O último ato público de Angela Ro Ro foi pedir doações via Pix a fim de custear a internação. “Eu amo a minha vida, eu amo a vida de todos, qualquer valor será bem-vindo.”
Ela nunca mais sairia do hospital. Partiu aos 75 anos nesta segunda-feira, 8 de setembro. Deixa inestimável legado artístico — as músicas de fossa estão na memória de muita gente — e sua morte suscita necessária reflexão.
Por que tantos artistas acabam empobrecidos na velhice?
Alguns, por não saber administrar o que ganharam. Impulsivos, gastaram demais sem pensar no amanhã.
Outros confiaram cegamente em administradores incompetentes ou golpistas. De repente, viram o patrimônio dilapidado.
Há aqueles que efetivamente nunca receberam tanto dinheiro e, na fase de ostracismo, precisaram esgotar as economias.
Envergonhados ou ressentidos, vários deles se esconderam da mídia. Não quiseram a piedade do público. Voltaram a ser notícia somente na morte — ou nem assim.
Artistas de antigamente, que viveram o auge antes dos anos 2000, não eram tão bem-pagos como os de hoje. As principais fontes de renda eram o contrato com a gravadora e os cachês de shows. Valores várias vezes menores do que um cantor mediano cobra atualmente.
Angela Ro Ro fez parte da elite da MPB. Teve músicas em trilhas de novelas da Globo — a exemplo de ‘Mistério’, tocada em ‘Brilhante’ (1981), e ‘Compasso’, ouvida em ‘Um Lugar ao Sol’ (2021) —, mas nunca vendeu discos e CDs em escala comparável a Gal Costa ou Maria Bethânia. O prestígio nem sempre traz junto o reconhecimento financeiro.
Assumidamente boêmia, ela declarou em entrevistas que não era “uma artista comercial” e jamais se preocupou em “juntar dinheiro”. O tempo e a idade cobraram o preço desse estilo de vida libertário.
Merecia um acorde final menos melancólico.