A China antes parecia forte na disputa comercial. Agora suas opções estão diminuindo

Os chineses não importam o suficiente dos Estados Unidos para taxar US$ 200 bilhões em produtos americanos

20 set 2018 - 04h11

PEQUIM - Em julho o presidente Donald impôs tarifas sobre produtos chineses num valor equivalente a US$ 34 bilhões. A China respondeu dólar por dólar a essa medida. E em agosto, Trump tarifou mais produtos chineses num total de US$ 16 bilhões e a China também estabeleceu novas tarifas sobre produtos americanos. Agora Trump adotou nova medida, anunciando tarifas de 10% sobre o equivalente a US$ 200 bilhões de produtos chineses, que entram em vigor dentro de uma semana.

Mas desta vez a China não poderá retaliar na mesma medida, deixando claro o problema crescente enfrentado por Pequim. Na terça-feira, autoridades chinesas responderam à última decisão do presidente americano cumprindo uma ameaça anterior de estabelecer tarifas para produtos americanos num total de US$ 60 bilhões - quase tudo o que a China compra dos Estados Unidos.

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As respostas da China até agora não frustraram a ofensiva comercial de Trump e com a Casa Branca intensificando a disputa  os líderes chineses não sabem ao certo como reagir, afirmam especialistas a par das discussões sobre as políticas a serem adotadas no âmbito econômico.

As autoridades chinesas no geral estão confusas, afirmou Raúl Hinojosa-Ojeda, especialista em comércio na Universidade da Califórnia, Los Angeles, que viajou à China onde conversou com autoridades, empresários e trabalhadores.

"Eles não sabem o que fazer. Estão preocupados de que a tática de responder na mesma moeda só vai beneficiar Trump", afirmou.

A China não importa o suficiente dos Estados Unidos para taxar US$ 200 bilhões em produtos americanos - sem falar nos US$ 267 bilhões adicionais de produtos chineses que Trump vem ameaçando tarifar. Mas os líderes chineses acham que não podem recuar. Eles consideram a guerra comercial parte de uma tentativa mais ampla dos Estados Unidos para refrear a ascensão chinesa. Trump já afirmou isto e repetiu em uma coletiva de imprensa na terça-feira.

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"A China está se aproveitando dos Estados Unidos há muito tempo e isso não vai ocorrer mais", afirmou.

A sociedade chinesa pode entender qualquer esforço para reduzir as tensões como uma capitulação. Alguns mais radicais desejam que o país adote uma posição mais agressiva. Lou Jiwei, que se aposentou como ministro das Finanças em 2016,  mas ainda dirige o fundo de segurança social do país, sugeriu no domingo que a China deveria deliberadamente obstruir as cadeias de suprimento das companhias americanas suspendendo a exportação de componentes cruciais fabricados na maior parte na China.

Mas especialistas em comércio chineses descartam a idéia, considerando-a impraticável e não corresponde à posição do governo. As autoridades do país sabem o que não querem fazer. E rejeitaram uma idéia de substituir a imposição de tarifas a título de retaliação por um sistema mais sofisticado, de acordo com pessoas próximas das discussões a respeito.

Essa resposta, discutida em detalhes dentro do ministério do Comércio e outras agências - implicaria uma redução das tarifas cobradas sobre produtos americanos em termos de dólar, o que poderia ser visto como uma cortina de fumaça para a Casa Branca. Esta abordagem foi entendida como uma nova realidade potencialmente dispendiosa para Pequim: as tarifas estão aí para ficar, os níveis de aprovação de Trump estão caindo e ele pode perder influência nas eleições para o Congresso em novembro. Os democratas têm se oposto à maior parte do seu programa de governo, mas muitos apoiaram seus ataques ao intercâmbio comercial com a China.

Mesmo que Trump deixe o governo dentro de dois anos, não há garantias de que as políticas comerciais com relação à China serão mudadas. Em Pequim, os proponentes de uma redução em termos de dólar das tarifas impostas pela China para refletir o desequilíbrio comercial entre os dois países, afirmam que os líderes chineses deveriam refletir sobre a idéia porque é um meio de conter os danos e aliviar as tensões.

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Os líderes da China "não querem se envolver numa retaliação tipo dólar por dólar",  afirmou Yu Yongding, influente economista da Academia Chinesa de Ciências Sociais. "Seu objetivo é pôr fim a esta guerra comercial" 

Outras opções são limitadas

Empresas americanas que dependem da China podem ser punidas. As autoridades antitruste já enterraram a proposta da Qualcomm, empresa de semicondutores,  de compra de uma fabricante de chips holandesa por US$ 44 bilhões. E os chineses também prometeram comprar soja de outros países, mas substituir o colossal fornecimento americano será difícil.

Outras medidas adotadas serviram como alerta, como os atrasos nos portos chineses. Os carros Lincoln da Ford Motor e outros produtos às vezes foram objeto de inspeções prolongadas neste verão, mas ao que parece os atrasos não causaram muito dano financeiro.

"É certo que a China encontrará outra via de retaliação, invisível, contra os Estados Unidos", afirmou Mei Xinyu, pesquisador na academia de políticas de treinamento e pesquisa do ministério do Comércio.

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Mas medidas mais drásticas, como o fechamento de fábricas ou incentivar boicotes de produtos americanos pelo consumidor chinês podem custar empregos. E também prejudicar permanentemente a reputação da China como um lugar bom para fazer negócios e só iriam acelerar os planos de busca de outros países. "É difícil criar uma reputação e é fácil perdê-la", disse Mei.

A China pode também desvalorizar sua moeda frente ao dólar. Ela já reduziu um pouco o valor do Yuan, tornando os produtos chineses mais baratos nos Estados Unidos e compensando em parte as tarifas impostas. Mas o Yuan mais barato torna as importações chinesas mais caras, acarretando um  risco de inflação e levando a uma fuga de capital do país potencialmente nefasta. E ainda provocar novas retaliações da parte dos Estados Unidos. / Tradução de Terezinha Martino

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