Quando encerrou a etapa asiática da turnê que celebra os 20 anos do álbum The Poison (2005), em outubro, o Bullet for My Valentine já estava calçando as meias de Natal. Os planos para os dois meses finais de 2025 eram, basicamente, trabalhar em estúdio no vindouro oitavo álbum de estúdio. No início de novembro, veio o convite para, em três semanas, se juntar ao Limp Bizkit na etapa latino-americana da turnê "Loserville" — mais especificamente na vaga de Yungblud, uma das cinco (!) atrações de abertura (completando a lista com 311, Ecca Vandal, Riff Raff e Slay Squad) e, talvez, a única delas que mobilizaria uma quantidade realmente expressiva de fãs no Brasil.
Por sorte, o quarteto galês de metalcore formado por Matt Tuck (voz e guitarra), Michael "Padge" Paget (guitarra), Jamie Mathias (baixo) e Jason Bowld (bateria) esteve na estrada ao longo de todo o ano. Sequer precisaram ensaiar antes da tour surgida de repente, pois entrosamento não faltava. Foi o que viu o público do Allianz Parque, em São Paulo, na noite do último sábado, 20: uma banda na ponta dos cascos e afiada o bastante para celebrar seu disco de maior sucesso.
The Poison, clássico irrefutável de seu subgênero, é peculiar. Se por um lado o grupo soava pronto para o estrelato naquele período, por outro é nítido que as canções daquele disco gozam de certa falta de maturidade — elemento que pode ter colaborado para o forte apelo do material com o público mais jovem da época. Em relação ao tracklist original, foi tocado quase na íntegra na capital paulista; exceção feita a "Spit You Out", de fora para dar lugar a "Hand of Blood", faixa presente em uma versão alternativa do disco e agora integrada à edição no Spotify. Também houve um acréscimo: na hora do bis, entrou "Waking the Demon", extraída de Scream Aim Fire (2008).
Esse repertório funciona ao vivo em um contexto de "festival"? Não em sua totalidade, e não surpreende, pois apesar da atual tendência da indústria em promover shows e turnês onde um álbum na íntegra é executado, raramente isso rende de forma satisfatória. No caso do BFMV, a apresentação ficou um pouco monocromática musicalmente, com músicas um pouco parecidas entre si — afinal de contas, elas vêm de um mesmo disco, especificamente uma estreia gravada com seus integrantes ainda jovens e sem tanta habilidade para explorar diferentes influências.
Seguir o tracklist fez, por exemplo, que o hit incontestável "Tears Don't Fall" e a também popular balada "All These Things I Hate (Revolve Around Me)" fossem tocadas nas posições 3 e 6 de um repertório de 13 canções. Em função disso, a porção final pré-bis do setlist, com faixas menos conhecidas, deixou a plateia mais dispersa — em especial durante a longa "The End", embora antecedida pela ótima e ligeiramente experimental "Cries in Vain".
Mas talvez só dê para reclamar dessa questão, relativamente minoritária, e dos vocais baixos em comparação ao instrumental. Até "Hand of Blood", a apresentação fluiu muito bem e, em alguns momentos, provocou reações na plateia dignas de uma banda preparada para ocupar grandes palcos. Além disso, a performance do Bullet for My Valentine é tecnicamente impecável. A saber:
- As linhas vocais de Matt Tuck e Jamie Mathias, sendo que este último não participou do álbum originalmente, são executadas de modo muito similar ao disco;
- O trabalho de guitarras de Tuck e Padge se mostra um diferencial para a banda como um todo, já que canções como "Suffocating Under Words of Sorrow (What Can I Do)" e "Hit the Floor" mostram como eles incorporam de modo satisfatório a influência do metal oitentista ao seu metalcore;
- E mesmo com o som do bumbo alto um pouco demais, a bateria de Jason Bowld — outro que não fazia parte do grupo em seu início — é porreta: vai naturalmente do metalcore ao thrash metal clássico com naturalidade, destacando-se na já citada "Hand of Blood" e na grosseira "Room 409".
Dificilmente outra banda aceitaria assumir esta vaga em uma turnê tão em cima da hora e conseguiria oferecer um show tão bom como o Bullet for My Valentine, seja no âmbito técnico ou em engajamento com o público na maior parte do tempo. Isso, em especial, deve ser reconhecido e apreciado. Que possam retornar em breve com próximo álbum, com novidades prometidas em entrevista à Rolling Stone Brasil "entre abril e maio de 2026".
Setlist — Bullet for My Valentine em São Paulo — 20/12/2025
1. Intro pré-gravada: The Poison
2. Her Voice Resides
3. 4 Words (to Choke Upon)
4. Tears Don't Fall
5. Suffocating Under Words of Sorrow (What Can I Do)
6. Hit the Floor
7. All These Things I Hate (Revolve Around Me)
8. Hand of Blood
9. Room 409
10. The Poison
11. 10 Years Today
12. Cries in Vain
13. The End
14. Waking the Demon
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