Documentário de "Lula" é aclamado no Festival de Cannes e vira ato de apoio ao presidente

Filme retrata trajetória política e pessoal de Lula com foco nas eleições de 2022 e na Operação Lava Jato

19 mai 2024 - 21h41
Foto: Instagram/Oliver Stone / Pipoca Moderna

A estreia do documentário "Lula", dirigido pelo cineasta americano Oliver Stone, no Festival de Cinema de Cannes, transformou-se em um ato de apoio ao presidente brasileiro, com aplausos, vivas e músicas da campanha eleitoral, durante a exibição do neste no domingo (19/5). "Este filme é sobre uma pessoa muito especial", disse Stone antes do início do filme.

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Atenção à América Latina

"Oliver Stone é alguém para quem filmar, colocar uma câmera, são armas e uma forma de reescrever, de visitar a história contemporânea", explicou Thierry Frémaux, diretor geral do festival. Ele destacou a atenção que Stone tem dado à América Latina há décadas, desde filmes como "Salvador: O Martírio de um Povo" (1986).

Apresentado fora da competição, "Lula" aborda rapidamente a infância e a juventude de Luiz Inácio Lula da Silva, focando em seu compromisso sindical e político. Com uma música de suspense, o documentário se aproxima das polêmicas eleições de 2022, demonstrando claramente a predileção de Stone pelo presidente.

Repercussão na exibição

No auditório, vaias e gritos podiam ser ouvidos a cada aparição do ex-presidente Jair Bolsonaro e do ex-juiz Sergio Moro, responsável pela investigação que levou Lula à prisão por 580 dias. O documentário apresenta as acusações de corrupção contra Lula como não comprovadas e analisa a Operação Lava Jato do ponto de vista dos advogados de Lula.

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Produção e narrativa

Stone co-assinou o documentário com Rob Wilson, com quem já colaborou em obras como "JFK". A produção apresenta Lula como um grande estadista, utilizando imagens de arquivo de emissoras e documentários, além do arquivo pessoal do presidente. Embora o filme se concentre no momento de sua prisão, em abril de 2018, até as eleições presidenciais de 2022, ele também explora sua infância pobre, sua trajetória sindicalista, o impeachment de Dilma Rousseff e a ditadura militar no Brasil.

Stone encontra brechas para destacar o envolvimento dos Estados Unidos no golpe de 1964, sugerindo que a prisão de Lula foi articulada com apoio americano. Lula menciona uma "quadrilha internacional com a CIA, o FBI", dedicando muitos minutos à relação entre Brasil e Estados Unidos.

Em sua filmografia prévia, Stone se debruçou sobre teorias conspiratórias para diversos acontecimentos da história americana. Ele volta a dar seu palpite. A movimentação pela prisão de Lula teria apoio americano, defende o filme, que diz que a Casa Branca nunca se recuperou da tentativa frustrada de criar um bloco econômico que unisse as Américas, durante a presidência de George W. Bush.

O documentário lembra ainda que, num curto período de tempo, líderes latinos de esquerda foram depostos, presos ou vencidos, sugerindo que houve algo por trás dessas coincidências.

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São várias as entrevistas que os cineastas tiveram não só com Lula, mas também com Janja, o jornalista Glenn Greenwald, Cristiano Zanin, Valeska Martins e Walter Delgatti Neto, o hacker da Lava-Jato. Este, junto com o jornalista Glenn Greenwald, é tratado como herói, enquanto a grande mídia brasileira é pintada como cúmplice da ascensão da ultradireita no Brasil. Greenwald, porém, tem demonstrado comportamento oposto após sair do Intercept Brasil e atualmente defende teses de bolsonaristas.

Aplausos e vaias

Quando Sergio Moro apareceu na tela pela primeira vez, em imagens de arquivo, o público presente na sessão em Cannes o vaiou, ainda que timidamente. Exclamações de surpresa em idiomas que não o português também podiam ser ouvidas nos trechos de entrevista em que Bolsonaro ataca mulheres e homossexuais ou louva a tortura.

Foram pouco mais de quatro minutos de aplausos, em pé, ao fim do filme, que é encerrado com um samba que vai crescendo ao fundo de um discurso grandioso após a recente vitória eleitoral de Lula, em clima de festa.

Pipoca Moderna
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