Clooney de novo filme: É 'O Regresso' e 'Gravidade' juntos

'O Céu da Meia-Noite', adaptação do aclamado romance de Lily Brooks-Dalton 'Good Morning, Midnight', estreia em 23 de dezembro na Netflix

10 dez 2020 - 14h14
(atualizado às 15h54)

Um filme grandioso e visualmente magnífico. O Céu da Meia-Noite, longa dirigido e protagonizado por George Clooney, se passa em um mundo pós-apocalíptico. Como Augustine, um cientista isolado no Ártico, ele tem como objetivo avisar a nave espacial Aether sobre a impossibilidade do seu retorno seguro para a Terra, que após uma catástrofe encontra-se inabitável. "Foi como se a gente fizesse O Regresso na primeira metade, e depois fazer Gravidade, na segunda metade", avalia o astro sobre a experiência, durante coletiva de imprensa mundial. Gravado parcialmente na Finlândia e em Shepperton, com dois elencos principais, assistir ao longa que é uma adaptação do adaptação do aclamado romance de Lily Brooks-Dalton Good Morning, Midnight, oferece realmente a experiência de prestigiar dois projetos distintos, conectados ainda mais pela reviravolta do fim do filme.

George Clooney como o Dr Augustine Lofthouse em cena gravada na Finlândia
George Clooney como o Dr Augustine Lofthouse em cena gravada na Finlândia
Foto: Netflix / Divulgação

E por ironia do destino, ou pura sorte (ou azar) da urgência do nosso tempo, o ano de 2020 deu outra camada de significado para o projeto. "Quando eu falei com a Netflix sobre [o filme], eu falei sobre toda a raiva, sobre todo o ódio e tudo o que tem acontecido nas nossas vidas. Não só nos Estados Unidos, mas ao redor do mundo todo. E como se isso se mantivesse por 30 anos, não é inconcebível que a gente poderia, de um jeito ou de outro, se a gente negar a ciência, não é inconcebível que isso aconteça conosco", conta Clooney, " E então, logo após a gente terminar as gravações, veio a pandemia, e se tornou claro que o que a história realmente estava se desenvolvendo". "Nós pensamos que estávamos fazendo entretenimento, e acabamos fazendo um documentário", finaliza Felicity Jones

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Não pense, porém, que o longa traz somente uma mensagem desoladora de um futuro distópico para a humanidade. Outra coincidência interessante fez parte do projeto de Clooney para a Netflix. A atriz Felicity Jones, que dá vida a uma das tripulantes da nave Aether, descobriu que estava grávida um pouco antes de começar as gravações. "Estava muito preocupada com a possibilidade de ser demitida", brinca a intérprete de Sully. Mas George resolveu adaptar o roteiro e incluiu a gravidez de Jones na história. Um marco, na verdade. Quantas astronautas grávidas você já assistiu em filmes do gênero? O resultado deu um toque de esperança para a história e cenas divertidas de se acompanhar no filme. "A cena do ultrassom com a Tiffany, na minha opinião é uma cena maravilhosa", avalia Clooney

George Clooney (“Augustine”) e a estreante Caoilinn Springall (“Iris”)
Foto: Divulgação

Para falar sobre os bastidores do longa, George Clooney (Augustine), Felicity Jones (Sully), David Oyelowo (Harper), Demián Bichir (Sanchez), Kyle Chandler (Mitchell), Tiffany Boone (Maya) e a estreante Caoilinn Springall (Iris) receberam virtualmente 175 jornalistas de todo mundo. A atriz mirim, aliás, merece também destaque. Para dar vida à Iris, ela teve que mostrar todo o seu talento sem poder falar uma palavra. Mas seus olhos cativantes deram conta do recado. Confira a seguir mais detalhes sobre os bastidores do longa no bate-papo virtual com todo o elenco de O Céu da Meia-Noite, que estreia em 23/12 na Netflix:

Nós já vimos tanto filmes ótimos com a temática espacial ao longo dos anos, alguns de vocês já estiverem neles, inclusive.  Mas este tem temas nele que eu não acho que eu tenha visto em filmes do gênero. Então George, o que você quis adicionar ao gênero com este filme?

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George Clooney: Bom, eu acho que quando a gente começou a falar sobre o filme pela primeira vez, a gente quis falar sobre o que o homem era capaz de fazer com os homens e com a humanidade. E a gente pensou, quando eu falei com a Netflix sobre isso, eu falei sobre toda a raiva, sobre todo o ódio e todo o que tem acontecido nas nossas vidas, não só nos Estados Unidos, mas ao redor do mundo todo, e como se isso se mantivesse por 30 anos, não é inconcebível que a gente poderia, de um jeito ou de outro, se você negar a ciência e o clima, não é inconcebível que isso aconteça conosco. Para mim, a ideia foi ter essa conversa sobre o que a gente é capaz de fazer. E então, logo após a gente terminar as gravações, veio a pandemia, e se tornou claro que o que a história realmente estava se desenvolvendo, era o nosso desejo urgente de estar em casa, o nosso desejo urgente de se estar perto das pessoas que a gente ama, e conversando, se comunicando com as pessoas que a gente ama, e perto deles, e como é difícil essa luta para se comunicar. Como nós estamos fazendo agora, por exemplo, na mais estranha coletiva de imprensa em que eu já estive. Então essa era a ideia, a ideia de que esses temas, esses tópicos, infelizmente são relevantes, ninguém contava com eles. 

Com o que você estava animada, do ponto de vista do seu personagem, com como esse filme transforma um pouco o gênero espacial no cinema? 

Felicity: O que eu sempre amei no filme, e lendo o roteiro, foi que tinha tanto um nível macro de ser um longa sobre tópicos muito importantes, que indagava questões existenciais, sobre o significado da vida, sobre o que nós estamos fazendo aqui, por que estamos aqui, o que nós valorizamos. E o interessante é que essas são todas as perguntas que nós estamos nos perguntando neste momento em que estamos agora. E ao mesmo tempo, também foi um filme sobre um drama de relacionamento muito íntimo, sobre tentar construir uma conexão, também é sobre família, sobre ser um pai. O fato que ele fez esse caminho das grandes questões para as questões menores, e fez tão bem, foi provavelmente o motivo que me fez querer fazer parte disso. E também é um filme que entretém, um filme de ação. E foi realmente extraordinário como ele se tornou relevante, obviamente, na situação em que nos encontramos agora. Nós pensamos que estávamos fazendo entretenimento, e acabamos fazendo um documentário. 

George Clooney em bastidores de 'O Céu da Meia-Noite' com David Oyelowo e Tiffany Boone
Foto: Philippe Antonello / Divulgação

Para filmes como esse, a atuação de vocês pode parecer processual, especialmente se você tem que falar jargões técnicos. Como vocês dois trabalharam com o George para desenvolver essas camadas adicionais para as performances de vocês?

David Oyelowo: O George foi ótimo em nos guiar nisso. Ele sempre falava sobre as experiências dele no ER, e todos aqueles jargões que ele tinha que falar, e como, basicamente, era aprenda da melhor forma que você puder, e diga o mais rápido que você puder era o segredo. Porque se você sabe, ou parece saber do que você está falando, então o público acredita que você sabe do que você está falando. E então o público vai prestar atenção no que o personagem está sentindo. A gente não queria ficar preso nas terminologias, a gente queria prestar atenção nas emoções. E, claro, as emoções pelas quais estamos passando neste filme são tão grandes quanto poderiam ser. 

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Kyle Chandler: O George espera que nós cheguemos com 110% de nós mesmos no set de gravação. E ao mesmo tempo ele tem um jeito próprio de coordenar, ele é tranquilo, ele deixa todo mundo tranquilo e todos têm uma experiência agradável no trabalho. E todos entendem que estão fazendo algo importante. Quando você está trabalhando com o George, ele não só te ouve, ele te escuta. Ele é colaborativo. Com isso, todos têm um senso de propriedade com o trabalhado que estão comprometidos a fazer. E isso é muito importante em um trabalho como esse. E isso deixa tudo mais fácil. E, claro, ele sabe o que ele quer. 

O filme tem dois arcos narrativos diferentes e porque há muitos efeitos visuais, tem muita coisa do filme que vocês não puderam ver até ele ser finalizado. Quando vocês viram o resultado final do trabalho de vocês, o que mais surpreendeu vocês? 

Demián Bichir: Acho que é um filme lindo. Claro que todas as coisas que nós tivemos que imaginar enquanto nós estávamos gravando, os hologramas das pessoas com quem nós estávamos conversando, isso sempre é interessante. E a produção do filme era incrível. Por muitos momentos a gente conseguia ver o que seria mostrado no longa. Então nem sempre era um fundo verde com que a gente tinha que trabalhar. Nós realmente vimos o nosso planeta, o que o nosso planeta se tornou. E foi realmente muito emocionante quando nós gravação aquela sequência. Foi muito bonito. 

Tiffany Boone: Olhando para o que o George Clooney e a Caoilinn tiveram que enfrentar na Finlândia, eu me senti muito sortuda. Eu ouvi as histórias sobre o frio, a neve na barba e tudo isso. Mas até ver realmente como foi, eles foram muito parceiros. E eu senti que eu fui muito sortuda de ter ficado em um cenário quentinho. E como o Demián disse, nós fomos muito sortudos com a produção também. Para as cenas em que tínhamos que usar a imaginação, a gente não olhava para o nada. E poder ver o resultado final, é tão bonito, ele ficou muito próximo do que eu imaginei, e as vezes até superou minha imaginação. 

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Caoilinn Springall: Bem, eu amei as partes do espaço e eu realmente fiquei muito impressionada com os efeitos visuais no espaço, todos aqueles asteroides em direção à espaço nave, eu realmente amei essa parte. 

Apesar do fato de falar sobre o apocalipse, o filme, de alguma forma, ainda oferece esperança. Como você fez para chegar a isso?

George: Acho que o principal objetivo disso... houve algo interessante que aconteceu no meio do caminho. Nós estávamos gravando já há 3 meses na Finlândia, e nós gravamos Finlândia primeiro, e eu recebi uma ligação da Felicity (Jones) para me contar que ela estava grávida. Olha... e eu reagi dessa maneira: Parabéns! Estamos muito felizes e animados por você. E então teve essa pausa longa. E então eu perguntei pra ela: o que você quer fazer? E ela me disse que queria continuar no filme, ela contratou um treinador, e fez todos esses treinos em fios. E nós tentamos algumas coisas, tentamos negar por um momento, tentar fingir que não aconteceu, para o personagem. E então a gente gravava ao redor dela, e gravando as coisas três vezes, nós até pensamos em fazer cortes e substituir a cabeça. E então a gente só chegou à conclusão de que as melhores versões das coisas é só quando você aceita o que acontece, e não os vê como problemas. E uma vez que a gente decidiu, sabe? Bom, as pessoas ficam grávidas, isso acontece. E então, de repente, Willburn, o filho da Felicity, que, aliás, ganhou um crédito também no filme. "Introducing Willburn'. Ele se tornou  um personagem para gente. A tripulação da espaço nave, todos esses cinco atores maravilhosos, se uniram para protegê-la. Eles se tornaram uma família. Então a gente conseguiu gravar cenas em que eles estão escolhendo nomes para a criança, ou então fazer o ultrassom com a Tiffany, que na minha opinião é uma cena maravilhosa. Eles estão esperando por qualquer comunicação, qualquer ruído que seja, e o único sinal de vida que eles têm, vem de dentro da Felicity. Para mim, isso se tornou infinitamente mais esperançoso. Houve uma briga real sobre essa ideia da humanidade valer esse esforço. E quando você vê aquilo, você sente que é, sim. E se você terminar o filme sem assistir aos cinco minutos finais, é um filme sobre arrependimento. Por causa do personagem que eu interpreto. Mas ele tem a sua redenção. Acho que a redenção é algo muito importante, que passa por todos nós, e nós dá esperança. Então eu acho um filme que realmente oferece muita esperança. E nós nos sentimos que tudo que a Felicity estava passando, era a nossa responsabilidade também. Nós queríamos ter certeza de que ela estava bem. Isso uniu todo mundo. 

Gravidez de Felicity Jones foi incorporado ao roteiro do filme
Foto: Netflix / Divulgação

Como a sua gravidez te ajudou a chegar nesse personagem? E também quanto medo você sentiu, se você sentiu, ao dar aquele telefonema para o George, contando sobre a sua gravidez? 

Felicity: Bom, no começo eu estava muito preocupada com a possibilidade de ser demitida. Então foi realmente um alívio quando George me fez sentir completamente confortável por todo o processo. E eu tenho que agradecê-lo porque, no começo, quando nós estávamos tentando parecer que eu não estava grávida, eu estava me negando muitos bolos de chocolate. Então quando ele disse que eu poderia parecer grávida no filme. Eu fiquei muito aliviada...

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George: As rodas saíram... 

Felicity: Exatamente! Graças a Deus! Foi um processo muito instintivo e especial. E como o George estava falando, foi um testamento do comprometimento dele em abraçar o processo, de abraçar a verdade do que estava acontecendo, em vez de tentar fugir de algo. Nós já vimos personagens grávidas nos filmes, mas é ainda muito revolucionário retratar uma mulher grávida no espaço. É realmente extraordinário. 

O nome do seu personagem tem um significado muito especial para você. Você poderia explicar o motivo? 

David Oyelowo: Enquanto George e eu estávamos conversando sobre essa tripulação e sobre o que eles teriam de fazer, as tarefas que eles estariam encarregados, mesmo antes de nós descobrirmos no filme como as coisas na Terra estavam ruins, nós, como um grupo de cinco pessoas, recebemos a tarefa de encontrar um planeta em que a humanidade poderia colonizar, porque nós arruinamos a Terra. Então, de muitas formas, essas cinco pessoas foram enviadas para uma missão para salvar o mundo. Eu acho que, originalmente, o nome do meu personagem era Harper, como é escrito no livro. E eu estava pensando no fato de que isso se passa em algumas décadas no futuro. Eu percebi que eu nunca tinha visto um astronauta africano em um filme como esse. E eu amei o fato de que entre nós, os astronautas, havia certa diversidade. E eu, como uma pessoa muito orgulhosa da minha descendência africana, em uma tripulação com a tarefa de salvar o mundo, deveria ter um africano entre eles. Então eu perguntei ao George se ele estaria aberto a possibilidade de eu trocar o nome. E nós trocamos. Nós trocamos para Adewole, que é um nome de uma tribo que eu sou na Nigéria, a tribo Yoruba, e vai soar como algo cheio de si, mas o nome significa " o rei entrou na casa". E eu contei isso para o George e ele disse, bom, isso tem que entrar no filme. Então foi assim que aconteceu. Então, eu não só estou muito agradecido por causa disso, mas milhares de africanos vão ficar também muito felizes em ver esse tipo de representatividade no filme. 

George: A gente quase deu o nome do filme para O Rei está na casa. 

David: (risos) Também não vamos exagerar, George. 

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O seu personagem acaba colocando o compromisso dele com a família por cima das outras obrigações dele. Quanto você consegue se relacionar com essa característica do personagem?

Kyle Chandler: Imensamente. Eu sou pai e sou marido. A promessa dele para a mulher, de que ele voltaria para casa, isso ficou comigo. E eu também tentei propor uma sensação de que o oxigênio da nave, no caminho de volta, ele foi respirado tantas vezes que pouco a pouco tinha cada vez e cada vez menos. Quando a decisão de voltar para casa, foi uma necessidade de manter aquela promessa. Então foi como isso desenvolveu. Mas sim, eu consigo me relacionar com isso completamente. No fim das filmagens, nós todos voltamos para as nossas famílias. 

George: O Kyle mudou a fala dele consideravelmente. Foi ele que escreveu tudo aquilo. E foi lindo. 

Como foi ter que atuar sem poder falar nada? Você é geralmente uma pessoa tímida? Ou foi difícil não falar? 

Caoilinn Springall: Na verdade foi um pouco difícil falar só através das emoções. E é realmente muito difícil interpretar essas emoções quando você está sozinha. Eu tive dificuldades, mas eu acho que eu consegui chegar no resultado que eu queria. E eu sou uma pessoa bem tagarela. 

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George: Deixa eu só falar uma coisa. Ela coloca todos nós no sapato. Eu falei para os outros atores, eu falava pra eles que todas as cenas que eu fiz com a Caoillinn, só foi preciso gravar uma vez. Foi só o que a gente precisou. Caoillinn foi espetacular. Com ela tudo que eu precisava fazer é falar: me mostre a sua cara de medo, a sua cara triste. Ela fazia uma vez e ficava perfeito. Ela fazia tudo parecer tão fácil. 

Você ficou orgulhosa do resultado do seu trabalho?

Caoillinn: Talvez um pouco. 

Kyle Chandler como Mitchell
Foto: Philippe Antonello/NETFLIX ©2020 / Divulgação

Vamos tentar evitar os spoilers. Mas há uma cena com uma linda reflexão do seu personagem sobre o uso do tempo. O que você acha disso agora, depois do filme, e se aproximando também do fim de 2020, o que você acha do tempo e como nós cuidamos dele? 

Demián Bichir: Esse é um dos meus momentos favoritos no filme. Essa foi, sem dúvida alguma, uma grande chance para todos nós recordar. É como se a mãe natureza tivesse conversando com a gente. "Vá para o seu quarto e não saia até você pensar no que você fez". Então acho que essa é uma das ligações que eu senti muito próximo do personagem. Porque Sanchez é um homem sozinho e ele não tem nada a perder. E é por isso que ele está lá. Mas ainda assim ele tem esperança. E para mim, todo esse tempo sozinho, foi uma experiência fantástica. E poder fazer esse filme com essa família incrível. Isso é o que é importante para a minha vida. Sou muito agradecido por isso. 

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A cena com o sangue flutuante é uma das melhores do ano. Realmente extraordinário e aterrorizante. Como foi gravar aquela cena? O que realmente estava lá e o que você teve que imaginar? 

Tiffany Boone: Não tinha sangue na cena. Não tinha nada lá. Todos nós tivemos que imaginar como o sangue seria, desde a primeira gota. E levou um tempo para se certificar do que eu estava olhando para a posição exata da primeira gota de sangue. Mas todos nós tivemos que imaginar aquele sangue. Então poder assistir a versão final, foi incrível. Não sei se foi igual para todo mundo, mas foi o que eu imaginei que seria. A equipe de efeitos especiais fez um trabalho incrível. 

George: Acho que a gente precisa entender um pouco do que a Tiffany teve que fazer. Basicamente, eu cheguei nas pessoas de efeitos especiais e disse: eu quero esse sangue seja como um ballet. Todos tiveram que lidar com aquela cena, sem ver nada. Até eu mesmo, de certa forma, porque eu sabia o que eu queria, mas eu não sabia se o resultado final seria aquele. E para a Tiffany, em especial, foi mais difícil. Era o sangue dela que ela estava vendo. E para um ator, isso é algo muito difícil de se fazer. É um momento muito íntimo. É ver como as pessoas lidam com a vida e com a morte. E pedir para que as pessoas façam isso baseados somente na sua imaginação, sem nenhuma ajuda de ninguém de nós, ela teve que criar essa energia toda. E todos foram maravilhosos nessa sequência. Mas foi a Tiffany que comandou. Eu olho para aquela cena e eu não gostaria de ter que fazê-la. 

Você gravou esse filme parcialmente na Finlândia, e parcialmente em Shepperton, como foi passar por essa experiência? 

George: Nós estávamos gravando dois filmes completamente diferentes, se eu for dizer a verdade. Na primeira metade, eu não pude ver as pessoas. Eles estavam treinando, aprendendo como ficar pendurados em fios. E nós estávamos na Finlândia e depois voltamos para os estúdios, para gravar... era só a Caoillinn e eu até o final do ano. Nós começamos em outubro de 2019 e gravamos até o Natal. E depois durante o feriado de Natal a gente acabou de construir a espaço nave, e o restante do elenco chegou para gravar, então foi como se a gente estivesse fazendo um filme diferente. Foi como se a gente fizesse O Regresso na primeira metade, e depois fazer Gravidade, na segunda metade. De uma forma, até ajuda. Se você faz a sua lição de casa e está preparado, então, pelo menos você não fica indo e voltando com a logística da produção. E isso seria muito mais difícil de se fazer. Eu edito enquanto eu gravo, então nós sabíamos onde estávamos e não tivemos que voltar e regravar nada. E ainda bem, porque nós terminamos no fim de fevereiro de 2020 e então veio a pandemia, e tudo fechou. Lembro de voltar para casa, em Los Angeles, e o meu parceiro produtor por 40 anos, nós voltamos e vimos que a situação com o novo coronavírus era realmente muito real. Nós estamos já no quarto de edição, e as pessoas diziam para a gente não se preocupar, porque só afetava pessoas idosas. Não foi animador para mim.

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Sem muitos spoilers, a última conversa que a Sully tem com o Augustine. O que você acha que aquela conversa significou para ela? 

Felicity: Eu acho que é um momento incrível, importante. Acho que ela... eu não quero revelar muito, mas eu acho que ela um sentido, lá no fundo, uma necessidade de precisar procurar aquela pessoa. E também há um sentido de que algo na vida dela, depois daquilo, se tornou completo. Eu senti que foi um momento muito profundo pra ela. E foi uma parte muito importante para o filme é que a dinâmica entre Augustine e Sully, e a descoberta daquele relacionamento, a revelação de que nós temos no fim, é bastante tocante. 

Você obviamente já fez filmes dentro desse gênero antes. O que te deixou mais animado nesse projeto?

Demián Bichir: Por muitos motivos diferentes. Primeiro, se o George Clooney liga para você, você tem que ir. Não importa se seja para um jogo de basquete, ou para pular de uma ponte. Foi uma resposta imediata. E, claro, todos os nomes envolvidos no projeto. É o que nós atores procuramos, sempre. E você também não encontra muitos roteiros no meio, na indústria, onde um mexicano faz um astrodinamicista. Entende o que eu quero dizer? Então só por esse fato, era algo incrível. E se você for reparar, a equipe da espaçonave, nós somos um número pequeno de pessoas, a tripulação. E nós acabamos representando a humanidade. E acho que isso, no fim, é o que ajuda a dar esperança também. E com aquelas três pessoas lindas prontos para começar de novo. 

George Clooney: Aquela cena final, o que a faz tão interessante é que tem o David e a Felicity, e tem o momento em que eles precisam decidir o que fazer, porque eles estão no comando. Mas também há um momento em que eles percebem que precisar fazer algo. E quando a Felicity fica de pé, e ela está claramente grávida, ela coloca a mão nas costas... você tem um sentido de continuidade, de que tudo vai ficar ok. A gente pode não sair daquela situação, com todo mundo vivo, mas saímos intactos. E eu acho que isso é o que dá esperança para o filme. 

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Caoillinn quando você pensa em toda a experiência de ter feito esse filme, o que foi a melhor parte para você?

Caoillinn: As cenas com a comida, com a ervilha. Eu comi de verdade.  

George: As cenas com as ervilhas foram ótimas. Eu tentei explicar pra ela um truque de atuação que é se você começa a comer agora, você vai comer muito. Mas ela não ligou. 

Que tipo de treinamento vocês tiveram que fazer para poderem interpretar um astronauta?

David: Eu recebi a mensagem falando da necessidade de ter um núcleo forte, para que a gente pudesse fazer as cenas. Então os treinos começaram dois, três meses antes da gente gravar. Claro que antes eu também conversei com o George, já que ele fez Gravidade e Solaris e interpretou um astronauta. George é basicamente, para os filmes de esportes, o que o De Niro representa para os filmes de gângster. Eu tinha que escutá-lo. Então eu segui o conselho. E, olha, a gente precisava mesmo. Porque quando você está sendo suspenso por cabos, que estão em partes do seu corpo que não deveriam aguentar aquele nível de pressão, sabe? Eu fiquei muito feliz por já ter tido os meus quatro filhos quando nós fizemos esse filme. É realmente sobre ter um core forte ao mesmo tempo em que você tem que parecer na tela, e fazer com que as pessoas achem que você está na gravidade zero. E é um esforço enorme que você tem que fazer para parecer que não existe nenhum esforço. Esse é o ponto. Foi humilhante, para começar. Eu passei muito do meu tempo parecendo fraco, de ponta cabeça, pendurado por cabos. Mas nós conseguimos no final. Tiffany e eu nos tornamos amigos de cabo. A Felicity, por causa da gravidez, não fez tantas cenas assim, graças a Deus. 

Tiffany Boone e Demián Bichir se tornaram parceiros de cabos em cenas que simulavam gravidade zero
Foto: Netflix / Divulgação

George: Todos estavam pendurados por cabos conectados em várias partes do corpo deles e a Felicity estava dando pulinhos, simulando a gravidade zero. 

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Tiffany: Eu estou muito mais forte agora, com certeza. Eu me lembro de ler a cena e pensar: Ah! Legal. Uma cena disso, não vai ser tão ruim assim. E eles ainda querem que eu pegue um treinador. Ótimo! E depois no treino, no primeiro dia, eu quase desmaiei. A primeira coisa que fizemos, acho que eles estavam me rodando. E eu só conseguia pensar que eles tinham que me tirar daquela coisa. Mas no fim do treinamento, nós estávamos bem fortes. 

A autora do livro, em que o filme é baseado, ela já assistiu O Céu da Meia Noite? O que ela achou?

George: Sim, ela viu e amou. Ela está no filme. Ela está sentada na plateia na cena quando meu personagem mais novo está dando uma palestra. Aliás, eu escolhi o Ethan Peck para fazer o meu personagem mais novo, porque eu podia escolher como eu me pareceria mais jovem, e ele é muito alto e bonitão. E eu só pensei: #$##$! Eu vou escolher o cara bonitão. Mas, sim, ela viu, ela nos ajudou. E foi divertido porque há uma diferença entre o livro e o roteiro do filme, e ela conseguiu ver o processo de como cada um deles tem o seu lugar. Ela ficou muito feliz com o resultado. Há algumas diferenças, claro, para o filme a gente teve que condensar algumas coisas do livro. Mas ela ficou muito orgulhosa com o filme. 

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Fonte: Redação Terra
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