Músico e compositor australiano, Nick Cave é uma lenda do rock alternativo há mais de quatro décadas. Após liderar a banda The Birthday Party até os anos 80, Cave hoje integra o Nick Cave and the Bad Seeds. Em novembro de 2025, o artista assistiu a um show do Radiohead em Londres, e comparou a experiência a uma "atividade espiritual".
O elogio foi feito em um post do blog The Red Hand Files, que Cave administra desde 2018. Na plataforma, fãs podem enviar perguntas e o australiano seleciona algumas para responder. "Ao longo dos anos, o The Red Hand Files ultrapassou os limites do seu conceito original, tornando-se um exercício peculiar de vulnerabilidade e transparência coletivas" descreve Cave. "Centenas de cartas chegam a cada semana, com uma gama extraordinariamente diversa de perguntas, desde as mais divertidas até as mais profundas, das mais pessoais às completamente malucas. Eu leio todas e me esforço ao máximo para responder a uma pergunta por semana".
Recentemente, quem enviou uma pergunta interessante foi Jordan, fã de Dublin. Ele questionou se Cave gostava de ir a shows de outros artistas. A resposta foi sim, mas não durante suas turnês.
"Quando estou em turnê, a última coisa que quero fazer é ir ao show de outra pessoa", escreveu. "Sinto-me sobrecarregado sonora e emocionalmente, e a experiência ao vivo é simplesmente intensa demais. No entanto, tive alguns meses de folga das turnês, a vida se acalmou e, para minha surpresa, Jordan, senti uma vontade enorme de ir a shows".
Dentre as "noites incríveis" que Cave viveu nos últimos meses, ele destacou os shows de Bob Dylan, Swans, Radiohead, Cameron Winter e Dirty Three. Mas um deles deixou uma marca especial.
"No show do Radiohead na O2 Arena, eu estava sentado no meio de vinte mil pessoas. Por mais estranho que pareça, era a primeira vez que eu estava na plateia de um show tão grande, e fiquei impressionado com a intensidade do amor no ar - pessoas dançando, gritando, chorando, se abraçando, se jogando para todos os lados", relatou.
"Fui impactado pela percepção do quão poderosa é a música ao vivo - que um grupo de indivíduos pode se unir e criar um som único, e que as pessoas podem se conectar com essa visão singular como se fosse a sua própria experiência. Eu pude sentir sua qualidade moral - como essa força singular tem a capacidade de curar o mundo com sua bondade."
O músico continuou sua carta explicando que mantém o hábito de praticar diversas "atividades espirituais" em sua rotina, como nadar, ir à igreja, caminhar na natureza e meditar. Entretanto, nada disso chega aos pés da oportunidade "transcendente" de curtir um show ao vivo. "É uma forma de atividade humana que irradia bondade, permeando a multidão e o mundo como uma força reparadora e cósmica, melhorando as coisas, mantendo o mal à distância", poetiza Cave.
Acredito que o público do Radiohead estava respondendo não apenas à música, que foi impressionante, mas também à coragem dos artistas - a pura audácia de se apresentar diante de uma multidão e entregar suas almas. Como todos os outros presentes, fiquei profundamente comovido e humilde.
O compositor ainda respondeu uma pergunta mais pessoal de Manuela, da Noruega. A admiradora de Cave se apresentou como uma cantora e compositora e pediu a ele conselhos sobre como superar o medo dos palcos.
"Manuela, existe uma voz maligna que todo artista consciente encontra em algum momento da vida. A voz que sussurra: 'Sou bom o suficiente?', 'Mereço estar aqui?' ou 'E se as pessoas me odiarem?' - a voz que pode levar à paralisia. Mas, seja cantor, artista ou qualquer outra coisa, esses são os demônios que todos precisamos enfrentar", compartilhou Cave.
Segundo ele, qualquer risco que decidimos correr ao longo da vida pode atrair o julgamento alheio e instaurar esse "medo do palco", que é "o medo da própria vida". "Mas, se você conseguir reunir a determinação para superar essas vozes internas, Manuela, você pode conquistar qualquer coisa, e o mundo se curvará aos seus pés".
Cave afirmou que essa determinação é o que diferencia o Radiohead, pois o público é capaz de reconhecer que a banda protagoniza "um ato notável de coragem comum, uma forma distintamente humana de heroísmo - a audácia de se colocar diante do mundo e declarar: 'Isto é o que pensamos. Isto é o que sentimos. Isto é quem somos.'"
O Radiohead encerrou sua turnê de retorno pelo Reino Unido e Europa, a primeira em sete anos, nesta terça, 16 de dezembro. O show final aconteceu na Royal Arena, em Copenhague, Dinamarca. "Talvez entender que todos nós travamos batalhas internas possa te ajudar a se sentir menos sozinha e te encorajar a subir naquele palco", concluiu.
Cave, por sua vez, está com a agenda cheia para 2026. O álbum Wild God (2024) foi aclamado pela crítica e consolidou mais uma vez seu status como um dos artistas mais respeitados da música contemporânea.
Ao lado do The Bad Seeds, o músico começa o ano com 10 shows ao lado na Austrália e na Nova Zelândia, entre janeiro e fevereiro. Em junho, a banda inicia turnê pela Europa, incluindo uma apresentação no Open'er Festival, na Polônia. O festival ocorre entre 1 e 4 de julho, e Cave dividirá o palco com Calvin Harris e The xx.
Ingressos para a turnê NICK CAVE AND THE BAD SEEDS LIVE estão disponíveis aqui. Você também pode enviar uma pergunta para Cave através do The Red Hand Files clicando aqui.