Márcio Garcia se despede de membro da família e psicóloga explica: 'Desorganiza o psiquismo'

Márcio Garcia se despede de seu cão e psicóloga explica por que o luto por animais é profundo, desorganiza emoções e merece acolhimento.

13 dez 2025 - 14h06

Márcio Garcia emocionou seguidores ao publicar um vídeo de despedida para seu cão de estimação. Visivelmente abalado, o apresentador falou sobre a dor da perda e o vazio deixado pelo animal que o acompanhou por anos. A reação tocou o público e reacendeu discussões sobre um luto ainda pouco reconhecido socialmente: o luto pela morte de um animal.

Foto: Mais Novela

Para a psicóloga Leninha Wagner, PhD em neurociências e especialista em neuropsicologia e psicanálise, a dor sentida nesse tipo de perda vai muito além da ausência física do pet.

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O que se perde vai além do animal

Segundo a especialista, o animal ocupa um lugar regulador dentro da vida emocional do tutor. Ele estrutura rotinas, oferece previsibilidade e funciona como uma presença afetiva constante, sem conflito.

"Não é apenas a perda de um corpo amado. É a ruptura de um vínculo que organizava o cotidiano psíquico", explica Leninha.

Na prática, a ausência é sentida nos gestos mais simples: o silêncio da casa, o espaço vazio, o fim de rituais diários. É uma quebra abrupta de algo que sustentava emocionalmente o sujeito.

A psicóloga destaca que os animais devolvem uma forma de afeto sem ambivalência — um amor sem cobrança, julgamento ou exigência. Com a morte, não se perde apenas o vínculo externo, mas também a imagem emocional que o tutor recebia a partir dessa relação.

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"É uma dor dupla: perde-se o outro e perde-se uma parte interna que esse vínculo sustentava."

Por isso, o luto pode ser profundamente desorganizante, afetando autoestima, humor e sensação de segurança emocional.

O corpo sente antes da consciência

Fisicamente, o luto costuma se manifestar rapidamente. O corpo continua "procurando" o animal, mesmo quando a razão já sabe que ele se foi. Leninha explica que há uma interrupção de circuitos emocionais ligados ao contato com o pet — cheiro, toque, resposta afetiva previsível — o que gera uma sensação de esvaziamento emocional e tristeza persistente.

Embora o sofrimento seja esperado, há situações em que o luto se torna adoecido. Entre os sinais de alerta estão culpa excessiva, paralisação da rotina, isolamento e dificuldade extrema de falar sobre a perda.

Nesses casos, segundo a psicóloga, a morte do animal pode funcionar como um gatilho para perdas antigas que nunca foram elaboradas.

Elaborar não é esquecer

A especialista reforça que elaborar o luto não significa "seguir em frente" como se nada tivesse acontecido, mas dar forma simbólica à experiência. Pequenos rituais ajudam nesse processo: escrever uma carta, guardar um objeto, criar um momento de despedida consciente. "Quando a dor encontra linguagem, ela ganha contorno. Falar pacifica."

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Com o tempo, o vínculo deixa de ser uma presença física e passa a existir internamente, como memória e afeto integrado.

Leninha Wagner é enfática ao afirmar que não existe substituição afetiva. Cada animal ocupa um lugar único na história emocional do tutor. Um novo pet só se torna possível quando a dor já não sangra — quando o vínculo anterior pode existir como saudade e não mais como ferida aberta.

A importância do acolhimento

Para quem convive com alguém que perdeu um animal, a orientação é simples: não minimizar. Reconhecer a importância do vínculo é, por si só, um gesto terapêutico. "Dizer 'foi só um animal' fragmenta. Dizer 'esse vínculo foi grande dentro de você' organiza."

O luto pela morte de um pet é a perda de um amor incondicional. Quando elaborado, ele não desaparece, se transforma. O amor permanece, muda de forma e segue como parte da história emocional de quem ficou.

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