Crítica Fúria Primitiva | Um Homem Macaco que tem alma e também coração

Estreia como diretor de Dev Patel vai além da ideia "John Wick indiano" e entrega um ótimo filme de ação, misturado com uma dose de críticas sociais

22 mai 2024 - 23h36
(atualizado em 23/5/2024 às 02h18)

Todo filme de ação em que a pessoa não parece um lutador ou um astro de ação à primeira vista, mas que sai estancando todo mundo na bordoada na primeira oportunidade, vem recebendo a classificação "tipo John Wick". Nesse caso, Fúria Primitiva, filme estrelado e dirigido por Dev Patel (A Lenda do Cavaleiro Verde) pode ser chamado de um longa "tipo John Wick".

Foto: Diamond Films / Canaltech

Porém, com poucos minutos de história, é possível notar que Patel quis ir um pouco além dessa ideia de vingança pela vingança, entregando um longa que mistura pancadaria com críticas relacionadas à sociedade indiana, onde o filme se passa. Com pouco mais de duas horas de duração, é impossível não ficar empolgado com a lenda do Garoto, o Homem Macaco.

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O Homem Macaco já pegou o tom e estourou na escuridão (Imagem: Diamond Films)
Foto: Canaltech

Lá vem o homem macaco correndo atrás de mim

Fúria Primitiva mostra a história de um jovem sem nome, apenas chamado por todos como Garoto. Ele vive em Mumbai, a mais importante cidade da Índia, sobrevivendo como pode, participando de lutas clandestinas em que seu trabalho é sempre apanhar. O uso de uma máscara de macaco deu a ele o personagem de Homem Macaco, onde ele consegue tirar uma grana.

Em paralelo, ele busca informações sobre como entrar no Kings, um hotel de luxo onde apenas a elite do país tem entrada garantida. Aos poucos, o filme vai revelando o motivo por trás da missão do Garoto de se infiltrar a qualquer custo no local. 

Dev Patel interpreta o personagem principal em Fúria Primitiva (Imagem: Diamond Films)
Foto: Canaltech

Um acontecimento do seu passado deixou marcas reais na vida do Garoto, que agora busca vingança contra aqueles que festejam e esbanjam suas riquezas, enquanto boa parte da população vive em completa miséria.

Algo bastante interessante em Fúria Primitiva é a forma como Dev Patel, que além de estrelar e dirigir o filme, também é um de seus roteiristas, é como ele usa a ideia de um filme de ação para colocar um holofote na forma como a sociedade indiana funciona. A Índia nunca está no centro de grandes produções do cinema ocidental, então a escolha de colocar toda a trama no país dá certo frescor à ação.

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O fato de a história abordar essa discrepância da população comum com a elite, misturado com elementos religiosos da região, tornam a experiência de Fúria Primitiva bastante intrigante. 

O contraste entre a população mais pobre e a elite é sentido em Fúria Primitiva (Imagem: Diamond Films)
Foto: Canaltech

Nem tudo são flores, já que os primeiros trinta minutos do filme são difíceis de engolir, talvez por um problema de ritmo e uma fotografia que ainda parece não saber muito bem como mostrar as cenas. Fiquei com a impressão de que Patel tentou fazer algo mais dinâmico no começo do filme, o que o deixou um pouco esquisito.

Porém, quando o filme parece ganhar mais confiança na história que está contando, as coisas engrenam de vez e tudo fica mais emocionante.

Gritando tão alto e querendo me pegar

Algo que me deixou absorvido pela história e a forma como Fúria Primitiva se desenvolve é que o personagem principal, apesar de estar em um filme "tipo John Wick", uma referência que inclusive é feita no próprio longa, não é um exímio lutador.

Ao contrário da franquia estrelada por Keanu Reeves e outros filmes do gênero, o Garoto não é alguém que você pode falar "esse cara sabe lutar". Ele claramente sabe brigar, mas existe uma diferença entre as duas coisas. 

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Aqui ainda é bonito de se ver (Imagem: Diamond Films)
Foto: Canaltech

Durante boa parte das lutas em que ele se mete, é possível sentir um nervosismo, algo que beira o desespero, de alguém que tem noção do que está fazendo, mas não o suficiente para fazer tudo aquilo parecer bonito. É uma briga feia seguida de pancadaria horrorosa, e isso acaba fazendo parte do desenvolvimento do personagem.

Existe um motivo por trás do nervosismo, dessa urgência em cada soco dado e tomado, que inicialmente fará fãs de filmes de ação simplesmente acharem que é tudo coreografado de um jeito feio, até o momento que deixa de ser assim e tudo faz sentido.

É realmente impressionante que Patel, que apesar de sua considerável carreira como ator, está fazendo sua estreia como diretor e consegue trazer até mesmo esse elemento para a maneira que está contando essa história. É o tipo de visão que me deixa curioso para saber do que mais ele é capaz atrás da câmera, mesmo sabendo que ele teve a ajuda na produção de Jordan Peele, de Corra!.

Se esse cara me pega, ele vai me matar

O que me leva a comentar o que Patel faz na frente da câmera. Boa parte do elenco de Fúria Primitiva é formado por atores e atrizes indianos que não são conhecidos no ocidente, mas que fazem um ótimo trabalho em seus papéis. Além de Patel, apenas Sharlto Copley (Distrito 9) pode ser facilmente reconhecido como o responsável pelas lutas clandestinas que o "Homem Macaco" participa.

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Porém, Patel realmente brilha ao contracenar com o ator indiano Vipin Sharma. Sharma interpreta Alpha, líder de Ardhanarishvara, um tempo em que a comunidade hijra vive e que acaba ajudando o Garoto em sua jornada. 

Filme é muito mais que simplesmente pancadaria desenfreada (Imagem: Diamond Films)
Foto: Canaltech

Particularmente, eu não conhecia muito bem a comunidade religiosa, que impõe a emasculação, fazendo com que eles se vistam e se portem como mulheres, considerados por cortes indianas como membros de um terceiro gênero.

A inclusão desse elemento ao filme, até contrastando a pluralidade da Índia e um contraste entre o povo e a elite, me pegou desprevenido, marcando uma virada no filme para mim. É a partir desse encontro que Fúria Primitiva deixou de ser uma boa ideia para se tornar uma excelente produção.

É realmente impressionante ver a transformação do garoto no Homem Macaco, simplesmente descendo a porrada de um jeito bastante violento e empolgante para qualquer fã de ação. Todo o terceiro ato do filme é realmente divertido para quem gosta desses filmes ou até mesmo de cinema como um todo, já que considerando que o longa é uma produção com orçamento modesto, custando US$ 10 milhões, Dev Patel conseguiu fazer milagre.

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Além disso, todo o terceiro ato me fez imaginar como seria o ator em filmes de ação maiores, já que consegue se mostrar bastante convincente na arte da briga no cinema.

Fúria Primitiva estreia nos cinemas de todo o Brasil no dia 23 de maio.

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