centenas de empresários, funcionários públicos e parlamentares. Alguns suspeitos chegaram a cometer suicídio, como o presidente da ENI, Gabriele Cagliari, e o multimilionário Raul Gardini, um dos empresários mais admirados da Itália até ser implicado no escândalo.

Cerca de um terço dos acusados foram condenados e a DC e a PSI acabaram deixando de existir após perderem legitimidade e votos. Como resultado, a correlação de forças políticas na Itália mudou completamente depois da Mãos Limpas.

Os especialistas, porém, divergem com relação aos resultados das investigações no ambiente político e de negócios italiano no médio e longo prazo.

Há estudos que dizem que, após a operação, o valor médio das obras públicas caiu - o que seria um indício de uma queda no superfaturamento.

Outros, porém, apontam para a persistência da corrupção como um problema no atual sistema político italiano.

Foto: Arte Terra

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