Morre Lô Borges, o menino prodígio do Clube da Esquina, aos 73 anos

Parceiro de Milton Nascimento em um dos discos mais emblemáticos da música brasileira, Lô Borges foi coautor de canções como 'O Trem Azul' e 'Tudo o que Você Podia Ser'; ele estava internado em Belo Horizonte

3 nov 2025 - 10h25
(atualizado às 11h38)

Cantor e compositor Lô Borges morre aos 73 anos
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Lô Borges morreu aos 73 anos neste domingo, 2. A informação foi confirmada pelo Hospital Unimed - Unidade Contorno, de Belo Horizonte, ao Estadão. Ele estava internado desde 19 de outubro, após uma intoxicação por medicamentos. A causa da morte foi falência múltipla de órgãos, segundo o boletim médico.

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A notícia também foi compartilhada no perfil oficial do cantor por volta de 11h desta segunda, 3. "Ele lutou bravamente por 17 dias, mas agora foi descansar. Sua arte viverá para sempre", diz a mensagem que pede privacidade à família.

Famosos e amigos também se manifestaram nas redes sociais e homenagearam a cantor. Leia aqui.

A trajetória de Lô Borges

Sexto filho do casal Salomão e Maricota Borges, Salomão Borges Filho, o Lô Borges, nasceu predestinado à música. Os pais eram músicos amadores - e a casa cheia de filhos, seriam 11 ao todo, facilitou um ambiente propício a melodias e poesia.

Dentro de casa, Lô se ligaria musicalmente principalmente com seu irmão seis anos mais velho, Márcio Borges, o Marcinho. Quando Lô nasceu, seu irmão, Márcio, com seis anos, pediu à mãe: "Dá esse menino para mim?". Márcio, ou o Marcinho, seria para Lô muito mais que o irmão que o desejou como presente. Os dois estabeleceram um relação duradoura e produziriam obras-primas da música popular brasileira.

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Como não se bastasse uma casa cheia de meninas e meninos querendo fazer música, o casal ganhou um filho postiço, Milton Nascimento, o Bituca, que de vizinho virou presença assídua do apartamento dos Borges, no Edifício Levy, no centro de Belo Horizonte.

O álbum, ignorado na época, mas cultuado até os dias de hoje, ficou conhecido como 'o disco do tênis', em referência à capa, que traz um par de tênis de segunda mão que ele havia ganhado de um primo - embora leve apenas o nome do compositor como título.

Do apavoramento inicial, nasceram 15 canções, entre elas, Você Fica Melhor Assim, com Tavinho Moura, Canção Postal, com Ronaldo Bastos, e Faça Seu Jogo, com Marcinho. Produzido por Milton Miranda, a ficha técnica traz grandes músicos, como Dori Caymmi, Wagner Tiso, Nelson Ângelo, Danilo Caymmi e Robertinho Silva.

Em 2018, Alex Turner, vocalista e guitarrista da banda britânica Arctic Monkeys, citou a faixa Aos Barões, da qual Lô fez a letra e a melodia, como uma das que influenciaram o som de Tranquility Base Hotel & Cassino, álbum que eles lançaram naquele ano.

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Depois da estreia solo, Lô só lançaria outro disco sete anos depois, em 1979. A Via Láctea colocaria o compositor em evidência não apenas pela faixa-título e de Equatorial, mas também pela versão com letra de Clube da Esquina nº2, feita por Márcio Borges a pedido da cantora Nana Caymmi.

Antes, porém, o Clube se reuniu novamente para o álbum Clube da Esquina nº 2, no qual Lô contribuiu com canções como Ruas da Cidade e Pão e Água.

Lô seguiu gravando nos anos 1980. Nessa década, lançou Nuvem Cigana (1982), Sonho Real (1984) e Solo (1987). Em 1996, foi a vez de Meu Filme, que contou com a participação de Caetano Veloso na bossa Sem Não. Também deu sua versão para Te Ver, hit do Skank.

Em 2001, fez uma retrospectiva da carreira ao lançar o álbum Feira Moderna, com regravações de canções como Para Lennon & McCartney, Equatorial, Nuvem Cigana, O Trem Azul, Sonho Real, além da faixa-título.

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Lô se juntou ao também mineiro Samuel Rosa, em 2016, para o álbum Samuel Rosa & Lô Borges - Ao Vivo No Cine Theatro Brasil. Além de novas versões para sucessos de ambos, apresentaram inéditas, entre elas, As Noites e Dupla Chama, e Dois Rios, parceria de ambos com Nando Reis que se tornou sucesso, o primeiro de Lô desde os anos 1980.

Samuel Rosa (D) e Lô Borges fizeram o álbum 'Ao vivo no Cine Theatro Brasil' , em 2016
Samuel Rosa (D) e Lô Borges fizeram o álbum 'Ao vivo no Cine Theatro Brasil' , em 2016
Foto: Hélvio Romero/Estadão / Estadão

Em 2018, em um álbum ao vivo gravado no Circo Voador, no Rio de Janeiro, Lô juntou músicas de 'o disco do tênis' e do Clube da Esquina. A partir de 2019, entrou em um período de grande atividade e lançou um disco por ano com composições inéditas: Rio da Lua (2019), Dínamo (2020), Muito Além do Fim (2021), Chama Viva (2022), Não Me Espere na Estação (2023) e Tobogã (2024). Em 2025, dividiu um disco com Zeca Baleiro, Céu de Giz.

Para Lô, a composição era um "ato cotidiano", como declarou ao Estadão. "A composição é meu alimento espiritual. É o momento em que a vida faz mais sentido para mim. Compor é amar. Se eu não componho, sinto que falta algo", disse, em 2021.

Lô contou que, certa vez ficou um ano sem compor. "Me achava o bom. Achei que quando quisesse, voltaria. Quando quis voltar, foi uma dificuldade. A gente tem que manter a fé cega e a faca amolada".

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Em 2024, ao ser convidado pelo Estadão para falar sobre os 30 anos sem Tom Jobim, que gravou O Trem Azul. Após elogiar o maestro, filosofou: "O tempo é uma abstração da mente."

Em 22 de outubro deste ano, foi anunciada a internação de Lô Borges em um hospital em Belo Horizonte, poucos dias depois da notícia de que Milton Nascimento, um dos seus principais parceiros e incentivadores, estava com demência.

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