Dynho e Sthe são vítimas do julgamento hipócrita do público

Ex-peões pagam preço alto por sentir afeto um pelo outro em um reality marcado pelo prazer do ‘cancelamento’

15 dez 2021 - 10h01
Dynho e Sthe não escaparam da arena de leões da internet
Dynho e Sthe não escaparam da arena de leões da internet
Foto: Fotomontagem: Blog Sala de TV

A partir de certo momento de A FazendaDynho e Sthe deixaram de ser analisados pela estratégia de jogo, as atitudes e o carisma. Foram colocados no banco dos réus do implacável tribunal da internet para serem julgados por um crime retirado do Código Penal em 2005. Infração esta que, no Brasil colonial, previa a pena de morte aos envolvidos. Sim, o adultério.

No caso, um delito sequer consumado. Não houve sexo, aliás, nem beijo na boca. Os telespectadores viram transgressão em abraços, carícias, olhares, sorrisos, mãos dadas, ficar de conchinha na cama, enfim, na companhia. Houve forte ligação entre os dois. “Amo em ti algo mais que tu”, definiu o psicanalista francês Jacques Lacan.  Comprometidos fora do programa, acabaram julgados sumariamente por traição.

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O encantamento entre Dynho e Sthe custou vaga na final, o ‘cancelamento’ nas redes sociais e o fim do relacionamento mantido antes de entrar no reality show. Como se sabe, a mulher do funkeiro, MC Mirella, pediu o divórcio. O noivo da influencer, Victor Igoh, anunciou o rompimento do compromisso. Já vimos essa história antes – lembra-se de Pyong e Sammy? – e sempre existe chance de reconciliação.

A imprensa de entretenimento e boa parte do público vibrou com a desgraça amorosa dos peões. Afinal, não conseguimos disfarçar nosso sadismo diante da infelicidade alheia. Ficamos mais empolgados com brigas e separações do que ao saber de romances e declarações de amor.

Há prazer em testemunhar o fracasso afetivo de celebridades – ver desmoronar a ‘vida perfeita’, a qual tanto invejamos, de quem tem fama, sucesso, dinheiro e status. É mais fácil apontar o dedo a fim de pedir o linchamento público do que tentar entender por que eles ficaram tão próximos.

Carência? Identificação? Proteção mútua? Talvez a gênese de uma paixão proibida? Enamorados ou não, eles formaram o ‘casal’ mais fofo da edição. Um toque de sensibilidade em um ambiente tão falso e tóxico.

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Qualquer pessoa em um relacionamento (monogâmico ou aberto) está suscetível a, de repente, sentir algo especial por alguém de fora. O dogma da fidelidade, baseado na falácia do interesse exclusivo, não manda no coração e no cérebro, só na moralidade.

Não se trata, aqui, de defender quem trai tampouco minimizar a dor de quem se vê apunhalado, e sim de reconhecer que um sentimento pode surgir alheio à nossa vontade. Principalmente sob circunstância atípica, como no confinamento longo em uma atração de TV. Bem-vindo ao mundo dos adultos.

Indolente, o público não quer pensar a respeito – e a edição desse tipo de programa jamais se preocupa em despertar reflexão. Melhor rotular Dynho e Sthe de imorais e vilões. Pronto, as duas ‘plantas’ infiéis foram punidas. Viva o peculiar senso de retidão do brasileiro médio.

O telespectador que tanto julgou o afeto de Dynho e Sthe talvez tenha tido uma noite agradável de sono após se sentir vingado com a expulsão da dupla. Ao acordar, provavelmente percebeu que a derrota alheia não melhorou sua vida banal.

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